O argumento utilizado pelo José Sarney, no qual afirmou - em outras palavras - que não havia razão para renúncia da presidência do Senado, visto que todos os senadores são iguais, aspecto confirmado durante as discussões entre os seus membros face às denúncias de irregularidades praticadas por estes mesmos, me fez lembrar de uma situação de estarmos de "rabo preso".
Tal situação aparece bem ilustrada no livro infanto-juvenil "Uma História de Rabos Presos", de autoria da escritora Ruth Rocha.
Quando eu pensei em elaborar um projeto sobre a política brasileira, a professora Eliane Castro, da E.M. Dilermando Cruz, sugeriu dois livros da mesma autora. Um deles foi "O que os olhos não vêem" e o outro é o acima citado, cujo conteúdo é bastante crítico e análogo ao que perpassa, em nosso país, nas funções e nas relações interpessoais estabelecidas no âmbito dos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Qualquer semelhança não é mera coincidência. O livro foi lançado em 1989 e continua atualizado, tal como nos remete a história política do país. Infelizmente!
Sua história passa na cidade fictícia de Egolandia, cujo prefeito Egomeu precisou de muito dinheiro para se eleger. Em sua campanha eleitoral, este distribuiu umas duas mil camisetas, graças ao coronel Eurico, que pagou por estas.
Em troca do favor concedido, o prefeito atendeu um pedido antigo do coronel e mandou abrir uma estrada no sul da cidade, onde este possui terras. Apesar da estrada ligar "nada com coisa nenhuma", a estrada acabou valorizando as terras do coronel Eurico, tal como era o seu intento.
Assim como o prefeito e os vereadores, outros também mantêm uma relação de favores "obrigatórios" mediados por irregularidades e falcatruas ocultas, que acabam sendo descobertos e mostrando que todos têm o rabo preso.
Assim, que estes são descobertos, surgem enormes rabos nas pessoas e, aos poucos, estes se enroscam uns nos outros.
É tão nítido a relação análoga ao que estamos presenciando no Senado e em todas as instâncias da política brasileira.
Infelizmente, todos apresentam "rabos presos" e, quando um não tem, a pressão é muito grande e o próprio sistema cria situação para que este adquira e passe a integrar o grupo dos corruptos, dos desleais, entre outras denominações correlacionáveis.
Vale a pena ler o livro. Eu indico!