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Sedimentos de lagos não confirmam extinção em massa
Pesquisadores acreditam que a caça excessiva do povo Clóvis ao longo dos séculos, e não um impacto catastrófico, pode ter dizimado mamutes americanos e outros animais de grande porte
por Brendan Borrell
iStockphoto
Controvérsia: Antigos sedimentos de lagos não mostram evidências que apoiem a teoria de que um cometa teria provocado um evento de extinção em massa
Depois de esquadrinhar camadas de antigos sedimentos, a paleoecóloga Jacquelyn Gill da University of Wisconsin-Madison, observa que seu grupo não encontrou evidências que apoiem a controvertida teoria de que um cometa provocou a extinção em massa da era do gelo.

?Não há evidências físicas sugerindo que houve um impacto?, informou Gill, durante reunião da Sociedade Ecológica Américana. ?Se houve um impacto... não estão ocorrendo os efeitos ecológicos anteriormente sugeridos?.

Em 2007, Richard Firestone e seus colegas no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley publicaram evidências sugerindo que um cometa, explodindo na atmosfera há 12.900 anos, perto dos Grandes Lagos, provocou enormes incêndios na América do Norte. Esses incêndios podem ter levado ao rápido desaparecimento da cultura Clóvis do continente, bem como da megafauna, incluindo mamutes, preguiças-gigantes e outros 33 gêneros de grandes mamíferos.

Mas os céticos apontam o fato de que nenhuma cratera associada ao impacto foi encontrada; além disso, as evidências de incêndios florestais continentais e de um rápido declínio em populações humanas são grosseiras. Se esse evento tivesse realmente ocorrido, pequenos mamíferos e pássaros teriam sobrevivido. Outro estudo recente questionou a probabilidade de impactos de cometas terem sido responsáveis por mais de um evento de extinção durante a história da Terra.

Gill e seu grupo decidiram procurar pistas do impacto de cometa não em terra, mas em três lagos em Indiana e Ohio, onde pólen e minerais se assentam diariamente, criando um registro ecológico com milênios de idade. Ela examinou amostras do fundo dos lagos procurando evidências de cinzas, carvão vegetal, grãos magnéticos, pequenas esferas de silicato, e elementos como titânio e cromo que poderiam ser associados a impactos. Ela não se concentrou em minerais de terras-raras, como irídio, que outros pesquisadores consideram como uma assinatura de impactos.

A equipe não conseguiu encontrar um sinal consistente que indicasse a ocorrência de uma só catástrofe há aproximadamente 12.900 anos. Em um dos lagos o teor de titânio diminuiu ao mesmo tempo em que o de carvão mineral foi aumentando. ?Claramente não foi um impacto?, constatou Gill. Ela também questionou a ideia de que os animais morreram exatamente no momento do suposto impacto.

Esporos de fungos chamados Sporormiella, associados às fezes de grandes mamíferos, na verdade começaram a diminuir há 14.600 anos, logo após o fim da última era do gelo. Os esporos desapareceram do registro de um dos lagos há 13.600 anos e só reapareceram nos últimos séculos, com o aumento da criação de gado em pastos. Ao mesmo tempo, o pólen das plantas que serviam de alimentos para a megafauna ? cinzas, pau-ferro e bétulas ? começou a se acumular, sugerindo que o crescimento das plantas não estava mais sendo ameaçado pelos grandes mamíferos, comedores de folhas.

Segundo Gill, fósseis mais recentes de grandes mamíferos, datados entre 13.600 e 12.900 anos, provavelmente foram os últimos sobreviventes, enquanto o povo Clovis dizimava espécies com suas lanças peculiares.

Mas Firestone não se deixou influenciar pelo novo estudo que, em suas palavras, ?não acrescenta nada ao assunto?. Ele observa que não esperaria encontrar muitas evidências em lagos, porque o material magnético se enferruja, enquanto que as pequenas esferas flutuam e não se juntariam no fundo dos lagos. Para ele, os dados ainda indicam um impacto extraterrestre. ?Em minha opinião, o debate está encerrado.?
Scientific American Brasil




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