Se você tem uma certa idade e já brincou antigos carnavais com a marchinha Vem Chegando a Madrugada, de Noel Rosa de Oliveira e Zuzuca do Salgueiro, provavelmente também levou uma chamada da mãe para sair do sereno que caía, como se isso representasse o maior dos perigos que uma criança pudesse correr durante a noite.
Apesar de sentirmos na pele os efeitos da baixa temperatura e da umidade, essas duas representações, que estão mais do que arraigadas no imaginário coletivo, apresentam um equívoco na mensagem transmitida.
Da mesma maneira que as pessoas confundem tempo com clima, o que muita gente não sabe é que estamos falando do orvalho, e este não cai, pois não se trata de uma forma de precipitação.
Em outras palavras, o orvalho nem de longe é uma espécie de chuva fina. Trata-se, pois, da transformação da matéria, do estado gasoso para o estado líquido. Ou seja, o vapor d'água em contato com uma superfície resfriada se transforma naquelas gotinhas que cobrem a vegetação, os vidros e o capô dos carros ao amanhecer.
Na verdade, ainda que a sabedoria popular associe corretamente o sereno à tranquilidade, esse fenômeno, que ocorre em noites de céu limpo e com a ausência de ventos, é decorrente do resfriamento noturno, quando as superfícies ficam mais frias do que o próprio ar. Tais condições fazem com que essa diferença da temperatura do ar com a de uma superfície fria chegue ao ponto da saturação do ar pela diminuição da temperatura, o que também reduz a capacidade do ar atmosférico de conter o vapor d'água e, consequentemente, provoca a condensação e a formação do orvalho.
Cai, cai, sereno devagar,