Decisão quanto ao número de vagas reservadas e ao valor da renda per
capita só sairá na próxima semana
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aprovou na última
quinta-feira (12/8) a adoção de cotas sociais para alunos oriundos de
escolas públicas já para o vestibular deste ano, em decisão do
Conselho Universitário (Consuni), a mais alta instância de decisão da
instituição.
O número de vagas destinadas às ações afirmativas e a renda máxima
necessária para concorrer pelo sistema só serão decididos em uma
sessão extraordinária do Consuni, na próxima quinta-feira (dia 19).
Também foi aprovada a adesão parcial da universidade ao Sistema de
Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC), que utiliza
o Enem como fase única para ocupar vagas de cerca de 40 instituições
públicas do país, com a reserva de 50% dos lugares. A outra metade
será oferecida pelo vestibular tradicional, sendo as duas fases
discursivas.
Em entrevista exclusiva à Megazine, em maio, o reitor da UFRJ, Aloísio
Teixeira, defendeu a entrada da instituição no sistema e criticou
duramente o modelo do vestibular, chamado por ele de "sistema perverso
criado para excluir a juventude do acesso à educação superior".
A proposta original apresentada pela reitoria prevê que 20% das vagas
destinadas ao Sisu sejam reservadas para estudantes egressos de
escolas públicas e que tenham renda familiar per capita de até um
salário mínimo e meio. Assim, 10% do total de vagas oferecidas no
vestibular da instituição ficariam reservadas para o sistema de ações
afirmativas.
Um dos motivos para que a definição dos detalhes ficasse para a semana
que vem foi a falta de consenso em torno da reserva de vagas. Os
representantes dos estudantes e técnicos administrativos consideraram
tímida a proposta da reitoria. Já o decano do Centro de Filosofia e
Ciências Humanas (CFCH), Marcelo Corrêa e Castro, defendeu a reserva
de 20% do total de vagas para o sistema de ações afirmativas.
O estudo apresentado pela presidente da Comissão de Acesso do Conselho
de Ensino e Graduação (CEG), Ana Maria Ribeiro, antes do início da
sessão, mostrou que 6,29% dos alunos oriundos da rede pública estadual
conseguiram entrar na universidade no último vestibular, contra 12,32%
de quem estudou em escola particular e 17,31% da rede pública federal.
Professor defende exclusão de alunos de escolas federais
O ótimo índice de aprovação das escolas federais fez com que o
professor do Instituto de Economia, Marcelo Paixão, propusesse que as
cotas fossem restritas a alunos da rede estadual. De acordo com
Paixão, 20% dos estudantes da UFRJ já atendem ao perfil proposto pela
reitoria. Assim, qualquer cota que abrangesse menos de 20% do total
oferecido no vestibular não surtiria qualquer efeito.
As discussões sobre a adoção de ações afirmativas na UFRJ tiveram
início em maio, quando foi colocada em votação uma proposta de Paixão
que previa a abertura do debate dentro da universidade.
O professor defendia cotas raciais como melhor forma de democratizar o
acesso ao ensino superior. O reitor Aloísio Teixeira, entretanto,
nunca demonstrou simpatia pelo critério, pois acredita que a
substituição do vestibular tradicional pelo Enem é mais eficaz e
atingiria mais estudantes.
(Leonardo Cazes)
Fonte: O Globo, 13/8
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