No início de julho dediquei uma postagem ao golpe de Estado no Egito, que provocou a destituição de Mohammed Morsi do cargo de presidente e o afastamento de seu grupo político, a Irmandade Muçulmana, dos círculos do poder.
Um pouco mais de um mês depois, os desdobramentos da crise egípcia resultaram num banho de sangue levado a cabo pelas forças de segurança, que reprimiram violentamente os manifestantes islamitas favoráveis à restituição do presidente deposto, que ocupavam dois acampamentos na cidade do Cairo, capital do país.
As últimas notícias giram em torno do elevado número de vítimas, de cerca de 235 mortos e 2.001 pessoas feridas, além do fato de o governo ter decretado estado de emergência e toque de recolher por um mês.
A página da BBC Brasil preparou uma matéria bem elucidativa, com perguntas e respostas, sobre o que está acontecendo no país norte-africano.
Entenda as causas dos conflitos no Egito
Forças de segurança do Egito removeram dois acampamentos ocupados por apoiadores do presidente deposto Mohammed Morsi.
Os tumultos no país começaram no dia 3 de julho, dia em que Morsi foi deposto, e um ano após ele ter sido eleito.
O que aconteceu nos acampamentos pró-Morsi?
No início da manhã do dia 14 de agosto, as forças de segurança do Egito agiram para remover dois acampamentos ocupados por apoiadores de Morsi localizados na Praça Nahde e do lado de fora da mesquita Rabaa al-Adawiva, no oeste do Cairo.
Gás lacrimogênio foi usado para dispersar os manifestantes, e rajadas de metralhadora também foram ouvidas. Escavadeiras foram utilizadas para remover os acampamentos e barricadas de pedra.
Acredita-se que dezenas de pessoas foram mortas na operação, mas a Irmandade Mulçumana, que apoia as manifestações, diz que esse número é muito maior.
Os manifestantes querem a volta de Morsi, e desafiaram os avisos das autoridades sobre o fim dos acampamentos.
O que aconteceu para o Presidente Morsi ser deposto?
Durante o primeiro ano do presidente islamita Mohammed Morsi no cargo, ele se desentendeu com as instituições e setores da sociedade, e muitos egípcios achavam que ele estava fazendo pouco para resolver os problemas econômicos e sociais do país.
O Egito ficou dividido entre apoiadores de Morsi e seus opositores, que incluíam esquerdistas, liberais e secularistas.
No dia 30 de junho de 2013, milhares de pessoas foram às ruas para protestar diante do primeiro aniversário de posse de Morsi, em manifestação organizada pelo Movimento Tamarod, oposicionista.
No dia 1º de julho, o exército alertou o presidente Morsi de que, caso ele não atendesse às demandas do público em 48 horas, militares iriam intervir e impor seu próprio "roteiro".
Com a aproximação do ultimato, Morsi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito. E avisou que qualquer iniciativa para depô-lo à força poderia lançar o país no caos.
No entanto, no dia 3 de julho, o chefe das forças armadas, o general Abdul Fattah al-Sisi, anunciou que a constituição havia sido suspensa e que o líder da Suprema Corte, Adly Mansour, comandaria um governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares fossem convocadas.
A mais alta autoridade islâmica do país, o grã-xeque de Al-Azhar, o líder da Igreja Copta, bem como o principal nome da oposição, Mohammed ElBaradei, aprovaram a deposição.
Soldados, apoiados por veículos blindados, tomaram locais importantes da capital, Cairo, enquanto centenas de milhares de manifestantes de oposição e partidários de Morsi foram às ruas.
Quem é Mohammed Morsi e o que aconteceu com ele?
Mohammed Morsi ganhou força dentro da Irmandade Muçulmana do Egito, um movimento islâmico proibido durante décadas, e tornou-se presidente de seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça.
Morsi ganhou as eleições presidenciais em junho de 2012, e tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito. A eleição, considerada livre e justa, aconteceu após um período turbulento da ditadura militar, que viu seu líder de longa data, Hosni Mubarak, ser deposto em fevereiro de 2011, também após protestos de massa.
Desde que ele foi deposto, Morsi está preso em um local não revelado.
Outras figuras importantes da Irmandade Muçulmana também foram detidas, incluindo o poderoso vice-líder Khairat al-Shater, que é acusado de incitar a violência.
O que aconteceu desde o golpe militar?
Partidários de Morsi realizaram comícios quase diários exigindo seu restabelecimento na presidência. A sede da Guarda Presidencial, no Cairo, foi um dos principais locais de manifestação, já que muitos acreditam ser o lugar onde Morsi está preso.
Falando depois de pelo menos 51 pessoas terem sido mortas do lado de fora da sede da Guarda Presidencial em 8 de julho, o Partido Liberdade e Justiça pediu "uma revolta" contra "aqueles que tentam roubar sua revolução com tanques".
No dia 27 de julho, mais de 70 pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança no acampamento ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya. As forças de segurança foram acusadas de usar força letal desnecessária. O Ministério do Interior acusou os manifestantes de usar armas de fogo.
Manifestantes anti-Morsi também foram às ruas. O general Sisi os encorajou a ocupar as ruas no dia 26 de julho para dar ao exército um "mandato para enfrentar possíveis ações de violência e terrorismo".
Segundo a mídia egípcia e fontes oficiais, cerca de 160 pessoas foram mortas em manifestações e confrontos com as forças de segurança antes da ação para dispersar os acampamentos.
O que vai acontecer agora?
O general Sisi disse que Mansour comandaria um "governo interino até que um novo presidente seja eleito".
Mansour traçou planos para a transição, incluindo uma revisão da Constituição apoiada por Morsi, e novas eleições parlamentares no início de 2014. O plano foi rejeitado pela Irmandade Muçulmana e também criticado pelos partidos de esquerda e liberal.
Sisi prometeu "não excluir ninguém ou qualquer movimento", e pediu medidas para "capacitar os jovens e integrá-los nas instituições do Estado".
No entanto, ele não definiu a duração do período de transição, ou qual será o papel dos militares.
O exército é a mais poderosa entidade governamental, e muitos dizem que funciona como um Estado dentro do Estado. Empresas que pertencem ao exército constituem uma proporção significativa da economia do Egito.
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