Geografia
Besteirol sobre economia em prova de geografia
Não há dúvida de que a imensa quantidade de mentiras e besteiras que se ensinam às crianças e adolescentes sobre economia é um dos fatores que atrasam o desenvolvimento brasileiro. E as avaliações da qualidade dos livros didáticos realizadas pelo MEC são incapazes de corrigir esse descalabro, posto que os avaliadores partilham das mesmas ideologias toscas que orientam a elaboração dessas obras. Já apresentei muitas evidências disso em meu último livro, e vou acrescentar mais uma agora, denunciada por Fábio Giambiagi e Alexandre Schartzman (2014, p. 131).
A propósito, continuo pouco ativo no blog devido a um problema de tendinite.
Mesmo em muitas das melhores escolas do país, o ensino deixa muito a desejar, pelo viés ideológico que impregna as aulas. Observe-se esta prova, ministrada em uma das melhores escolas do Brasil, sempre colocada no ranking entre os primeiros lugares no ENEM e dada a alunos de 12 anos na disciplina Geografia. Uma das questões era:
Até os dias atuais, muitos países pobres ainda estão pagando os empréstimos tomados no exterior e mesmo tomando novos empréstimos. A consequência é muito grave pois, ao pagar as dívidas e os juros, resta-lhes pouco dinheiro para investir em educação, saúde, saneamento básico etc. Nessas condições, é difícil realizar o desenvolvimento econômico e social. A dívida externa torna-se um grande obstáculo para os países pobres. Cite dois obstáculos que essa dívida externa produz.
Talvez uma leitura rápida da questão não tenha permitido ao leitor perceber a quantidade de absurdos que essa questão encerra. Subliminarmente, o aluno é induzido a pensar que:
i. quem paga juros deveria ser dispensado de amortizar o principal;
ii. a autoridade tem o poder de decidir entre pagar o serviço de uma dívida e outras rubricas de gasto; e
iii. dívidas não deveriam ser pagas, porque isso atenta contra o desenvolvimento
O coitado do garoto ouve esse "besteirol" durante anos e é jogado no mundo aos 18 anos, com muitas ideias preconcebidas sobre as injustiças do mundo, mas sem ter a menor ideia de coisas práticas como, por exemplo, quanto ele vai ter que poupar por mês durante 10 anos para poder dar entrada na casa própria quando casar ou, ainda, quanto deveria contribuir por mês até os 60 anos para, a partir dessa idade, ter uma renda complementar de X. Ele sai da escola pensando que pagar juros é equivalente a amortizar a dívida e só depois de cair na vida vai perceber que, se numa dívida de R$ 100 mil com juros de 1% ao mês ele pagar R$1.000,00 todos os meses, depois de 100 meses a sua dívida não será de zero e sim de R$ 100 mil, "apesar de ter pago R$ 100 mil ao banco".
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GIAMBIAGI, F.; SCHWARTSMAN, A.
Complacência. 1. ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
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