O texto completo dele está aqui. Começa de maneira enfadonha, apresentando um currículo de Paulo Freire. É o manjado argumento de autoridade, pois consiste em sugerir que, se o sujeito ocupou este e aquele cargo, se deu aula nesta e naquela instituição, o que ele escreveu só pode estar correto ou, no mínimo, deve ser discutido como se fosse um pensamento complexo e bem fundamentado. Ocorre que eu fiz uma citação de Freire para mostrar que o pensamento social dele era simplório e argumentei que o diálogo freiriano não passa de manipulação. Fiz isso ao explicar como funciona, em termos práticos, a suposta "construção conjunta" de conhecimentos proposta pelos freirianos, conforme repito abaixo:
[...] o professor questiona os alunos sobre o seu dia a dia, apresenta uma explicação ideológica para os problemas e insatisfações relatados, e depois discute com eles o que acharam desse conteúdo. Se os alunos discordarem da explicação, o professor argumenta em favor do seu próprio ponto de vista ideológico. Ao fim do diálogo, o professor conclui que os alunos que ele conseguiu convencer estão agora "conscientes" da sua "verdadeira" condição de oprimidos e explorados pela sociedade de classes.
Ora, isso é apenas a dita "educação bancária" camuflada de diálogo! O professor apresenta uma única via para explicar as situações relatadas pelos alunos: a ideologia em que ele acredita. O aluno é deixado na ignorância sobre a existência de pesquisas que explicam as situações de pobreza, desigualdade, problemas urbanos e ambientais, entre outros, fora do universo teórico e ideológico do professor.
Valdir Silveira não mencionou absolutamente nada sobre essa caracterização que fiz do diálogo freiriano e, após a apresentação do currículo, afirma que a educação é sempre ideológica mesmo, como Freire defendia.
É, Paulo Freire sempre se agarrava a essa conversa de que toda educação é necessariamente ideológica para sugerir que, sendo assim, cada professor deve mesmo vender o seu peixe para os alunos. Contudo, essa concepção equivocada de educação é a maior prova de que, no diálogo proposto por ele, não existe "construção conjunta de conhecimentos" coisíssima nenhuma, mas apenas um processo de doutrinação em que o professor transmite as suas ideologias para os alunos usando exemplos de problemas cotidianos relatados por eles como supostas demonstrações de que tais ideologias são a verdade. Trata-se de uma contradição em termos, pois toda construção de conhecimentos tem de partir do pressuposto de que a explicação dos fenômenos ainda é incerta antes de ser investigada com métodos rigorosos, ao passo que Freire começava o diálogo com os alunos imbuído da crença de que as ideologias a serem transmitidas eram verdades das quais os alunos tinham de ser "conscientizados"!
Em vez de argumentos, desqualificação
Depois do argumento de autoridade e de repetir um velho chavão freiriano, Silveira escreve:
[...] afirmar que o método Paulo Freire "sonega ao aluno o conhecimento de explicações alternativas e mais sofisticadas do que aquela" é de uma má fé e intenção - para não dizer safadeza intelectual - à toda a prova.
Para demonstrar que houve má-fé na minha crítica, Silveira deveria ter apresentado exemplos concretos de que os professores freirianos ensinam modos diferentes de explicar a realidade social para que os alunos possam avaliá-las por si mesmos. Como ele não fez isso, fica claro que me chamou de mentiroso sem demonstrar onde estava a mentira, o que é desqualificação moral gratuita.
Logo em seguida, ele pergunta o seguinte:
[...] de que conhecimento "mais sofisticado" fala o professor Diniz?
Em meu artigo, fiz uma citação de Paulo Freire sobre as causas do desemprego para dar um exemplo de como ele tinha uma visão social simplória e maniqueísta. Se Valdir Silveira pergunta de que outro conhecimento eu poderia estar falando, é sinal de que, assim como Freire, não conhece nenhuma explicação para esse fenômeno que não sejam palavras de ordem do tipo "é tudo culpa das elites"!
Então, já que ele não conhece nenhuma explicação mais sofisticada do que aquela, apresento a do economista José Pastore (2009) como um exemplo. Segundo esse autor, as taxas de desemprego são fortemente afetadas pela interação de três variáveis, que são o aumento da produtividade do trabalho, a legislação trabalhista e a qualificação da mão de obra. Quando as leis trabalhistas são flexíveis e a mão de obra é bem qualificada, a modernização tecnológica gera mais empregos do que elimina, além de substituir empregos de menor produtividade e remuneração mais baixa por empregos melhores. Já nos países onde a mão de obra é pouco qualificada e/ou a legislação trabalhista é muito restritiva, os ganhos de produtividade destroem mais empregos do que criam. E o autor procura provar isso citando as taxas de desemprego de vários países.
Essa não é uma explicação muito mais sofisticada do que aquela baboseira do Paulo Freire sobre a "gulodice" das elites? Além disso, é uma explicação cuja validade pode ser testada independentemente de juízos ideológicos. Isso é feito por meio de pesquisas comparativas documentais sobre legislação e do uso de indicadores de desemprego, de produtividade do trabalho e de níveis de qualificação. Depois falam que pesquisa científica e ensino são só ideologias com outros nomes...
O essencial, porém, é destacar que um aluno que tivesse aulas com um professor freiriano sobre o desemprego jamais poderia usar argumentos como esses para contestar os "novos saberes", ou melhor, as ideologias que esse professor lhe apresentou. Afinal, só quem lê trabalhos de economia pode pensar em uma explicação assim, mas o suposto "método Paulo Freire" era aplicado com analfabetos!
No final, a franqueza reveladora
Na conclusão do seu post, Silveira mostra, sem disfarçar, que é a favor de doutrinar os alunos mesmo!
O ensino, a educação, não precisa de sofisticação, sim de uma pedagogia que leve ao aprendizado crítico e contestador da realidade. O resto, o resto professor Diniz "são tertulhas flácidas para ninar bovinos", no bom portugues "conversa mole pra boi dormir".
O que os freirianos chamam de pensamento "crítico e contestador" são as ideologias anticapitalistas toscas em que eles acreditam. Logo, ele está dizendo que o aluno tem de ser levado a acreditar que essas ideologias são representações fieis da realidade, e ponto final. Visões alternativas, trabalhos científicos, estudos baseados em estatísticas... toda essa sofisticação é "conversa mole pra boi dormir". E Silveira resolveu ser franco desse jeito logo depois de escrever que eu minto em minha acusação de que os freirianos mostram uma única visão da realidade aos seus alunos. Essa incoerência flagrante, que toca as raias da hipocrisia, é que merece ser chamada de "safadeza intelectual"!
Concluindo, o texto dele só comprova que os freirianos não ensinam explicações alternativas para os alunos, e isso por dois motivos: primeiro, porque a pluralidade de conteúdos impediria a manipulação do processo dialógico da forma mais simples e eficiente para a doutrinação, que é ficar o tempo todo confrontando o senso comum de alunos iletrados com as ideologias simplistas que lhes são apresentadas; segundo, porque os professores freirianos, assim como seu mestre, ignoram as pesquisas que põem em xeque as ideologias nas quais eles creem. Não ensinam para poderem manipular melhor os alunos e também por não saberem mesmo!
(*) Agradeço a Miguel Nagib, coordenador do site Escola Sem Partido, por haver feito o resumo do post.
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PASTORE, J. Tecnologia, educação e legislação (seus impactos sobre o emprego). Disponível em: <http://www2.desenvolvimento.gov.br/arquivo/sdp/outPublicacoes/tecindustrial/futInduOpoDesafios/Pastore.pdf> Acesso em: 02 jul. 2009.
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