Quem apanha não esquece
Geografia

Quem apanha não esquece



O Geografia e tal, através deste que vos escreve, não podia deixar de manifestar sua posição de total repúdio aos atos de extrema violência cometidos contra os professores da rede estadual do Paraná - categoria da qual orgulhosamente faço parte - acontecidos em Curitiba no fatídico dia 29 de abril, data que vai ficar para sempre marcada na história da educação paranaense.

Desde então, esperei que a poeira baixasse um pouco para que minhas palavras não saíssem assim tão tomadas pela emoção. Li, vi, reli e revi muitas coisas sobre o assunto no decorrer desses últimos dias. Análises frias, equilibradas e bem embasadas que demonstravam o mínimo de conhecimento da situação que envolve a nossa realidade, assim como opiniões totalmente infundadas e sem o menor tipo de coerência de quem não tem a mínima noção das verdadeiras intenções de nossas reivindicações.


É verdade que temos recebido inúmeras demonstrações de carinho e de solidariedade da imensa maioria da população paranaense, do mesmo modo que o apoio advindo de outros estados têm sido de vital importância para renovar o nosso ânimo e nos dar a certeza que a nossa luta é necessária, autêntica e justa.

Mas como nem tudo é perfeito, como se não bastasse todo tipo de agressão contra nós praticada pelo governo do estado, é triste perceber o quanto estamos sendo atacados por pessoas de quem no mínimo devíamos esperar algum tipo de gratidão, respeito ou consideração.

Da direita, muitos nos chamam de ingênuos e dizem que servimos de massa de manobra de determinado partido ou entidade de classe; da esquerda, outros tantos, talvez influenciados por um vídeo ou outro que mostra a participação de professores na campanha eleitoral do governador reeleito, acabam generalizando e nos acusam de iludidos, afirmando levianamente que votamos em peso em Beto Richa, o que teria sido determinante na consolidação de sua ampla vitória nas últimas eleições.

Característica de um tempo em que a credibilidade das opiniões carecem de maior profundidade, ainda que muita gente se baseie simplesmente no "ouvi dizer" para adotar uma posição, não se pode deixar de lembrar que o contexto da greve dos educadores do Paraná, que culminou na ocorrência de uma agressão totalmente desproporcional e sem qualquer tipo de justificativa plausível, pode ser entendido através dos seguidos ultrajes a que estamos sendo submetidos por um governo que se diz do diálogo, mas que na prática se mostra arrogante, inacessível e autoritário.


Mais do que a ameaça de perda dos direitos adquiridos no decorrer de anos de luta de toda uma categoria, os cassetetes, as balas de borracha, os spraysde pimenta e as incontáveis bombas lançadas por diferentes mãos atingiram fundo aquilo que temos de mais sagrado: a nossa dignidade.

E se o direito à livre manifestação não tem nenhum valor numa sociedade dita democrática, com que cara entraremos em nossas salas de aula para ensinar a nossos alunos alguns dos valores que deputados e governo tanto teimam em desprezar?


De coração, espero mesmo que tudo isso não tenha sido em vão. Que as marcas do dia 29 de abril de 2015 não sejam apenas lembradas pelas feridas cobertas de sangue de nossos colegas (que provavelmente carregarão as cicatrizes de tamanha covardia por todas suas vidas), mas, principalmente, como um brado forte, um símbolo de resistência de todos nós que temos o magistério por vocação e que realmente acreditamos na educação como instrumento de transformação social.

Por fim, caso você não tenha ainda compreendido a importância do que está acontecendo no Paraná, lembre-se que a maior de todas as nossas aulas está sendo agora ministrada: de forma coletiva e como um belo exemplo de pleno exercício da cidadania para todos os brasileiros.

Não nos esqueçamos disso!






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