Professor processa a Veja por danos morais e vence! Decisão equivocada
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Professor processa a Veja por danos morais e vence! Decisão equivocada


Eu ia publicar este post em junho, mas o turbilhão político causado pelos baderneiros acabou desviando as atenções. Trata-se do caso recente de um professor que foi apontado em matéria da Veja como exemplo de doutrinador ideológico, processou a revista por "danos morais" (sic) e, por incrível que pareça, ganhou a causa! Mas não vou tecer considerações sobre essa sentença absurda da juíza responsável pelo caso, posto que o jornalista José Maria e Silva escreveu um texto excelente sobre o assunto. Ele chama atenção para o fato de que a revista foi condenada apenas por haver feito críticas ao trabalho do professor e que esse tipo de sentença demonstra que o poder judiciário pode já estar exercendo aquilo que os petistas chamam de "controle social da mídia", isto é, censura ideológica. Se continuar assim, de fato, não é necessário instituir algo como o Conselho Federal de Jornalismo.

O artigo se intitula Contextualizando uma sentença, e reproduzo abaixo alguns parágrafos bastante esclarecedores:
A condenação da Editora Abril se sustenta no entendimento da juíza de que a inserção do professor na reportagem de "Veja" ocorreu sem levar em conta o contexto. Eis o que afirma a magistrada: "A informação buscada foi distorcida e manipulada, sendo colocada na reportagem de forma descontextualizada, objetivando unicamente corroborar a ideia lançada da 'esquerdização do ensino' que também seria praticada pelo demandante. A revista está pressupondo que os pais são omissos e não sabem o que os filhos estão aprendendo na escola. Da mesma forma, a publicação é agressiva ao afirmar que os professores levam mais a sério a doutrinação esquerdista do que o ensino das matérias em classe, induzindo o leitor a entender que o autor deve ser incluído como este tipo de profissional".
Entretanto, o próprio professor, numa carta publicada na re­vis­ta "Veja", em 27 de agosto de 2008, faz críticas à revista e afirma: "A reportagem apresentou uma situação de uma aula minha no mínimo duvidosa. Um debate em uma turma de 5ª série foi descrito pela revista como um 'jo­gral', o que é bastante depreciativo, para não dizer outra coisa. Ora, a discussão era sobre o aumento da violência e sua relação com o desemprego. Nesse sentido, parece-me óbvio que a modernidade tecnológica colocou à margem do mundo do trabalho um grande número de pessoas que não estavam preparadas para enfrentar essa nova realidade. O que foi colocado aos alunos por mim tinha o objetivo de fazê-los questionar, caso fossem filhos de pais empresários, qual a contribuição desses pais no sentido de qualificar seus empregados para enfrentar essa nova realidade. Os alunos não levaram essa pergunta como tema de casa, obrigatoriamente. Foi apenas um debate em sala de aula".
Releiam, por favor, o último trecho da carta do mestre. É quase uma confissão de culpa. Alunos de 5ª série têm 11 anos. Numa escola privada de elite podem ter até menos. É correto uma criança nessa idade ser desafiada a questionar a conduta profissional ou empresarial de seus pais? Os livros didáticos costumam ser cruéis com os patrões da Revolução Industrial.
Inclusive em charges, que ressaltam sua maldade monstruosa oprimindo miseráveis trabalhadores. Desafiar uma criança a inserir nesse contexto o pai empresário é uma roleta russa ética. Um professor, na reunião de pais e mestres, pode e até deve (se for possível) dizer verdades indesejáveis à família do aluno, mas jamais deve terceirizar essa missão para a própria criança. Os advogados de "Veja" deviam ter evocado o Estatuto da Criança e do Adolescente em defesa da revista.
O autor está absolutamente certo quando afirma que a carta já foi uma confissão das intenções e práticas doutrinadoras do professor. Com efeito, os livros didáticos transmitem uma imagem fortemente negativa dos empresários - frequentemente incluídos em expressões como "as elites" ou "minoria rica" -, conforme destaquei no meu último livro, ao analisar as obras de Vesentini (Diniz Filho, 2013, p. 169-178). Se a discussão tomou por base os conteúdos dos livros didáticos, está claro que os alunos não tinham argumentos para contestar a visão do professor.

E acrescento que, quando o professor afirma "[...] parece-me óbvio que a modernidade tecnológica colocou à margem do mundo do trabalho um grande número de pessoas que não estavam preparadas para enfrentar essa nova realidade", deixa claro que, ainda que inconscientemente, efetua o mesmo tipo de doutrinação embutida na pedagogia de Paulo Freire. Nesse tipo de pedagogia, conforme eu já expliquei aqui, o professor apresenta aos alunos sua explicação ideológica para um problema social qualquer (explicação que lhe parece "óbvia") por meio de processos dialógicos dos quais os alunos participam sem terem sido orientados a fazer leituras que apresentem explicações alternativas e mais sofisticadas que aquela do professor - até porque são crianças que não possuem maturidade intelectual para entender um artigo científico sobre economia do trabalho ou sobre as causas da violência!

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DINIZ FILHO, L. L. Por uma crítica da geografia crítica. Ponta Grossa-PR: Editora da UEPG, 2013.




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