E lá vem o México!
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E lá vem o México!



País emergente, a retomada do crescimento da economia mexicana  tem empolgado especialistas e analistas financeiros. Enquanto no Brasil se percebe uma retração da atividade industrial, no México, esse fôlego renovado se deve, entre outros fatores, à gradativa recuperação da economia estadunidense e à presença de um representativo parque industrial, que tem a sua produção voltada essencialmente para o exterior, sustentado, principalmente, pelo baixo custo de sua mão de obra.

O texto abaixo reproduzido, publicado no site da BBC Brasil, compara as duas maiores economias latino-americanas, emitindo diferentes opiniões sobre o que se espera de cada uma delas para um futuro próximo.

 Enrique Peña Nieto, o presidente mexicano

Eufóricos com México, analistas apontam vantagens sobre modelo brasileiro

O bom desempenho recente da economia do México tem provocado euforia entre analistas de mercados internacionais, despertando comparações com o modelo brasileiro de crescimento.

Alguns economistas do mercado financeiro acreditam que o modelo adotado pelo Brasil na última década ? fortemente baseado em exportação de commodities ? está chegando perto do seu limite, e que o país terá crescimento mais lento nos próximos anos.

O último boletim Focus ? baseado em consultas do Banco Central a profissionais do mercado financeiro ? projeta que a economia brasileira crescerá 1,62% em 2012, índice inferior aos 2,7% registrados em 2011.

Em contrapartida, o México estaria começando um período de retomada econômica graças ao renascimento de seu setor industrial. Algumas consultorias internacionais preveem que o PIB mexicano, apesar da desaceleração chinesa e da recessão na Europa, pode crescer 4%.

'Estrelas alinhadas'

A corretora japonesa Nomura é uma das maiores entusiastas da ascensão mexicana. Em maio, quatro analistas da Nomura divulgaram uma pesquisa intitulada "América Latina: Uma troca da guarda".

"Na última década, o Brasil foi sem dúvida a macro-história mais brilhante da América Latina, oferecendo a investidores oportunidades amplas. Olhando para o futuro, no entanto, as estrelas parecem cada vez mais alinhadas para um desempenho econômico superior do México", escreviam os analistas.

No mês passado, a Nomura divulgou outro estudo no qual afirma que a economia mexicana ? apesar de ter metade do tamanho da brasileira ? poderá ultrapassar a do Brasil em 2022, se uma série de fatores se confirmarem, como a contínua retomada americana e a desaceleração da economia chinesa.

O estudo lembra que, em 2002, o PIB nominal (que não leva em consideração a inflação) do México era 37% maior do que o do Brasil. Naquela época, o México tinha um setor produtivo considerado mais eficiente e, principalmente, uma moeda mais valorizada do que o real.

"A sorte dos dois países começou a mudar nos anos 2000", escrevem os analistas da corretora. "Para o Brasil, o que mudou o jogo foi a disparada no preço de commodities desde 2003, que reflete o crescimento da China como principal potência econômica. Mas nós acreditamos que os dois países estão na beira de uma nova virada."
A Nomura acredita que o "boom" do preço das commodities está para acabar, com a China diminuindo o seu apetite por matéria-prima, um prenúncio de uma década de crescimento lento para o Brasil. Por outro lado, a economia dos Estados Unidos ? para onde o México exporta 80% da sua pauta comercial ? está retomando seu crescimento.

A Nomura acredita que o crescimento anual do PIB brasileiro se estabilizará em 3% na próxima década, com o México atingindo a média anual de 4,5%. O banco britânico Barclays faz uma projeção semelhante para o México.

Perda chinesa, ganho mexicano

Enquanto o Brasil se especializou em exportações agrícolas, o modelo mexicano é mais parecido com o chinês, com forte exportação industrial ? como eletrônicos e equipamentos de telecomunicações ? e baixos custos trabalhistas.

Na última década, quando a China cresceu com vigor, o México perdeu terreno internacional para produtos chineses mais baratos.

Um estudo publicado na semana passada pelo Barclays estima que o "efeito China" custou ao México US$ 52 bilhões ? ou 2,8% de crescimento do PIB ? entre 2002 e 2006.

Agora, com a China reduzindo seu crescimento de 10% para 7% este ano, o México estaria se beneficiando. O Barclays estima que mudança do ritmo chinês e inovações tecnológicas no México são os principais fator por trás da nova onda de crescimento.

"Desde 2010, isso está se revertendo, na medida em que a economia chinesa está passando por transformações estruturais, enquanto o México ganha competitividade", afirma o estudo do Barclays de autoria do economista mexicano Marco Oviedo.

"Ninguém no mundo está crescendo hoje, mas o México está com taxas perto de 4%. Já o Brasil passa por problemas cíclicos e estruturais, e está procurando caminhos para voltar a crescer", disse Oviedo à BBC Brasil.

Críticas

Mas nem todos compartilham da euforia com o México.

Assim como o crescimento brasileiro precisa do apetite chinês por commodities, a economia mexicana é altamente dependente dos Estados Unidos, cujo ritmo de recuperação ainda é uma incógnita. Em 2009, o pior ano da recessão nos Estados Unidos e no mundo, o PIB mexicano despencou 6%, enquanto o Brasil teve leve contração de 0,3%.

Para Mark Weisbrot, especialista em América Latina do instituto americano Center for Economic and Policy Research, o desempenho superior do México nos últimos dois anos se dá apenas por fatores conjunturais, e não de longo prazo.

"Eu acho que no ano que vem o Brasil já vai retomar o seu crescimento. O país foi mais fortemente afetado pela crise europeia este ano. Já o México é tão ligado à economia americana que não foi tão afetado", disse Weisbrot à BBC Brasil.

"O Brasil está pressionando mais para baixar os seus juros, está dando estímulos para economia diante da desaceleração e não estão esperando uma recessão chegar. Sou muito mais otimista em relação ao Brasil."

Os próprios autores dos estudos mexicanos fazem ressalvas. Berber e Oviedo condicionam o bom crescimento mexicano à aprovação de reformas liberais propostas pelo recém-empossado presidente Enrique Peña Nieto, como flexibilização do mercado de trabalho e do setor de energia.

A discussão sobre os modelos de crescimento de Brasil e México vem acirrando alguns ânimos também nos âmbitos acadêmico e político.

No ano passado, o economista e ex-ministro brasileiro Luiz Carlos Bresser Pereira criticou o modelo mexicano. Para ele, "nada há de mais desgraçado do que virar um México", um país que se tornou "um montador de produtos".

Já o cientista político e ex-ministro mexicano Jorge Castañeda diz que se as tendências atuais se mantiverem, o México mostrará que seu modelo de integração com a América do Norte se provará mais bem-sucedido que o do Brasil.

"Apenas em duas coisas os brasileiros são infinitamente melhores do que nós, os mexicanos: no futebol e em contar vantagem", escreveu Castañeda em um artigo.


Nomura:

  • O Real está 23% valorizado e o peso está 13% desvalorizado, em relação ao "normal". A Nomura prevê que moedas voltarão ao patamar normal.
  • Crescimento brasileiro ficará em torno de 3%; o do México, 4,5%.
  • "Nós acreditamos que é possível para o México ultrapassar o Brasil já em 2022"
Barclays:

  • Depois de décadas perdendo mercado para a China, o México finalmente está aumentando sua produtividade e exportações.
  • 85% das exportações industriais mexicanas são para os EUA, que estão aumentando as compras externas novamente.
  • Custos trabalhistas estão aumentando na China e caindo no México.
  • Maioria dos analistas prevê crescimento do PIB de 3 a 3,5% em média nos próximos anos; Barclays acredita que essa média pode ser de 4%.

Daniel Gallas - BBC Brasil - 14/09/12

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120913_mexico_brasil_economia_dg.shtml

Foto: Luis Acosta/AFP

Pra terminar, não sei se os mexicanos são melhores do que nós na arte de contar vantagem, mas, no futebol, temos levado cada sapecada deles...






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