Para se tornarem construtores, os corais precisam de águas quentes. A temperatura afeta a combinação de cálcio dissolvido com o carbono do dióxido de carbono, formando o carbonato de cálcio. Além disso, emáguas quentes, o carbonato de cálcio se cristaliza para soldar todos os componentes do recife.
A colônia cresce quatro centímetros por ano, sobre os esqueletos dos corais mortos. Após milhares de anos de ?construção?, o que se vê é um belo anel coralino envolvendo uma laguna central. Praias de areia e uma vegetação rasteira com algumas poucas árvores altas transformam o recife numa ilha. Nasce assim um atol.
Impacto ambiental
O santuário ecológico brasileiro abriga milhares de aves marinhas migratórias e residentes, que utilizam o atol para descanso, alimentação e acasalamento. São trinta-réis, andorinhas-do-mar, atobás, mergulhões e fragatas, que todo ano agitam a ilha.
Assim como em Fernando de Noronha, o atol das Rocas também é berçário de duas espécies de tartarugas. Entretanto, a maior biodiversidade e o equilíbrio ecológico do atol estão no mar.
Os recifes de corais são os pontos de maior concentração de vida nos oceanos. Mais de 5 mil espécies de peixes, 10 mil de moluscos ? além de uma quantidade incontável de algas e crustáceos? vivem e se reproduzem em torno das estruturas delicadas e coloridas, poucos metros abaixo da superfície. Só é possível compará-los, em termos de biodiversidade, às florestas tropicais.
E, assim como as florestas, esse ecossistema está em perigo. Estima-se que, se a ação predatória do homem continuar, os corais podem desaparecer em menos de 100 anos. Atualmente, a cada três recifes de corais, um está em mau estado. Há dez anos, essa proporção era de um para dez.
Essa triste constatação numérica revela que aproximadamente 60% das áreas de corais existentes no mundo já estão ameaçadas, sendo que desse percentual, aproximadamente 16,7% estão irremediavelmente destruídas e 33% seriamente comprometidas.
Além da pesca predatória de peixes e moluscos, que rompe a delicada cadeia alimentar do ecossistema ? e mata os corais ?, a poluição costeira, a contaminação por pesticidas carregados das lavouras pelas chuvas e o turismo descontrolado também contribuem para essa destruição.
No oceano Pacífico, pescadores despejam cianeto nos recifes para facilitar a captura de peixes ornamentais; porém, não consideram que a técnica também mata os corais. No Brasil, os corais sofrem com a água sanitária lançada neles para a captura de polvos, e recentemente o atol tem sido alvo de intensa atividade pesqueira predatória de lagosta.
Outra ameaça é o branqueamento dos corais. Tal fenômeno tem origem no aquecimento global, que provoca elevação da temperatura da água (acima de 28 ºC), aumento da fotossíntese e da liberação de toxinas (veja quadro ?O Branqueamento?). Em 1998, Ano Internacional dos Oceanos, uma colossal onda de branqueamento matou 16% dos corais do planeta. O fenômeno se repetiu na Austrália entre 2001 e 2002, com resultados desastrosos. É possível que esse acontecimento seja cíclico, só que agora ocorre num momento em que a pressão humana sobre os corais se tornou mais crítica.
Uma possível solução aponta para a criação de zonas de proteção internacional onde haja um rígido controle do acesso humano. Até o momento, parece que a tentativa de convivência harmoniosa entre o homem e os corais tem fracassado.
Fabiana Zuliani é mestre em Geografia e professora do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo.
André Roberto de Arruda Corrêa é biólogo, mestre em Gestão Ambiental e coordenador do curso de Ciências do Colégio Visconde de Porto Seguro.
O BRANQUEAMENTO
A vida no coral depende principalmente da estreita relação (simbiose) entre esses celenterados e algas microscópicas, que vivem dentro deles, chamadas zooxantelas. Os corais também podem se alimentar capturando o alimento com seus tentáculos, mas é a energia extra provida por essas algas ? por meio da fotossíntese ? que faz os recifes manterem seu metabolismo acelerado, necessário para a produção do esqueleto de carbonato de cálcio.
Quando essas algas deixam o tecido coralino, ocorre o branqueamento. Se a perda de clorofila (pigmento fotossintético) atingir 60%, dizemos que o coral branqueou. Na realidade, o tecido vivo fica transparente e é possível enxergar o esqueleto de carbonato de cálcio, por isso a cor esbranquiçada.
Se o agente causador de estresse não for muito severo e diminuir com o tempo, o coral poderá se recompor após algumas semanas ou meses. Mas se o estresse for muito prolongado poderá matar colônias inteiras de uma só vez.
Não é só poluição, no entanto, que provoca esse fenômeno. Vários fatores, sozinhos ou combinados, podem provocá-lo: ? Temperatura ? os corais vivem dentro de uma margem muito pequena de variação térmica e morrem com quedas súbitas na temperatura do mar, associadas a eventos de ressurgência, ou aquecimento abrupto ? devido tanto ao efeito estufa quanto ao El Niño.
? Radiação solar ? normalmente, ocorre um branqueamento no topo das colônias no verão, principalmente em regiões onde a camada de ozônio está mais degradada.
? Diminuição da salinidade ? já foram observados branqueamentos em ocasiões de fortes tempestades sobres recifes rasos e próximos à foz de rios.
Revista Discutindo Geografia