Irlanda do Norte
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Para melhor entendermos sobre a questão irlandesa, em primeiro lugar temos que ter uma ideia clara de que os conflitos com a Inglaterra têm antecedentes históricos.

Painel do IRA: "Nosso dia vai chegar"

Sem querer me aprofundar muito nas origens do conflito, vamos nos ater a alguns fatos específicos.

O domínio exercido pelos ingleses remonta o século XII, com a conquista da região por Henrique II. Em 1175 Henrique II firmou o Tratado de Windsor segundo o qual a Irlanda passaria a ser regida pelas leis inglesas. Além do que, o domínio do território pelos ingleses significava que a partir de então os irlandeses teriam de pagar tributos à Inglaterra dentro da hierarquia vigente no feudalismo.

Para piorar a situação, Henrique VIII, em 1534, rompe com a Igreja Católica iniciando a chamada "Reforma Protestante", a partir da qual a Inglaterra passou a adotar a religião Anglicana, fundada por ele, como religião oficial. Assim, a Irlanda que era de maioria católica se viu obrigada por Henrique VIII a adotar o anglicanismo.

A imposição do poder absoluto inglês foi acompanhado da imposição da nova religião. Dessa maneira, a manutenção do catolicismo por parte dos irlandeses tornou-se uma forma de contestar o domínio inglês, além de preservar sua própria cultura.A contestação ao domínio inglês representava a luta contra o poder político e religiosos já que os dois estavam concentrados nas mãos do rei, principalmente durante o reinado de Elizabeth I, que impôs os Estatutos de Supremacia e Uniformidade, reafirmando a supremacia da Igreja e das leis inglesas sobre a Irlanda.

Vale ressaltar que a questão da Irlanda não começou por causa da religião, e sim por causa do sentimento nacionalista irlandês, ou seja, por questões políticas e territoriais que se iniciaram com a ocupação feita pelo outro Henrique, o II. A religião apenas foi incorporada ao conflito já existente. Assim, manter a religião católica passou a ser encarado como uma forma de protesto contra os ingleses. O que é perfeitamente compreensível se entendermos que naquela época a religião era ligada ao estado, sendo muitas vezes utilizada como forma de garantir o poder.

A discriminação e a exploração sofrida pelos irlandeses fizeram com que eclodissem diversas revoltas, sendo a mais expressiva delas em 1641 e que foi reprimida violentamente por Oliver Cromwell que havia tomado o poder na Inglaterra e proclamado a República Inglesa consolidando o poder dos ingleses sobre a região.

A repressão inglesa e o sentimento nacionalista foram responsáveis pela eclosão de uma Revolução em 1798, dirigida por uma sociedade secreta denominada Irlandeses Unidos. Em 1829, um movimento nacionalista e popular conquistou alguns direitos políticos e civis para os católicos, que poderiam ocupar a maior parte dos cargos públicos, apesar da manutenção do voto censitário.

Entre 1847-48 o país foi assolado pela fome (devido à praga na cultura de batata) e por uma epidemia de tifo, responsáveis pela morte de aproximadamente 800.000 pessoas, cerca de 10% da população total do País. Nas décadas seguintes a crise foi responsável pela grande imigração, principalmente para o norte dos EUA.


Em 1905 foi fundado o Sinn Féin (nós sozinhos) importante movimento nacionalista que se propunha a lutar pela soberania da Irlanda de forma legal e que, com grande apoio popular, elegeu em 1918 a maioria dos deputados irlandeses ao Parlamento Britânico. Fortalecido, o Sinn Féin proclamou unilateralmente a independência da Irlanda, provocando a reação inglesa e de grupos protestantes da região do Ulster (norte). Depois de dois anos de conflitos, em 6 de dezembro de 1921, foi assinado um tratado pelo qual a Irlanda (com exceção do Ulster) tornou-se um Estado independente, porém considerado ainda como domínio da coroa inglesa, integrando a commonwelth. A independência completa foi obtida a partir da Constituição de 1937, quando a Irlanda passou a denominar-se EIRE, desvinculando-se completamente da monarquia britânica; porém essa situação somente foi reconhecida pela Inglaterra em 1949, que concedeu autonomia ao Ulster, que passou a denominar-se Irlanda do Norte.

Fundado em 1919, o IRA ( Irish Republican Army) passou a utilizar-se da guerrilha como forma de eliminar o domínio inglês e obter a independência da Irlanda, e posteriormente, pretendendo a unificação da Irlanda do Norte ao restante do país. Nas últimas três décadas as ações do IRA e dos grupos paramilitares "protestantes" intensificaram suas ações e foram responsáveis por vários atentados na Irlanda do Norte, principalmente na capital, Belfast.

Sede da prefeitura de Belfast

Os ventos da mudança começaram a soprar em 1997, com a eleição de Tony Blair como primeiro-ministro britânico, que procurou definir um acordo multilateral, do qual participaram ele próprio, o primeiro-ministro do Eire e representantes do Sinn Fein e dos unionistas (protestantes da Irlanda do Norte); houve até uma intervenção do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

 Tony Blair

Em 1998 foi firmado um acordo que determinou eleições livres para a formação de um Parlamento Norte-Irlandês, ao qual caberia indicar um primeiro-ministro para governar a região. Esta permaneceu ligada ao Reino Unido, mas recuperou a autonomia perdida em 1972. E os católicos terão direito de voto, que antes lhes era negado.

A já mencionada ascensão do Partido Trabalhista ao poder, em 1997, a criação do Euro e a "nova ordem mundial" realmente criaram novas condições de negociação política.

De um lado a Inglaterra, preocupada em fortalecer-se dentro da Europa. Do outro, a própria elite irlandesa católica, ansiosa por aproveitar as novas condições de desenvolvimento.


A suspensão dos atentados por ambos os lados foi fundamental para que as negociações pudessem existir, criando possibilidades concretas para a pacificação da região.

Mas, apesar de todos os esforços pela obtenção da paz, os extremistas de ambos os lados ainda apostam em ações violentas, cujo impacto desestabilize o acordo conseguido. Em 2001, nem o IRA nem os unionistas entregaram suas armas às autoridades. Essa situação, somada a atos de violência, tornam incerto o futuro da Irlanda do Norte.

Domingo Sangrento: manifestação pacífica se transformou em carnificina promovida pelos militares britânicos

Aí já dá para perceber de onde vem o ódio ancestral que os irlandeses nutrem pelos ingleses, o que deixa mais evidente do quanto é difícil que o estabelecimento de uma relação harmoniosa entre os dois países seja definitivamente alcançado.






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