Mais de um bilhão de almas sem acesso a água potável
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Mais de um bilhão de almas sem acesso a água potável


Relatório da ONU informa que cerca de 25 mil pessoas, boa parte delas crianças, morrem a cada dia, no mundo inteiro, vítimas de doenças causadas pelo consumo de água de má qualidade

Didi Rodrigues/EM



Água de boa qualidade sobra em Minas, mas é escassa no Nordeste e em grande parte da Terra

Paris ? A Organização das Nações Unidas (ONU) dedica o dia de hoje à Jornada Mundial da Água, assustada com o fato de a escassez do líquido já estar prejudicando a vida de mais de 1 bilhão de humanos, em toda a Terra. Situação que, ressaltam especialistas, vai se tornar ainda mais grave, em virtude da pressão causada pelo aquecimento global e demanda de uma população crescente.

Adiantada em dois dias, por causa do fim de semana de Páscoa, este ano a data permitiu medir a ausência de progressos. Hoje em dia, um terço da humanidade (2,4 bilhões) continua a viver sem acesso a uma água de qualidade, nem a simples vasos sanitários, e a cada dia 25 mil pessoas ? sobretudo crianças ? morrem em função desse problema.

Diante do panorama, a opinião geral é de que a 7ª Meta de Desenvolvimento para o Milênio, adotada em 2002 na conferência de cúpula de Johannesburgo, é quase impossível de ser atingida. A proposta, entre muitas outras, é reduzir pela metade, até 2015, e em relação a 1990, o número de pessoas sem água potável. Seria necessário que, a cada ano até o final do prazo estabelecido, mais 100 milhões de pessoas tivessem água em condições de consumo, ou 274 mil ao dia.

VALIOSA Para que a água seja igualmente distribuída pelo planeta e para que uma água de qualidade seja acessível a todos, é preciso pagar o preço. ?Globalmente, ela é abundante em lugares onde não há ninguém?, afirma Pierre Chevallier, especialista em recursos de água do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), da França. Ele cita, como exemplo, a região amazônica do Peru ou do Equador, que é pouco povoada e rica em fontes. O contrário ocorre na costa do Pacífico, do lado do Chile, pulmão econômico que abriga grandes cidades e que sofre com a seca.

?A situação vai piorar com o aquecimento global, que acelerará os fenômenos de evaporação e do derretimento das geleiras e reduzirá ainda mais a quantidade de água disponível?, explica Chevallier. ?Com a pressão demográfica: não apenas a população mundial aumenta, mas também as exigências desta população com a melhoria de suas condições de vida nos grandes países emergentes.?

Hoje a água reservada ao uso doméstico ? consumo humano e à higiene dos lares ? serve apenas para 10% do consumo planetário (contra 20% para a indústria, principalmente para a produção de energia, e 70 % para a agricultura, em média). Mas consideráveis disparidades são registradas em regiões como a Ásia, onde a agricultura pode absorver mais de 85% das reservas.

?O consumo de água varia sobretudo de acordo com critérios econômicos e culturais e países que produzem pouco, como os do Golfo, podem estar também entre os grandes consumidores? , ressalta o pesquisador. Em média, um cidadão norte-americano consome 500 litros de água/dia e um europeu 200 a 300 litros , quando um africano da região saariana dispõe de 10 a 20 litros de água/dia para uso doméstico. E esses desequilíbrios, quantitativos e qualitativos, vão se exacerbar.

RECURSOS Alguns hábitos alimentares, adotados devido à melhoria da qualidade de vida, envolvem particularmente altos índices de consumo: 15,5 mil litros de água são necessários para produzir um quilo de carne de boi industrializado, lembra a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com o Programa da ONU para Meio Ambiente (PNUE), com uma população de 1,5 a 1,8 bilhão até 2050, a Índia terá necessidade de 30% a mais da água de que dispõe atualmente. Sua agricultura, sobretudo a cultura do arroz, já absorve cerca de 90% dos recursos disponíveis. ?O problema é que estocar ou transportar a água necessita de investimentos colossais?, ressalta Pierre Chevallier. ?Isso não é tecnicamente impossível, mas os países mais necessitados geralmente não têm os meios.?




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