No ano passado, quando li algumas notícias que, diante da crise que assola os países da zona do euro, reitores de universidades portuguesas haviam sugerido que professores de lá viessem trabalhar no Brasil, longe de me assustar ou me sentir ameaçado, achei a proposta interessante.
A ideia não saiu do campo da suposição, mas, caso se concretizasse, não vejo que a vinda desses profissionais pudesse prejudicar nossos colegas de profissão brasileiros, e sim como uma possibilidade que favorecesse todas as partes envolvidas, principalmente no que se refere ao intercâmbio entre professores e, principalmente, os ganhos concretos que nossos alunos poderiam obter com tal troca de experiências. Afinal, todos sabemos das necessidades mais urgentes da educação brasileira; basta ver a quantidade de cartazes que se referem ao tema nas manifestações populares.
Mudando um pouco de assunto e aproveitando a polêmica sobre a possível "importação" de médicos estrangeiros, não é de hoje que observo com um cuidado redobrado o teor de certos discursos que chegam a beirar a xenofobia, como se isso representasse um temor à nossa soberania. Perigoso foi, durante o processo de privatizações levado a cabo por um determinado governo, entregar de bandeja empresas estratégicas do setor energético para a iniciativa privada ou para poderosos grupos transnacionais, que não tem o menor compromisso com o nosso país, a não ser explorar o máximo de nossos recursos.
Também tenho percebido que muita gente reproduz uma fala carregada de intransigência porque assimila o que vem sendo noticiado de modo claramente parcial e tendencioso, sem parar para pensar que todas as referências que estão sendo feitas à contratação de médicos estrangeiros representam um "equívoco" e tanto, principalmente porque o foco principal para a consolidação desse convênio são espanhóis e portugueses, e não apenas os cubanos, como tanto tem sido divulgado.
Por outro lado, se tanto se criticou a proliferação de teorias conspiratórias e golpistas no decorrer dos últimos protestos que tomaram conta do país, está mais do que na hora de muitos se desprenderem daqueles velhos conceitos que provocam delírios coletivos de que uma medida de cunho social que tenha por objetivo suprir as principais carências da população de regiões menos favorecidas seja apenas uma questão ideológica.
No caso da suspeita sobre a qualidade de certos cursos de medicina no exterior, ou ainda, a falta de critérios quanto à entrada dos médicos cubanos, em nenhum me deparei com qualquer tipo de pronunciamento de que o governo concederá validação automática de seus diplomas. Do mesmo modo que a saúde carece de maiores investimentos, algumas decisões precisam ser tomadas de forma imediata, combinadas, é claro, com a adoção de outras a médio e longo prazos, com responsabilidade e continuidade, independentemente se um governo vai ser reeleito ou substituído para exercer um próximo mandato.
Nunca é demais destacar que, mesmo no sistema público de saúde, existem médicos extremamente comprometidos com o conceito de que o seu nobre ofício apresenta um caráter humanitário. Em contrapartida, sejamos francos, o princípio da medicina preventiva (e sua relação custo-benefício) está muito distante da realidade de muitos de nossos profissionais, assim como a distribuição geográfica do número de médicos pelo território nacional ocorre de forma altamente desigual.
Por fim, se tratando de Brasil, algumas coisas que aqui acontecem são imensamente contraditórias. Tanto se fala sobre os danos provocados pela fuga de cérebros que nos esquecemos que a atração de profissionais qualificados é uma prática pra lá de recorrente nos países do mundo desenvolvido.
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