É tudo uma questão de causa e efeito. Se a influência cultural exercida pelos Estados Unidos sobre os países latino-americanos provoca uma espécie de fascínio, é mais do que natural que essa "irresistível atração" também desencadeie o aumento de imigrantes de origem hispânica em seu território.
Na corrida eleitoral para as próximas eleições presidenciais, os dois candidatos ao cargo de homem mais poderoso do planeta, Barack Obama e Mitt Romney, não desprezam a importância e o peso dos latinos influenciando o resultado final da disputa eleitoral.
A presença de latinos no quadro populacional estadunidense é tão visível e expressiva que os discursos se assemelham no tom de agradar não só aqueles que foram tentar fazer o "american dream" virar realidade (sejam eles legais ou clandestinos, jovens ou adultos), mas também os seus descendentes diretos, cidadãos legítimos e com um forte poder de participação.
A matéria abaixo, escrita por Janaína Lage, publicada ontem, 10/10/12, no Jornal O Globo, mostra com detalhes como os postulantes à presidência afagam o eleitorado latino com pronunciamentos que atingem em cheio seus principais interesses.
Obama e Romney "quieren su voto"
A quatro semanas das eleições presidenciais, Barack Obama e Mitt Romney aumentaram os esforços para atrair o eleitorado latino com propagandas específicas para este público. A disputa pelos 23,7 milhões de eleitores potenciais de origem latina se tornou ainda mais relevante depois que a campanha sofreu uma reviravolta com o avanço do candidato republicano nas pesquisas, como resultado de seu desempenho positivo do primeiro debate presidencial.
"Yo soy Barack Obama y apruebo este mensaje". "Yo soy Mitt Romney y apruebo este mensaje". A frase que encerra as propagandas eleitorais nos EUA - desta vez, em espanhol - representa praticamente a única semelhança entre os anúncios democrata e republicano lançados nesta semana.
Com uma peça intitulada "Bom exemplo", Obama gravou, em espanhol, um anúncio voltado para os jovens imigrantes ilegais que serão beneficiados com a autorização de trabalho temporária aprovada pelo presidente este ano. A medida pode beneficiar até 1,7 milhão de pessoas que chegaram ao país junto com os pais antes dos 16 anos e que atendem a uma série de precondições. A política, classificada pelos republicanos como eleitoreira, permite que eles regularizem sua situação por dois anos, mas não abre um caminho para a obtenção de cidadania. Foi o caminho encontrado pelo governo para driblar as dificuldades de aprovação no Congresso do chamado "Dream Act", legislação de escopo mais abrangente, voltada para estes jovens.
A nova propaganda democrata será divulgada nos estados do Colorado, Flórida, Nevada, Ohio e Virgínia, justamente os que podem ter papel decisivo na definição do ocupante da Casa Branca pelos próximos quatro anos.
"Respeitam seus pais, estudam para se superar e contribuem para o único país que conhecem e amam", diz Obama, no anúncio. O presidente ressalta que estes são os mesmos valores que ele e a primeira-dama Michelle Obama passaram para suas filhas e conclui: "Sua valentia me fez lembrar que nenhum obstáculo é muito grande e nenhum caminho, muito longo".
Romney preferiu discutir o impacto das políticas econômicas de Obama para o eleitorado latino. Mas o republicano não se arriscou a falar em outro idioma. O anúncio foi gravado em inglês, com legendas em espanhol. A única exceção é a aprovação do texto no final.
"O espírito empresarial americano está vivo na comunidade hispânica. Milhões de hispânicos trabalham duro para conseguir um futuro melhor para seus entes queridos. Nossa recuperação econômica necessita do êxito da comunidade hispânica, mas as políticas equivocadas do presidente Obama estão afetando os negócios. Vocês merecem algo melhor", diz o texto.
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