Único país, além do Chile, que não faz fronteira com o Brasil, o Equador mantém com o parceiro maior uma relação ao mesmo tempo amistosa e distante.
Os dois países deixaram de ser vizinhos depois que o Peru tomou militarmente parte do rio Amazonas.
Mas o Brasil foi um dos principais mediadores na crise que garantiu ao Equador o direito de navegar no rio, iniciada nos anos 1940 e solucionada de vez nos anos 1990.
Hoje, construir relações para substituir a fronteira perdida é o desafio dos governos esquerdistas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Rafael Correa.
Uma das iniciativas em análise é melhorar a infra-estrutura que liga os portos de Manaus, no Estado do Amazonas, com Manta na costa do Oceano Pacífico. Além disso, a Petrobras aguarda uma definição legal sobre a possibilidade de extrair petróleo de uma área na Amazônia do país vizinho.
Seja pelo corredor bioceânico, a antiga ligação fluvial ou campos do petróleo, os dois países estão umbilicalmente ligados pela selva amazônica. Em Quito, uma estátua homenageia Francisco de Orellana, que dali partiu para descobrir o maior rio do continente.
Mas outros aspectos curiosos lembram o Brasil, como o 'Pão de Açúcar equatoriano' ? o morro do 'Panecillo', de cujo topo uma estátua da Virgem Maria 'abençoa' a capital equatoriana.
O olhar do povo
A brasileira Sônia e o equatoriano Ivan ilustram um fenômeno curioso na relação entre cidadãos equatorianos e brasileiros. "A comunidade brasileira aqui (em Quito) é bastante feminina, de brasileiras que se casaram com equatorianos que foram estudar ou fazer intercâmbio no Brasil", diz Sônia.
Eles nos vêem como o sul-americano que está de costas para a sua região.
Sônia Paredes
O casal se conheceu em meados dos anos 80, quando Ivan estudou em Ouro Preto. Há quase 20 anos eles se mudaram para Quito, onde vivem apenas mil brasileiros, segundo os números oficiais.
Ir para o Brasil era viajar para outro lugar muito distante.
Ivan Paredes
Ivan conta que, quando estudou no Brasil, o vizinho maior era considerado por equatorianos um lugar "distante". "De uns anos para cá é que a política do Brasil foi de abertura e o Brasil começou a se integrar com o resto dos países da América do Sul."
Para ele, o "fascínio" que o Brasil exerce nos visitantes favorece a integração. "Qualquer pessoa que vai para o Brasil gosta e quer voltar. Mesmo que tenham dificuldade na comunicação, as pessoas acabam se entendendo."
As relações econômicas
Números
? População: 13 milhões
? PIB: US$ 61 bilhões
? Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 661 milhões
? Quanto o Brasil importa do país: US$ 30 milhões
? Saldo comercial com Brasil: US$ -631 milhões
As relações comerciais entre Brasil e Equador estão entre as mais desiguais do continente. Apesar disso, os governos dos dois países dizem ter excelentes relações no plano econômico, assim como no plano político.
Em 2004, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa manifestaram desejo de avançar na integração dos portos brasileiros de Manaus e equatoriano de Manta, criando uma ligação bioceânica que colocaria as mercadorias brasileiras a um passo da Ásia e abasteceria o Norte do Brasil com alimentos produzidos no Equador.
Mas o projeto concorre com outras iniciativas de ligar os dois oceanos através do Peru e do Chile.
No campo do investimento, uma aproximação desigual com o Brasil pode ser prejudicial se subjugar o país de 13 milhões de habitantes e PIB de US$ 60 bilhões.
Após décadas vivendo à sombra dos Estados Unidos, o governo Correa promete retomar a soberania do país, e deixar para trás uma "longa noite neoliberal".
Porta-vozes do governo e do movimento indígena - talvez o ator social de maior influência em um país de maioria indígena - dizem temer que o Brasil acabe "exportando" um modelo extracionista de desenvolvimento.
BBC BRASIL
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