Se você leu a minha postagem anterior e está se perguntando sobre qual é a relação existente entre o futebol e a Geografia, terei o maior prazer em lhe responder.
Pra começo de conversa, eu é que vou fazer uma indagação: Qual é o esporte mais popular do mundo, capaz de integrar povos e nações, que envolve inúmeros interesses, tanto econômicos quanto políticos?
A resposta não pode ser outra que não o futebol.
Todo mundo sabe que o nobre esporte bretão envolve os mais irracionais e primitivos sentimentos. Da mesma maneira, se existe paixão envolvida, é mais do que sabido que sempre há aqueles que se aproveitam disso e usam de toda a sua racionalidade e senso prático para tirar proveito do que vislumbram como um ótimo negócio.
No meu caso em particular, longe de criticar a intensidade da predileção nacional pelo futebol, a minha intenção é pura e simplesmente aproveitar essa sandice coletiva - da qual me considero como adepto e entusiasta - para ilustrar (e enriquecer) o conteúdo do que poderia vir a ser uma boa aula de Geografia.
Os exemplos são inúmeros, mas agora vou me restringir ao caso brasileiro. Quando falo sobre metrópoles, por exemplo, o futebol pode muito bem ser utilizado como um fator da influência cultural que os grandes centros exercem sobre as demais regiões do país. Veja os casos dos clubes do Rio e de São Paulo, que possuem um gigantesco contingente de fãs espalhados por todo o território nacional. Dá até para confeccionar tabelas e gráficos e analisar os resultados de pesquisas sobre a preferência clubística dos brasileiros ou a distribuição de torcedores por classe social.
Tem mais.
Quando o assunto são empresas transnacionais e marcas globais, se você prestar atenção nos uniformes dos clubes, vai perceber que são verdadeiros outdoors ambulantes, que, dependendo da fase, vendem o espaço das camisas a preço de ouro. Isso sem falar dos vultosos investimentos, muitas vezes provenientes dos patrocinadores, realizados para contratar um determinado jogador.
Se for época de Copa do Mundo, então, aí é um prato cheio. Discutir a cultura e demais características das seleções participantes do maior evento esportivo do planeta é um tema obrigatório, que, nesse período, sempre desperta a atenção da garotada.
Satisfeito? Não? Tudo bem, tenho outros argumentos. Vou até fazer uma pequena lista, com dez tópicos, para relacionar uma coisa à outra.
1- Identidade cultural: Se você é gaúcho, destaque a força da cultura de seu estado e não deixe de frisar que o Rio Grande do Sul é um dos poucos lugares em que os clubes de outras regiões brasileiras não tem tanta penetração. Além disso, não custa lembrar que o estilo de jogo, as técnicas empregadas e as opções táticas são reflexos da cultura específica de cada lugar.
2- Questão social: Lembre-se que, no Brasil, o futebol é um instrumento de ascensão social e que tamanha popularidade deve-se, entre outros fatores, à facilidade de se disputar uma pelada, com uma bola mixuruca ou mesmo com algumas pedras fazendo as vezes de gol.
3- Urbanização: O desaparecimento dos campinhos de terrenos baldios em virtude da expansão do mercado imobiliário. No caso das áreas rurais, a drástica diminuição dos campos de várzea.
4- Política: Os nem sempre compreensíveis critérios de escolha do país a sediar uma Copa do Mundo.
5- Economia: O poder das redes de televisão, detentoras dos direitos de transmissão, ditando regras (como os horários absurdos dos jogos) e estabelecendo o tipo de formato que um campeonato deve ter.
6- Uso da tecnologia: Apesar de os velhinhos da FIFA serem meio avessos à incorporação de inovações à prática do esporte, as transmissões via satélite de partidas disputadas nos mais distantes pontos do mundo são um bom exemplo da abrangência do futebol
7- Futebol internacional: Fale sobre imigração e mencione o número de jogadores brasileiros atuando no Velho Mundo.
8- União Europeia: Aborde o fato de que determinadas equipes do continente parecem verdadeiras legiões estrangeiras (o atleta de um Estado membro da UE não é considerado estrangeiro em outro, o que explica o fato de alguns compatriotas nossos, se descendentes de europeus, procurarem agilizar a documentação para conseguirem a dupla cidadania).
9- Colonização/descolonização da África: Dá também para comentar a respeito das antigas colônias europeias, principalmente na África e também sobre o aumento do fluxo de atletas africanos em direção à Europa. Se você observar que, na seleção francesa, a maioria dos jogadores são negros e que um de seus maiores craques, Zinedine Zidane, é de origem argelina, você logo entende que esse caminho inverso é herança de um passado de exploração efetivado pelas potências europeias sobre outras terras.
10- Efeitos da altitude: Quando a Seleção disputa as eliminatórias ou um time brasileiro participa da Libertadores, uma das maiores preocupações existentes diz respeito aos jogos realizados em lugares de elevadas altitudes.
Eis aí um tema bem abrangente. Você pode falar da regionalização do continente americano, ao se referir aos países andinos, do mesmo modo que não deve deixar de se referir a questões como pressão atmosférica, menor resistência e ar rarefeito.
Lembre-se de mencionar que uma parcela significativa de nossos atletas sentem no organismo a mudança de ambiente e os efeitos da altitude, apresentando problemas como ânsia de vômito, dores de cabeça, tontura, sangramento nas narinas e falta de ar. Sabendo disso, os adversários, costumam aparar a grama bem rente para aumentar a velocidade da bola, quando não molham o campo para que este fique mais pesado.
É curioso que, com a evolução da medicina esportiva, também houve uma reconsideração sobre a forma de encarar os confrontos realizados nos pontos mais altos do continente. Se antigamente os clubes chegavam a esses locais com uma certa antecedência para um período de adaptação, hoje eles preferem chegar em cima da hora, jogar e voltar pra casa. Recentemente, até houve uma acalorada discussão a respeito da sensatez em se realizar jogos em estádios com essas características, mas como uma alteração de tal magnitude representava um conflito de interesses (e perda de votos para o mandatário da FIFA), as pretensões dos prejudicados não deram absolutamente em nada.
Bom, foi tudo de cabeça e acho que me lembrei de tudo. Não custa nada dizer que costumo utilizar com frequência tudo que mencionei em minhas próprias aulas e, por experiência pessoal, o resultado é sempre satisfatório.
A lista podia continuar. O campo é fértil, a grama é verde e assunto para ser discutido é o que não falta. Parodiando o Lula e usando o futebol como metáfora, agora passo a bola para você e te deixo na cara do gol.
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