Geografia
Há algo de podre na geografia agrária
Há alguns anos, redigi um parecer sobre um artigo enviado para uma revista científica e, embora eu tenha aprovado a publicação condicionada à realização de algumas alterações, o autor do trabalho enviou um e-mail à Comissão Editorial com críticas ao meu trabalho. A Comissão me enviou cópia do e-mail, o qual reproduzo abaixo (incluindo erros de português):
Me parece que o parecerista número 1 não leu o texto. Se o leu na íntegra o fez com juízo de valor e sua análise se baseou numa leitura superficial. Primeiro o que está em jogo não é demonstrar o número de camponeses no Brasil. O que se pretende no texto é demonstrar que boa parcela dos camponeses brasileiros tem procurado fugir da integração com a indústria. Não sou eu quem está levantando essa hipótese de forma idealista, são eles, os camponeses que estão buscando alternativas para se reproduzirem no campo. Neste sentido, a minha reflexão parte dessas estratégias que eles estão criando para fugir dos mecanismos formais do capitalismo, daí a crítica que faço a Abramovay (1998). Segundo Milton Santos não se constitui num paradigma da questão agrária. Utiliza-se Milton Santos no sentido de demonstrar que o aprofundamento do capitalismo sobre as relações sociais tende aumentar as desigualdades sociedades, que ele denomina de globalização perversa. Os camponeses não fogem dessa lógica do capital. Todavia, o parecerista não percebe que no decorrer do texto estou esboçando três paradigmas teóricos que tem norteado as pesquisas sobre o campo brasileiro. Terceiro, é praticamente inacreditável que o parecerista em sua análise afirma que o conteúdo do artigo é pouco relevante para a geografia. Será que a luta diária desses camponeses para se reproduzirem no campo sob a égide da exploração capitalista personificada no capital industrial, comercial e financeiro, não é importante para a geografia?
Acredito que a revista deveria rever a forma de avaliação de alguns de seus pareceristas.
É óbvio que eu escrevi uma resposta e a enviei à Comissão Editorial para que fosse encaminhada cópia ao autor. Mas vou deixar essa resposta para o próximo post, a fim de não me alongar demais agora. Por enquanto, pergunto apenas o seguinte: o que há de podre na geografia agrária ou rural brasileira e que se revela nessa mensagem?
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