Geografia
Série: Crescimento dos BRICS - CHINA
Autores: Flávio Vilela Vieira& Michele Polline Veríssimo
China
A economia chinesa tem se destacado, no período recente, por apresentar elevadas taxas de crescimento quando comparada às demais economias em desenvolvimento (taxa média de crescimento do PIB igual a 10% nos anos 1990 e 9,4% entre 2000 e 2005).
Andrade (2006) aponta, entre os principais condicionantes do elevado
crescimento chinês, as altas taxas de investimento, uma maior abertura comercial, política de estímulos favoráveis às exportações e à atração de investimentos externos, a manutenção de um regime cambial rígido e favorável ao desempenho do setor externo a partir de meados dos anos 1990 e os investimentos em capital humano.
Cabe ressaltar ainda o papel desempenhado pelos controles de capitais e o câmbio administrado como elementos que favoreceram o crescimento chinês, e que, no caso dos controles de capitais, serviu como política de proteção a choques externos e possível volatilidade dos fluxos de capitais. O autor observa que as elevadas taxas de crescimento estão atreladas às altas taxas de poupança e investimento, e que a formação bruta de capital fixo apresentou um crescimento recorrente nos anos 1990, atingindo 40% em 2003, com um comportamento similar da taxa de poupança, também acima dos 40% nos anos 1990 e 2000.
O investimento em capital humano apresentou razoável crescimento
(4,28%) no período de 1953 a 1999 de acordo com Wang e Yao (2003). Heckman (2005), no entanto, ressalta o desequilíbrio existente entre investimento em capital físico e capital humano na China. A razão entre investimento em capital físico e capital humano é alta. Em 1995 a China gastou aproximadamente 2,5% do PIB em escolaridade e 34% em acumulação de capital físico. No entanto, a parcela da população com nível superior foi igual a 4,7% em 2002, relativamente baixa se comparada com alguns países desenvolvidos onde esta proporção excede 30%. O autor aponta uma taxa de retorno da educação na China de 7% nos anos recentes, muito abaixo da taxa de 20% de retorno do capital físico.
Cabe destacar que, segundo Rodrik (2006a), a China não seguiu de
maneira rígida várias das recomendações sugeridas para uma maior integração global. Na realidade, as políticas chinesas têm sido até certo ponto morosas e específicas, com uma abertura comercial gradual e com defasagens em várias reformas comerciais e financeiras. Ainda permanecem em vigor várias barreiras
tarifárias, não tarifárias e licenças comerciais, além de determinados controles sobre os fluxos de capitais, principalmente sobre os de curto prazo.
Sobre o comércio exterior, observam-se a ampliação da participação
chinesa no comércio internacional (6% do comércio mundial em 2003), o aumento do grau de abertura da economia (soma das exportações e importações em relação ao PIB) e sucessivos superávits na balança comercial. Lai (2004) sugere que a trajetória ascendente da relação exportações de bens e serviços/PIB decorre de
mudanças no ambiente econômico chinês. Destacam-se as reformas orientadas para o mercado, a adoção de políticas comercial e cambial apropriadas, investimentos diretos originados de Hong Kong e Taiwan e de corporações multinacionais, o aumento nas importações de bens de capital e na eficiência das indústrias manufatureiras.
Andrade (2006) destaca que a política comercial chinesa se desenvolveu de acordo com as linhas de outros países asiáticos, restringindo importações e incentivando as exportações, principalmente o processamento e a exportação de produtos intermediários importados. Nesse sentido, muitas empresas da região
Ásia-Pacífico se lançaram no mercado chinês em busca de vantagens em termos de baixo custo da mão de obra e de impostos para montagem e reexportação. Em 2000, verifica-se uma alteração do perfil das exportações chinesas, passando a predominar as exportações de produtos manufaturados (89% das exportações totais), aumentando a proporção de bens associados à mão de obra qualificada e insumos tecnológicos. Rodrik (2006a) ressalta que o perfil das exportações chinesas direcionado para produtos mais sofisticados, com elevados níveis de produtividade, consistiu, de forma mais significativa que o volume exportado, em um dos principais fatores explicativos do rápido crescimento chinês.
O regime cambial chinês tem se caracterizado, desde 1994, pela rigidez da taxa de câmbio (8,28 yuan/dólar), configurando um importante instrumento de estímulo às exportações, cujo desempenho está diretamente atrelado às elevadas taxas de crescimento econômico. A atual taxa de câmbio é considerada desvalorizada em termos reais (De Paula; Ferrari Filho, 2006) e encontra-se distante do chamado nível de equilíbrio. Nos anos mais recentes, existem recorrentes pressões para que a China transite para um regime de câmbio mais flexível, ainda que tal flexibilização deva ser implementada em consonância com medidas em direção a um sistema financeiro mais sólido e eficiente e a uma maior liberalização da conta de capitais. Caso ocorra a flexibilização do regime cambial chinês, tal mudança deve vir acompanhada de uma apreciação da taxa de câmbio (nominal e real).
Os fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) tiveram um crescimento significativo a partir do início dos anos 1990. Em 2002 e 2003, a economia chinesa passou a receber IDE em torno de US$ 47 bilhões, atingindo patamares superiores a US$ 100 bilhões em 2006 e 2007. Quanto aos fluxos de portfólio, a oscilação é mais significativa, alternando anos de entrada significativa, como em 2003, com períodos de saída, entre 1999 e 2002 (pós-crise asiática). De Paula e Ferrari Filho (2006) argumentam que a atração de IDE foi favorecida pelas perspectivas de bons negócios a longo prazo e pelo fato de que as políticas de liberalização para os fluxos de IDE começaram mais cedo, impondo à China pouco controle sobre os mesmos. Por outro lado, os empréstimos externos tiveram menor crescimento em função da existência de restrições à contratação de empréstimos do exterior. Portanto, ao mesmo tempo em que procurou atrair IDE, a China foi bastante cautelosa em administrar os empréstimos externos e os capitais de portfólio.
Fogel (2006) sugere que a China tem condições de manter as atuais taxas de crescimento (média de 9%) nos próximos anos, uma vez que as condições favoráveis ao crescimento ainda se encontram presentes. O autor acredita que os graves problemas políticos, econômicos e internacionais vivenciados pelo país, tais como ineficiência do sistema bancário e das empresas estatais, tensões com parceiros comerciais devido ao câmbio desvalorizado, as disparidades regionais e entre o trabalho altamente qualificado e o trabalho manual, problemas de infraestrutura (energia elétrica e combustíveis) e poluição ambiental, poderão ser resolvidos ao longo do tempo, o que permitirá a manutenção do crescimento no longo prazo.
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Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Pós-Doutor ? Bolsa Capes (University of Glasgow, UK).
Professora do Instituto de Economia da UFU. Doutoranda em Economia (IE-UFU), Uberlândia, MG, Brasil.
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