Israel se choca contra seu muro
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Israel se choca contra seu muro


La  Vanguardia
Lluís Amiguet

Sete anos depois do início da construção da barreira de segurança da Cisjordânia, conhecida como "o muro", os trabalhos estão quase paralisados. O tenente-coronel Shaul Arieli, especialista nesse tema no Conselho de Paz e Segurança, afirmou a este jornal que "com pequenas exceções, os trabalhos foram interrompidos em novembro de 2007". "Desde o primeiro momento entendi que não se tratava de uma barreira de segurança temporária, mas de uma estratégia para determinar as futuras fronteiras de Israel e Palestina. Até onde chegar a barreira chegarão as reivindicações israelenses", acrescentou.

Ao contrário do que se acredita, só 5% da barreira são realmente um muro. O resto é uma cerca de segurança composta por alambrados de todo tipo, cuja construção foi a reação nervosa de um país atacado nos primeiros anos da segunda intifada (que eclodiu em setembro de 2000) por cerca de duas centenas de homens, mulheres e meninos-bomba, dispostos a morrer para matar em Israel.

Até o momento o Estado israelense investiu 9,5 bilhões de shekels (cerca de R$ 4,7 bilhões) para completar cerca de 60% dos 700 km da barreira. A oposição dos EUA, a escassez de verbas, os recursos entrepostos no Tribunal Supremo israelense e sobretudo a drástica redução de atentados contribuíram para a atual detenção das obras. Somente em Bilein e em Bir Nabala, ao norte de Jerusalém, ainda se pode ver algum tipo de trabalho. Em Bilein há confrontos de manifestantes com o exército quase todas as sextas-feiras, às vezes com vítimas.

Desde a decisão inicial do governo de Ariel Sharon, em junho de 2002, o traçado da barreira sofreu mudanças drásticas. Inicialmente o plano era anexar de fato 20% do território da Cisjordânia. Mas há cinco anos o Tribunal Internacional de Justiça de Haia decidiu pela ilegalidade da barreira, que transforma em pesadelo a vida de dezenas de milhares de palestinos. Agricultores viram seus campos ficar do outro lado da barreira; universidades, colégios e hospitais ficaram isolados e em alguns pontos há povoados rodeados pelo muro de todos os lados.

Diante das críticas internacionais e de uma sentença do Tribunal Supremo de 2004, o governo redesenhou três vezes o traçado da barreira. Atualmente a cerca e o muro ocupam 4,5% da Cisjordânia. Os 60 mil colonos judeus que vivem em assentamentos situados além da barreira creem que "esta é a via mais rápida para a criação de um Estado palestino". É possível que tenham razão: de fato, o governo anterior, encabeçado por Ehud Olmert, aprovou um plano de indenização dos colonos em troca da futura retirada dessas colônias chamadas "isoladas".

A proposta israelense aos palestinos era uma troca de territórios: Israel ofereceria 4,5% de seu território em troca de áreas ocupadas pela barreira de segurança. Israel cederia, por exemplo, terrenos adjacentes à densa Faixa de Gaza e um corredor sobre território israelense entre Gaza e Cisjordânia. O objetivo israelense é incluir nos 4,5% os principais blocos de colônias, como Ariel, Maale Adumim e Gush Ezion, com dezenas de milhares de moradores.

Os palestinos se negam a aceitar, especialmente os chamados dedos: enclaves além da linha verde de 1967. "Israel quer cravar dedos em nossos olhos, nos lugares mais estratégicos da Palestina", acusam em Ramallah. Tanto o governo americano de George W. Bush como o atual de Barack Obama se opuseram taxativamente.

A drástica melhora no funcionamento das forças de segurança da Cisjordânia (treinadas pelos EUA e a UE), sua firme luta contra os islâmicos radicais e a colaboração com o exército e serviços de segurança israelenses mudaram a situação. Diante da ausência de suicidas, a pressão pública israelense para a construção da barreira praticamente desapareceu. Os políticos israelenses não estão motivados para cuidar dessa batata quente que pode prejudicar ainda mais as relações com o governo Obama.

O anúncio pela televisão da principal companhia de telefones móveis, Cellcom, está provocando um terremoto em Israel. Nele pode-se ver um grupo de soldados patrulhando junto ao muro. De repente alguma coisa cai perto deles. Eles se assustam ao crer que é uma bomba, mas é só uma bola. Atiram-na de novo para o outro lado do muro e começa um jogo com um adversário invisível. Quando o palestino não devolve a bola, os soldados dizem: "Ei...?" A bola volta e o jogo continua.

O deputado árabe-israelense Ahmed Tibi apresentou uma queixa contra o anúncio e exigiu sua retirada. "O muro separa famílias e impede que crianças cheguem ao colégio e ao hospital, mas o anúncio o apresenta como se estivesse em um jardim de Tel Aviv", denunciou. No final da publicidade o locutor exclama: "Afinal, o que todos queremos? Nos divertir. A Cellcom nos ajuda a fazer isso".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves




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