Há situações em que o mundo parece anestesiado, incapaz de reagir de forma adequada a situações catastróficas de miséria humana. Fazem parte delas as frequentes fomes na África. Parece haver acomodação diante de tristes fotos de seres humanos destituídos de toda a dignidade, como se prisioneiros fossem de campos de concentração nazistas.
Sabe-se que, a cada nova tragédia, países doadores se reúnem para ajudar, organizações internacionais se mobilizam, ONGs assistenciais entram em ação e voluntários de muitos lugares do mundo formam batalhões humanitários. Com isso conseguem, no máximo, atenuar os efeitos da fome.
Considere-se a situação do Chifre da África, onde 13 milhões de pessoas têm sua subsistência ameaçada em Somália, Quênia, Etiópia e Djibouti. O epicentro da crise é a Somália, onde a fome já atinge seis das oito regiões do país, e 750 mil estão na iminência de morrer por falta de alimentos. O cálculo é da ONU, segundo a qual centenas de somalianos perecem a cada dia - metade deles crianças - apesar do aumento da ajuda externa.
A Somália, cujo estado praticamente desapareceu desde conflitos internos na década de 90, enfrenta uma terrível conjunção de fatores: seca e quebra de safras, preços da comida em alta acelerada, grupos em guerra que impedem a distribuição ou saqueiam os alimentos levados ao país. Quatro milhões de pessoas, mais da metade da população, estão em situação de crise alimentar, segundo a ONU.
Leve-se em conta que os países ricos estão hoje em apuros, o que os leva a cortar justamente na ajuda externa à luta contra a miséria, a fome e a doença. O Congresso americano já brecou US$ 8 bilhões da verba pedida pelo Executivo para o Departamento de Estado e para a ajuda externa. Contribuições para a ONU foram reduzidas em centenas de milhões de dólares, atingindo missões de paz e o Programa Mundial de Alimentação.
O mais grave é que os próprios líderes africanos viram as costas ao problema. Em visita ao campo de Dadaab, no Quênia, que aloja 400 mil refugiados alimentares da Somália, o músico Youssou N'Dour, do Senegal, um dos embaixadores do Unicef, criticou duramente esses líderes que, em grande parte, boicotaram uma conferência da União Africana para levantar fundos para enfrentar a crise. "Os africanos não estão dando o exemplo. Autoridades vivem como nababos. Precisam de mais dinheiro e poder para elas mesmas. Só pensam nelas e não na população de seus países", atacou N'Dour.
À comunidade internacional não basta agir de forma tópica, nas crises. Em relação à Somália, por exemplo, ao lado do esforço humanitário, é necessário outro para ajudar o país a construir instituições que possam, futuramente, fazer frente de forma mais efetiva a situações como a atual.
E parte do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a advertência tantas vezes ouvida, mas a cada dia mais pertinente. É preciso uma ação multilateral urgente contra o aquecimento global, causa importante das mudanças climáticas que tornam ainda mais dramáticas as secas em vastas regiões da África, e do mundo.
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