Conservadores e revolucionários fazem sociedade há muito tempo, no Brasil
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Conservadores e revolucionários fazem sociedade há muito tempo, no Brasil


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A novela do "mensalão" já está em seus últimos capítulos, e as análises políticas sobre o escândalo destacaram, entre muitas outras coisas, o seguinte: que a falência do socialismo empurrou as alas revolucionárias do PT para um pragmatismo tão cínico que as levou a se acomodar e beneficiar de velhas práticas patrimonialistas e fisiológicas; e que o gosto com o qual decidiram tomar banho de lama era uma decorrência lógica da velha ética revolucionária, segundo a qual não se faz omelete sem quebrar ovos. 


De fato, quem não se importa de matar milhões em nome da mudança social também não vê problema algum em roubar bilhões alegando o mesmo objetivo. E nem de botar uma boa parte desse dinheiro no bolso, já que isso seria uma compensação justa para os riscos que os revolucionários correm quando armam falcatruas em nome da causa. Daí que a esquerda mais ideológica e radical não apenas se entrega fácil à corrupção como até se adianta em inventar "esquemas", o que contraria frontalmente a conversa mole de petistas enrustidos como Renato Janine Ribeiro, segundo o qual idealistas de esquerda não roubam para si mesmos.

A maior prova disso está no fato de que o "mensalão" foi apenas uma repetição da história. No ano passado, com efeito, saiu uma resenha sobre o livro Marighella - o guerrilheiro que incendiou o mundo, do jornalista Mário Magalhães, na qual o resenhista observa com propriedade:
O livro reconstitui os 57 anos de vida do guerrilheiro da ALN e traz revelações políticas e pessoais que, em tempos de Comissão da Verdade e julgamento do mensalão, ajudam a compreender não apenas o percurso de um homem, mas da esquerda brasileira. No campo da luta armada e da política, a atuação de Marighella foi pautada pela ideia do pensador italiano Maquiavel, para quem "os fins justificam os meios". A pesquisa de Magalhães traz um exemplo revelador: ao longo de anos, o PCB de Marighella recebeu uma espécie de "mensalinho" do então governador de São Paulo, Adhemar de Barros (1901-1969), símbolo do conservadorismo político de direita, sobre quem foi cunhada a frase "rouba, mas faz". O dinheiro era pago aos comunistas em troca de apoio eleitoral. Todas as ações de Marighella e da guerrilha, incluindo assaltos, atentados e sequestros, ressurgem em detalhes e sem subterfúgios, que poderiam transformar seu personagem principal em herói (Cf.: Carlos Marighella, um guerrilheiro de muita luta e poucas ideias).
Não dá para saber, com base nessas informações, o que Marighella e seus companheiros faziam com o dinheiro. Mas é cristalino que, muito antes da derrocada socialista, a esquerda revolucionária já se entregava a negociatas em sociedade com setores da direita. Se a Quada do Muro tiver trazido alguma mudança nesse campo, pode ter sido apenas a de aumentar a disposição dos socialistas para enfiar uma boa parte do dinheiro roubado do Estado no bolso. 

Na outra ponta do espectro ideológico, vemos aí uma prova de que políticos brasileiros conservadores e de direita, fieis ao estatismo autoritário e antiliberal herdado da doutrina corporativista portuguesa, não veem problema nenhum em repartir o butim do Estado com quem quer que seja. Negócio é negócio, ora essa!

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