Pra começo de conversa, não tenciono ser o porta-voz de nada ou de ninguém. Da mesma forma, sei muito bem que, cada qual com a sua razão, existem inúmeros motivos para se aderir ou não à greve dos profissionais da educação do Paraná a ser iniciada no próximo dia 23.
Poderia também fazer uma lista com as minhas observações pessoais sobre cada um dos itens da pauta de reivindicações para justificar ou questionar a ocorrência do movimento diante das circunstâncias do momento.
Não vou fazer nada disso.
A minha intenção se baseia única e exclusivamente na defesa de dois princípios que considero básicos e essenciais para vida de qualquer indivíduo: a dignidade e o respeito.
Como professor, posso afirmar com conhecimento de causa que a nossa categoria sofre na pele com o descaso dos sucessivos governos. Como não dizer que essa greve é política, como destacam os contrários à paralisação, se cada canetada que afeta diretamente a nossa vida profissional (e até pessoal) passa necessariamente por um decisão política?
Os tempos de hoje são outros e muita coisa mudou, é verdade. Diante do que os nossos colegas enfrentaram em outras épocas, vivemos até uma situação relativamente cômoda e confortável para nos acovardarmos ou fingirmos que nada de mais acontece.
Muitas conquistas obtidas no decorrer dos anos são resultantes da luta desses professores que, literalmente, deram a cara a tapa e enfrentaram ameaças e todo tipo de represália. Tudo isso sem esmorecer ou deixar de acreditar que faziam a coisa certa. Por uma questão de coerência e de princípios, devemos a eles, a nós mesmos e às gerações vindouras a nossa parcela de contribuição.
Só pra reforçar o que estou dizendo, é muito comum reclamarmos sobre aspectos como a desvalorização profissional, a carga pra lá de desgastante de nossa árdua jornada de trabalho, as condições adversas a que somos submetidos e até mesmo a indisciplina tão frequente em nossa rotina escolar, entre outros fatores que tanto gostamos de frisar.
Se nada disso é novidade pra ninguém, muito pior do que cada palavra acima descrita é não perceber que esse batido discurso atende aos interesses de quem nos deseja distantes e enfraquecidos. Em outras palavras, o péssimo hábito que muitos de nós possuímos em nos fazermos de coitadinhos é tão nocivo quanto o peso da falta de respeito ou da culpabilidade que estamos imputando a nós mesmos.
Assim como acontece com outras categorias, nós, professores, carecemos resgatar o nosso sentimento de classe. A nossa imagem serve como exemplo para milhares de crianças e adolescentes. Pode até parecer exagero de minha parte, mas não é. Esses mesmos jovens dos quais cobramos uma postura crítica em relação ao mundo que nos cerca estão observando com atenção sobre como agimos diante de tal situação.
A garotada está saindo às ruas e não devemos nos omitir perante a importância do momento histórico que presenciamos, seja em escala regional, nacional e até mesmo global. Afinal, se o verbo participar combina com alguém, esse alguém não pode ser outro se não o professor.
Somos guerreiros, somos heróis. E, como tais, é chegada a hora de participarmos. Em nome da nobre causa e com as armas que estamos mais do que acostumados a usar: o poder das ideias e a força do argumento.