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Recentemente, assisti uma peça teatral promovida pelo SESC na escola municipal, onde trabalho. Fui acompanhando uma turma (Turma 1802) e, no Auditório, encontrei outras, das quais também sou regente.
O tema da peça, muito pertinente ao ambiente escolar, era Bullying. Palavra esta, a qual -segundo especialistas - não há tradução em português. No entanto, o universo de atitudes negativas que este abrange e suas conseqüências nocivas ao indivíduo que sofre é algo inquestionável.
Durante a minha infância e adolescência, eu, também, fui vítima de bullying e, posso afirmar que, sofri muito com isso. Na época, este termo não era nem conhecido, pelo menos, eu tenha conhecimento.
"O termo BULLYING compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima." (ABRAPIA)
Na época, eu sofri por não ser bonita, por ser muito magra e, por incrível que pareça, por ser branca. Por estes três aspectos, constantemente, sofria deboche por parte de colegas e pessoas, inclusive, desconhecidas.
Chorei muitas vezes, sozinha no quarto. Minha auto-estima sempre ficava lá embaixo... no fundo do poço. Não gostava de mim, até que, um dia, cai doente no hospital. Foram cinquenta e dois dias internada, sendo 16 em estado de coma.
Meu problema, embora de difícil diagnóstico, resultava em intensos fluxos hemorrágicos pela boca (gengiva), os quais foram submetidos a diversos níveis de tratamento (físico e até espiritual).
Certo dia, quando recebi a visita de 53 pessoas em meu quarto (claro que não todos ao mesmo tempo), eu percebi o quanto as pessoas gostavam de mim e as seqüelas do Bullying se esvaíram como água de chuva nas galerias pluviais.
Aprendi a me impor mais na coletividade, a ter noção de que o valor de cada um está - em primeiro lugar - em sua concepção enquanto ser humano. Assumi uma postura de enfrentar as adversidades inerentes às relações humanas, com ou sem conflitos, mas na certeza de que eu não poderia estragar o meu dia por causa de comentários nocivos ou discriminatórios.
Ficava triste, com certeza! Mas deixei de chorar e, aos poucos, não permiti mais que a tristeza dominasse os meus sentimentos.
Hoje, procuro orientar os alunos e até a minha filha com relação a isso. E, por ter vivenciado uma situação semelhante, fico - muitas das vezes - "revoltada" com o tratamento que algumas pessoas se dedicam a outras.
Tanto em minha escola municipal quanto na estadual é comum presenciarmos cenas ou tomarmos conhecimento destas, onde as atitudes de bullying são expressadas sem nenhum motivo justificável.
O ambiente escolar, por ser um espaço de grande diversidade cultural, social e étnico, reproduz relações desiguais de poder e, sob estes aspectos, ganham dimensões as atitudes agressivas ao outro, podendo ser momentânea ou repetitivas.
É bastante comum: apelidos, atribuído sob algo que sobressaia no indivíduo (os óculos, as orelhas, o nariz, a obesidade e/ou magreza, a gagueira, o cabelo etc); comentários maldosos em forma de fofoca e deboche; atitudes discriminatórias; agressões físicas diversas ("selinhos", tapas nas costas ou na cabeça, brigas mais violentas etc); ameaças; apropriação dos pertences do outro, entre outros.
Independente do tipo de atitude a ser tomada, um fato é certo, o bullying não é um fenômeno típico de uma determinada categoria de países (desenvolvidos ou subdesenvolvidos). Ele é um fenômeno mundial e afeta todas as classes sociais.
É claro que podemos perceber uma certa prevalecência em determinadas classes sociais, inclusive pela característica de relação desigual de poder. Mas, este ocorre em todas as camadas sociais, das mais privilegiadas até as mais carentes.
Logo depois da peça de teatro, da qual me referi, a mídia jornalística retomou o assunto, nesta semana, depois do caso de um estudante de 17 anos que morreu após ser espancado por cinco colegas da turma.
O caso foi no estado do Rio de Janeiro (município de Silva Jardim). O referido jovem foi alvo de gozação por ter cortado o cabelo, sendo agredido com tapas na cabeça. Por ter reclamado das atitudes dos colegas, este veio a ser submetido a socos mais fortes, pelos mesmos autores, após a saída momentânea da professora.
Mesmo com dores, o rapaz freqüentou o CIEP e, dias depois, sem o conhecimento dos fatos pelos familiares, este entrou em coma e morreu. Diagnóstico: grave infecção nas meninges devido a contusão no crânio.
Eu mesma, este ano presenciei um caso semelhante de agressão com tapas na cabeça, o qual fui bastante severa na repreensão aos autores. Mas, mesmo intervindo e orientando o aluno que havia sido alvo das gozação, muitas das vezes, as cenas ocorrem longe de nossos olhos e, muitos dos alunos, não denunciam ou pedem ajuda.
Os pais precisam manter o diálogo aberto, demonstrar interesse pelos assuntos levados por seus filhos, além de ter uma boa relação com os professores, capaz de buscar conselhos e orientações quando necessários.
Sugiro, como leitura, os textos encontrados no site Eduquenet, os quais abordam sobre o Bullying.
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Texto atualizado às 18h35. ?Não há muito que falar, não há palavras que possam expressar os sentimentos de tristeza e dor que rondam o fato de hoje, até porque há muitos pontos em comuns e nos sentimos tal como fizemos parte do cenário. Rede...
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