(RADICAL OU MARXISTA)
Em meados da década de 70 a revolução quantitativa veio a sucumbir diante de novos horizontes que surgiram com a Geografia Radical que emergiu em resposta aos fenômenos sociais nos EUA. Nesta década segundo Richard Peet os EUA viviam um momento conturbado com manifestações de massa contra políticas governamentais, defesa dos direitos civis e a Guerra do Vietnã resultantes da contradição do qual o capitalismo se move. Com o movimento para uma Geografia Nova de cunho qualitativo logo esta caminhou para a radicalização pela necessidade da relevância social, a revista ?Antipode? abordou temas como: as pobrezas regionais urbana, grupos minoritários, acesso à serviços sociais, porém estas abordagens investigavam apenas aspectos superficiais destas questões (PEET, 1982).
Logo a Geografia Radical buscou intervir no processo político e social através de expedições na sociedade para a Investigação Humana, os geógrafos deveriam ir até as áreas mais pobres tornando-se uma pessoa desta região indo de encontro com os problemas sociais. PEET, 1982, destaca que as expedições iriam treinar as pessoas do local com habilidades geográficas para o enfretamento das desigualdades. Em relação à ?Sociedade para a Investigação Humana?, esta destacava três ramos: educação, publicações e as expedições para as áreas oprimidas, porém este trabalho de defesa de áreas de desigualdades ainda não era a Geografia Radical, esta logo iria se enveredar para o marxismo. A Geografia em direção ao marxismo se empenhou na tarefa da elaboração de um método para a análise das contradições sociais no espaço levando ao entendimento deste mecanismo através do materialismo histórico juntamente com o método dialético. A Geografia Radical caminhou para um sistema de idéias na construção de um paradigma para o pensamento geográfico social.
O que os geógrafos marxistas estão começando a construir é uma sofisticada teoria da dialética espacial na qual a descrição obvia do espaço em centro e periferia é rapidamente ultrapassada a fim de se atingi-se a análise mais complexa das relações espaciais. As relações espaciais são vistas como refletindo as relações sociais; se, nas relações sociais, algumas pessoas trabalhar para sustentar as outras, então no espaço as pessoas da periferia trabalham para sustentar as pessoas dos centros metropolitanos, inevitavelmente estabelecendo contradições e conflitos espaciais (PEET, 1982, p. 244).
Na Geografia Marxista o espaço é movido pelas contradições presentes e por um processo dialético, por exemplo: a existência e manutenção dos países ricos é sustentada a partir da existência dos países pobres, um é parte do outro, em um processo que se forma através do tempo em um materialismo histórico que se constitui pelos processos sociais que se relacionam pela produção e reprodução da base material da vida.
As principais críticas á Nova Geografia ocorrem com a sua prática, internamente pelos próprios praticantes que constituem correntes desejando seu aperfeiçoamento ou até mesmo a sua superação. Segundo FERREIRA e SIMÕES (1986, p. 90), as principais críticas surgidas são:
Os modelos em que ela se apóia são insuficientes para explicar a realidade;
Os modelos encontram-se afastados da conduta real do homem;
Os modelos procuram apenas descobrir o aspecto que tomaria o mundo em consideração apenas certos pressupostos da racionalidade econômica;
A Nova Geografia não se preocupa com a resolução dos problemas sociais.
Yves Lacoste -A geografia do subdesenvolvimento
Esta última, talvez a crítica mais forte, serviu de ideal aos descontentes na formação de uma linha opositora mais radical. Os críticos alegavam que a Nova Geografia e seu neo-positivismo cientificista se colocava a serviço da ideologia capitalista. Seu fraco embasamento teórico deixava a Geografia neutra como ciência crítica que deveria ser. Seu limitado instrumento estatístico era ineficaz ao estudo sócio-econômico e às explicações históricas dos fenômenos. Alguns ainda contestavam a própria ?eficiência matemática?, como a afirmação de SILVA (1988, p. 107): ?Os primeiros trabalhos com os quais tive contato pareciam-me simples exercícios técnicos que de matemática tinham pouco e de geografia menos ainda.? Esse mesmo autor contesta a utilização da expressão ?revolução quantitativa?, pois a estatística não termina com as descrições deficientes tradicionais.
David Harvey
A influência do pensamento marxista na Geografia (final dos anos de 1960) significou uma ruptura com os vínculos positivistas da ciência geográfica. O espaço geográfico é visto como a própria sociedade (espacializada), fruto da reprodução do modo capitalista de produção. A Geografia Crítica na sua versão Radical (ou marxista) assume a característica de uma ciência militante voltada a denunciar e combater as contradições, injustiças e desigualdades sociais. Surge uma ciência com caráter social e até mesmo revolucionário.
Milton Santos - um sistema de idéias para o espaço geográfico baseado na divisão social do trabalho em um sistema de objetos e ações
Bibliografia:
AMORIM Filho, Oswaldo B. Reflexões sobre as tendências teórico-metodológicas da Geografia. Belo Horizonte, ICHS, UFMG, 1978
CHRISTOFOLETTI, Antonio. As perspectivas dos estudos geográficos. In: Perspectivas da geografia. São Paulo: Difel, 1982.
CLAVAL, Paul.. A Nova Geografia. Coimbra: Almedina, 1982.
CORRÊA, Roberto L. Região e organização espacial. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
FERREIRA, Conceição C.; SIMÕES, Nataércia N. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1986.
MORAES, Antonio C. R. Geografia: pequena história crítica. 19ª ed. São Paulo: Annablume, 2003.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo: Hucitec, 1978.
SILVA, Armando Corrêa da. O espaço fora do lugar, São Paulo: Hucitec, 1988.
PEET, Richard. O desenvolvimento da Geografia Radical nos Estados Unidos. In: CHRISTOFOLETTI, Antonio. Perspectivas de Geografia. São Paulo ? SP: Difel, 1982.