Dilma Roussef em Angola
Já dizia o grande filósofo que, na vida, nada é feito sem que haja algum interesse envolvido. E se entre nós, simples mortais, é assim, por que haveria de ser de outra forma nas relações estabelecidas entre as diferentes nações do mundo?
Em uma outra oportunidade, a aproximação efetivada entre chineses e africanos já foi tema de postagem aqui no blog. Não dá para comparar esse contato com a expropriação levada a cabo pelas potências europeias, mas, ainda que a estratégia de formação de uma parceria conjunta seja realizada em nome de um dito intercâmbio que venha a favorecer ambas as partes, é evidente que cada um visa tirar suas próprias vantagens. Afinal, inocência não combina em nada com as práticas comerciais cada vez mais agressivas dos dias atuais.
Muita gente se pergunta sobre como o Brasil agiria se fosse uma grande potência mundial. Será estenderíamos nossas garras, ditando regras e impondo condições aos menos favorecidos? Ou será que desfraldaríamos a bandeira da solidariedade e igualdade entre os povos? Sinceramente, tenho minhas dúvidas.
O artigo que reproduzo a seguir, publicado ontem no portal Deutsche Welle, questiona a viabilidade da formação de uma aliança entre os países do sul, assim como levanta a indagação das verdadeiras intenções da política externa brasileira em relação à África, que, segundo a reportagem, iria muito além de tirar proveito dos fortes laços históricos e culturais existentes com nossos irmãos africanos em adotar o princípio da reciprocidade.
Leia e tire suas conclusões.
A Cooperação Sul-Sul e os interesses brasileiros na África
A parceria entre países emergentes e em desenvolvimento encontrou sua melhor expressão na África, onde o Brasil ajuda a combater a fome e a aids, mas também é acusado de agir a favor dos próprios interesses econômicos.
A euforia era grande há três anos, na Cúpula América do Sul-África que aconteceu na Venezuela. O então líder da Líbia, Muammar Kadafi, posava para a imprensa ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Era para ser o início de uma ampla cooperação entre a África e a América do Sul, um exemplo de sucesso da chamada Cooperação Sul-Sul. Mas três anos depois, no início da 3ª Cúpula América do Sul-África em Malabo, capital da Guiné Equatorial, nesta sexta-feira (22/02), pouca coisa restou do otimismo inicial das primeiras cúpulas, em 2006 e 2009.
Nem mesmo os protagonistas de então estão mais em cena. Kadafi está morto, Chávez está gravemente doente e Lula não está mais no poder. A data inicial da cúpula, marcada para maio do ano passado, acabou sendo adiada pelo governo brasileiro.
Os objetivos traçados também pouco avançaram nesses três anos. Segundo fontes diplomáticas, a execução dos projetos ainda está longe de acontecer. Em vez disso, os dois lados se ocuparam de questões organizacionais, por exemplo a estrutura e o financiamento de um conselho permanente. Até pouco antes do início da cúpula de Malabo, os participantes ainda discutiam a agenda do evento. Além da presidente Dilma Rousseff, confirmaram presença os presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, da África do sul, Jacob Zuma, e da Bolívia, Evo Morales.
Ajuda ao desenvolvimento
"A cúpula é essencialmente política: trata-se da ideia da Cooperação Sul-Sul. E há, de fato, bons exemplos nesse sentido, por exemplo o engajamento do Brasil na África", diz o especialista Alex Vines, do centro de estudos Chatham House, de Londres, especializado em relações internacionais. "Mas, para os outros países sul-americanos, não há muita coisa por trás dessa ideia. A Venezuela, por exemplo, interessa-se principalmente pela ideologia da Cooperação Sul-Sul."
Ou seja, o governo socialista da Venezuela procura sobretudo aliados contra os Estados Unidos e a Europa. O Brasil, por outro lado, dá seguimento à sua estratégia para a África da última década. Por trás da chamada Cooperação Sul-Sul está a ideia de que os países emergentes possam contribuir para o desenvolvimento econômico de países pobres por meio do comércio.
Objetivos nobres e controversos
"Devido à sua ligação histórica com a África, o Brasil se vê como especialmente responsável: como consequência do comércio de escravos, o número de afrodescendentes no maior país da América do Sul é muito alto. O Brasil desenvolveu estratégias para combater a aids e a pobreza, e agora oferece essas soluções para os africanos", diz o especialista em Brasil Markus Frauendorfer, do instituto alemão Giga.
"O programa brasileiro de combate à aids tem uma excelente reputação internacional e é considerado modelo por muitas organizações internacionais", exemplifica.
Há dois anos, o Brasil financiou a construção de uma fábrica para a produção de antirretrovirais em Moçambique. Aprodução atende às necessidades do país de língua portuguesa e também de outras nações africanas.
Mas a Cooperação Sul-Sul promovida pelo Brasil com a África também é controversa. Organizações ambientais e de direitos humanos acusam o país de ter em vista principalmente seus próprios interesses econômicos. As empresas brasileiras veem um mercado consumidor promissor, já que a classe média africana está se fortalecendo devido ao robusto crescimento econômico dos últimos anos. Além disso, elas precisam da matéria-prima africana.
Há vários exemplos da presença de empresas brasileiras na África. A Vale, por exemplo, opera uma mina de carvão em Moçambique. Em Angola, o Brasil cedeu ao regime autoritário de José Eduardo dos Santos empréstimos para a construção de uma grande barragem. A obra foi realizada pela construtora Odebrecht.
Os grandes produtores brasileiros de biocombustiveis também produzem cana-de-açúcar em solo africano, muitas vezes com consequências negativas para as populações locais. "Os grandes perdedores são os pequenos agricultores e os negócios familiares", diz Fraundorfer. "Eles são postos à margem por essas grandes empresas agrícolas, por meio da construção de instalações industriais, e perdem assim os meios de se manter."
Essa é a principal crítica ao Brasil: por um lado, o país se engaja na África com o nobre objetivo de combater a fome e a pobreza; por outro, agrava o problema da fome no continente ao incentivar a produção do etanol.
Peso político
A iniciativa Brasil-África também tem outra dimensão política: o país sul-americano é candidato ? assim como a Alemanha ? a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, e os 54 países africanos têm um peso considerável na Assembleia Geral.
A cúpula vai tratar principalmente de posições e estratégias comuns para cooperações futuras. Mas Vines alerta contra grandes expectativas. "Não devemos esquecer que a África é um continente com 54 países, bem mais do que a América do Sul, e eles são completamente diferentes. Talvez haja compromissos gerais, mas qualquer coisa além disso será difícil. Esse é um projeto de muito longo prazo", conclui.
Autora: Katrin Matthaei (mas)
Revisão: Alexandre Schossler
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