Imagem de Sávio Bruno, capturada na Internet
(Serra da Canastra - São Roque de Minas/MG)
Ultimamente, algumas notícias têm sido vinculadas à ocorrência do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) no Brasil.
Hoje mesmo, o Globo Rural (diário) da emissora de Televisão Globo transmitiu uma reportagem sobre o caso da referida ave em um trecho do rio Novo, no Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins.
Recentemente, eu recebi por e-mail, um Boletim de Notícias do Instituto Ciência Hoje, no qual uma das matérias era ?Pato-mergulhão: termômetro ambiental Documentário mostra hábitos de ave rara que pode ser bandeira de conservação do rio São Francisco? (Boletim CH n° 202).
O referido artigo apresenta um documentário acerca dos hábitos do pato-mergulhão. O vídeo, recém-lançado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), teve suas filmagens realizadas no Parque Nacional da Serra da Canastra (Minas Gerais), no local próximo à nascente do rio São Francisco, onde se verifica a maior concentração desta espécie no país.
Interessei-me pelo artigo e além deste, procurei pesquisar mais a respeito da referida espécie.
O curioso é saber que o pato-mergulhão, ave rara, ameaçada de extinção, antigamente, existia em boa parte da América do Sul, em muitos rios do Brasil, Paraguai e Argentina e, hoje, só é encontrado no Brasil.
Alguns sites ainda se referem à ocorrência na Argentina e no Paraguai, porém dados mais recentes já descartam estes dois países, uma vez que faz muito tempo que não há registro da ave nos referidos países. Este fato pode ser um indício de que ela não mais exista por lá.
Em território nacional, no entanto, a espécie só é encontrada em algumas áreas. Isso já era previsível. Previsível devido às condições de sua sobrevivência mediante a apropriação e ocupação do solo pelo homem que, ao longo do tempo, vem causando a poluição dos rios, habitat natural da referida ave.
De acordo com o levantamento realizado, o pato-mergulhão (nome popular), cujo nome científico é Mergus octosetaceus (Vieillot, 1817), é uma ave da Ordem: Anseriformes e da Família: Anatidae. É também conhecido pelos nomes populares: merganso do sul, mergulhador, patão e pato-mergulhador.
Sua espécie está ameaçada de extinção (nível crítico) tanto na lista de espécies ameaçadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) quanto na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
É um anatídeo com 49 a 56cm de comprimento.
Tanto a cabeça quanto o seu pescoço é de cor verde-petróleo/metalizado, sendo o dorso verde-escuro, o peito cinzento pálido malhado e um abdômen esbranquiçado. As patas cor rosada-lilás.
De feições esguias, o pato-mergulhão tem bico escuro, longo, fino, serrilhado e acentuadamente curvo na extremidade (adaptado para capturar peixes com mergulhos de extrema destreza). Apresenta uma longa crista na cabeça, que na fêmea é - normalmente - de dimensão menor.
O macho possui um penacho nucal maior do que a fêmea. Além disso, a cabeça do macho é um pouco mais robusta.
O seu habitat natural é o rio, mas rio de águas límpidas, com corredeiras (rios de planalto ou rios de montanhas) e com matas ciliares ou matas de galerias.
Sua alimentação básica é constituída de peixes, especialmente os lambarís (Astianax sp.), o que não exclui a possibilidade de capturar outras espécies, de tamanho bem mais avantajado. Pequenos invertebrados também podem, eventualmente, constituir parte de sua dieta.
É uma espécie monogâmica e acredita-se que, após formado um casal, este permanece unido por toda a vida. Enquanto seus filhotes ainda não dominam a arte de voar (e nem possuem penas adequadas para tal), o casal não costuma voar para afugentar-se de ameaças, como pessoas que se aproximam, pois permanecem juntos com seus filhotes, protegendo-os. Família unida é um lema que deve ser levado a sério! Nesta situação, os patos podem ser observados em certas ocasiões, por mais tempo, pois, em regra geral, se afastam do perigo iminente, nadando ao longo do rio, seguidos de seus filhotes.
Seus ninhos podem ser estabelecidos em barrancos ou paredões rochosos, assim como em cavidades de árvores. Até o momento, as maiores ninhadas contam com oito filhotes.
O pato-mergulhão vive por muitos anos.
Apresenta baixa densidade populacional e riscos de extinção total em razão das alterações antrópicas em seu habitat natural, que vão além da poluição das águas (urbanização, garimpo, atividades agrícolas etc.), como a própria destruição das matas ciliares e de galerias, da construção de hidrelétricas, que transformam trechos de rios de planaltos (com corredeiras) em lagos artificiais.
Dentre os principais predadores, destacam-se a lontra e certos gaviões. Até momento, os patos-mergulhões não foram submetidos oficialmente a condições de cativeiro e consequentemente não houve estudos baseados nestas.
Há registros, incluindo históricos, da ocorrência do pato-mergulhão nos estados de Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, bem como em regiões limítrofes do Paraguai e Argentina.
Todavia, na maior parte destas localidades, a espécie não é mais encontrada. Atualmente, as duas principais áreas de ocorrência do pato-mergulhão em território nacional são a Serra da Canastra (Minas Gerais) e a Chapada dos Veadeiros (Goiás). Em ambas, o IBAMA mantém extensos Parques Nacionais destinados à proteção da fauna e da flora nativas, cujos planos de manejo preveem ações de conservação da referida ave.
Outras localidades, onde há registros de sua presença são os estados do Paraná, Bahia e do Tocantins. Sendo este último, no Parque Estadual do Jalapão, tal como mencionei acerca da reportagem do Globo Rural de hoje.
Apesar de estar classificada como ave em situação crítica de extinção, as tentativas implementadas por meio de Programas e Projetos Institucionais - ao meu ver - parecem contribuir, de fato, para reverter tal quadro e, quem sabe, a espécie não permanecer em tão acentuado risco de extinção.
Além da Serra da Canastra, localizada em Minas Gerais, que apresenta a maior concentração da espécie pato-mergulhão, a reprodução da espécie também tem sido observada no Jalapão, no Tocantins.
O Projeto de Monitoramento e Conservação do Pato-Mergulhão desenvolvido, desde 2007, pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) vem registrando anualmente a reprodução da espécie, que já conta com 25 filhotes.
Estes registros são significativos não só para a sobrevivência da espécie na localidade, como também podem fornecer elementos capazes de subsidiar um maior aprofundamento acerca da vida e do comportamento deste no meio ambiente.
Embora, as informações correspondam a uma vitória em meio aos riscos de extinção, sabe-se que as formas de uso e de apropriação do solo pelo homem, longe está de permear a conciliação do desenvolvimento com a conservação do meio ambiente, em um nível de sustentabilidade ambiental para todas as espécies, sejam estas animais (incluindo o homem) e vegetais.
Os riscos são eminentes, infelizmente. Estes, por sua vez, se apresentam como termômetro à qualidade ambiental... enquanto existirem em um determinado rio, a poluição não se faz presente. Todavia, quando este desaparecer de um determinado local, onde ocorria, vamos ter a certeza, que a intervenção antrópica direta e/ou indiretamente se faz presente.
A pureza da água do rio constitui um fator condicionante para a sua presença no meio ambiente.
Fontes de consultas
. Ambientebrasil
. Ciênciahoje
. Ficha Técnica de Espécie Ameaçada de Extinção
. Pato-mergulhão
. Wikiaves
. Wikipedia
OBSERVAÇÃO: Texto revisado e com contribuições do Prof. Sávio Bruno (UFF)/Outubro de 2009
Pato Mergulhão - Imagem capturada da Internet
(Imagem de Sávio Bruno/Ciência Hoje On-line)
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