Desde a instalação do projeto, as populações de alguns peixes, como o cherne ( Epinephelus niveatus ), estão aumentando, demonstrando o sucesso da iniciativa, que é também uma maneira viável de reaproveitamento de materiais da indústria petrolífera, bem como de outros produtos descartáveis.
Embora no exterior a criação de recifes artificiais esteja mais ligada à desativação de plataformas petrolíferas ? no lado britânico do mar do Norte, cerca de 300 serão tiradas de circulação nos próximos 20 anos ?, no Brasil o foco é outro. ?O país tem poucas instalações desse tipo a serem desativadas em breve. No entanto, os tubos usados na produção do petróleo têm de ser substituídos regularmente e podem ser aproveitados?, explica o engenheiro Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coppe.
O projeto começou em 2002, mas a instalação dos hábitats só ocorreu em 2003. Originalmente, a Coppe considerou utilizar também a área de Cabo Frio (RJ), onde o mar apresenta características distintas do de Rio das Ostras, como, por exemplo, maior transparência. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pela aprovação do teste, contudo, liberou a instalação, na primeira fase, apenas em Rio das Ostras.
O Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (Cepsul) do Ibama tem acompanhado a evolução do projeto desde o início. ?Como os resultados estão sendo positivos, há a possibilidade de expandir a iniciativa para outras áreas?, conta Estefen.
Geometria submarina
Os 27 hábitats de aço foram construídos com tubos descartados da atividade petrolífera nos mais diversos formatos (cubos, pirâmides, prismas etc.) e tamanhos, sendo o maior deles um cubo de 9 m de lado. ?Essa variedade permite que diferentes espécies se estabeleçam no local, procurando seus recantos preferidos, o que não aconteceria se as estruturas fossem idênticas?, afirma o engenheiro.
Os hábitats contam ainda com telas, que servem como substrato adicional para a incrustação de moluscos e corais. Na montagem, os pesquisadores evitaram o uso de soldas, a fim de diminuir custos e emissões poluentes, optando por fazer a conexão dos tubos por encaixes, com braçadeiras especialmente projetadas e fabricadas para esse fim.
Os hábitats são monitorados de seis em seis meses pelos pesquisadores, que avaliam sua evolução, similaridade e impacto ambiental, comparando-os ao recife natural de Pedras Altas, localizado em área próxima, que serve de parâmetro ao projeto. Segundo Estefen, os resultados mostram um aumento constante da quantidade de peixes, mas ela ainda não é suficiente para manter uma atividade pesqueira.
Além disso, a colônia de pescadores de Rio das Ostras realiza um censo diário das espécies capturadas e já observou o reaparecimento de algumas que não eram mais encontradas na região. ?Vamos agora incorporar novas técnicas de monitoramento, que indicarão quais peixes migram para os recifes e quais nascem lá, os que permanecem e os que abandonam a área?, conta o engenheiro.
A expectativa é que os recifes artificiais se tornem estáveis por volta de 2010. O sucesso obtido até agora tem feito com que outras colônias de pescadores do litoral fluminense demandem que a iniciativa seja estendida até suas regiões. Os resultados apontam ainda para a possibilidade de uso, no futuro, de segmentos de plataformas fixas desativadas. Mas os pesquisadores não querem se limitar à desativação dessas estruturas como base para os recifes artificiais. ?Pretendemos testar outros materiais, principalmente os descartáveis da produção de petróleo e gás?, conclui Estefen.
Fred Furtado
Ciência Hoje/RJ