Profissões: crônica de uma (possível) morte anunciada
Geografia

Profissões: crônica de uma (possível) morte anunciada




Marlucio Luna
Nascer, crescer, estudar, ter uma profissão e um bom emprego... O caminho desejado para os filhos por dez entre dez pais no século 20, definitivamente, não se enquadra na realidade deste início de milênio - pelo menos no que se refere ao futuro profissional das próximas gerações. Especialistas em Recursos Humanos, economistas e sociólogos alertam para as transformações, algumas já em andamento, por que passará o mercado de trabalho nos próximos anos. Cada vez haverá menos espaço para aquele que sonha com estabilidade no emprego, carteira assinada, carreira extremamente especializada ou algo do gênero.

Os técnicos da área de Recursos Humanos prevêem que nos próximos anos o conceito de profissão será suplantado pelo de campo de atuação profissional. Mas o que significa essa mudança? Um exemplo desses novos tempos é o médico. Se hoje ele se forma e busca uma especialização (pediatria, ortopedia, etc.), dentro de alguns anos lhe será exigida polivalência. Não bastará apenas dominar uma determinada especialidade. O médico será um profissional capaz também de planejar políticas públicas de saúde, administrar hospitais e serviços, coordenar planejamentos estratégicos e analisar a viabilidade econômica de investimentos na área de saúde. Resumindo, o "doutor" de jaleco branco e estetoscópio pendurado no pescoço será uma figura ultrapassada. Ele se assemelhará muito mais a um executivo. O exemplo do médico é aplicável a várias outras profissões, principalmente as de nível superior e médio.

A polivalência exigida do profissional do futuro está inserida no conceito de laborabilidade - capacidade de o trabalhador ir além do conhecimento específico para a execução de sua atividade profissional. Dessa forma, ele precisa sintonizar-se com um saber dinâmico, ser capaz de criar, ter autonomia intelectual e acompanhar as transformações aceleradas do mundo do trabalho. Aquele que não investe em cursos de atualização, não desenvolve novas competências e se considera "pronto" para o mercado encontrará sérias dificuldades. Por não se manter em dia com as inovações - sejam tecnológicas ou de gestão -, poderá ser chamado de "defasado", "ultrapassado" ou "de baixa produtividade". O único caminho é o da atualização permanente em seu campo de atuação.

Outra transformação prevista para o mercado de trabalho tem relação com a idéia que se tem hoje de emprego. Patrão, empregado, salário, cartão de ponto, chefe, demissão, hierarquia... Essas palavras tendem a desaparecer - ou pelo menos serão usadas com menor freqüência. Dentro de poucos anos, um número restrito de setores da economia ainda manterá a estrutura de mão-de-obra vigente hoje. Os profissionais deixarão a condição de funcionários e passarão a alugar suas competências. Assinarão contratos por tempo determinado (ou por tarefa) com companhias, atuarão como empresas. Além disso se preocuparão com questões como marketing pessoal, carteira de clientes e ampliação do leque de competências oferecidas. Conseguirá manter-se no mercado quem cobrar o menor preço, executar mais tarefas e primar pela qualidade de seu produto - a mão-de-obra. Um exemplo dos dias atuais é o do autônomo, que é o patrão de si mesmo.

Para quem pensa que tantas transformações ainda vão demorar a ocorrer, vale o alerta dos head hunters (profissionais especializados em caçar novos talentos no mercado de trabalho): só estará apto a enfrentar a nova realidade que virá aqueles que começarem a se preparar desde já.


Marlucio Luna é editor do projeto Século XXI.




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