Angola é logo ali no Rio de Janeiro
Geografia

Angola é logo ali no Rio de Janeiro



Encontrei o texto que reproduzo a seguir num livro didático da 8ª série (9º ano), utilizado em muitas das escolas do estado do Paraná. Trata-se do Projeto Araribá, da Editora Moderna.

Não vou entrar no mérito da qualidade do livro, mesmo porque o meu objetivo aqui hoje é apenas dar crédito a matéria em si, que achei muito apropriada para ser destacada neste momento.

Muitas cidades brasileiras contam com a presença de estudantes africanos, que, mesmo percebidos, até que ponto estão plenamente integrados à nossa sociedade?

O interessante disso tudo é a ironia fina do destino. A história que aprendemos parece estar sendo reinventada, com uma nova roupagem.

Pode ser o resgate de uma dívida histórica. Essa é apenas uma faceta de nossas verdadeiras raízes. Vamos nos redescobrir.

O passado repetido no presente. Famílias angolanas ocupam hoje, no Rio de Janeiro, espaços que foram ocupados por ex-escravos e seus descendentes, muitos dos quais, com antepassados angolanos.

?No começo do século passado, uma ampla área da cidade do Rio de Janeiro, entre o cais do porto e os bairros da Saúde, Cidade Nova e Praça Onze, era conhecida entre os cariocas como Pequena África. O ambiente repleto de candomblés, como o de João Alabá, de exímios capoeiristas e de baianas trajadas com panos-da-costa não deixava dúvidas sobre a origem de seus moradores ? era uma gente que trazia no sangue a herança de um continente do qual só sabiam estar do outro lado do oceano. Seus antepassados eram de lugares distantes como Benin ou Moçambique, mas o maior número de africanos havia sido trazido em navios negreiros para o Brasil do Reino de Ndongo, onde hoje está a maior parte de Angola e do Congo. Após a abolição da escravatura, o Rio de Janeiro tornou-se um destino preferencial para milhares de ex-escravos que buscavam trabalho na capital.

Praça Onze

Foi nas ruas estreitas da Pequena África que músicos como Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres e João da Baiana criaram os primeiros sambas, aperfeiçoando ? e sofisticando ? os ritmos ancestrais cantados em animadas reuniões na casa da venerada Tia Ciata. Foi ali que Ismael Silva fundou a primeira escola de samba da cidade, batizada Deixa Falar. Hoje, um século depois, velhas ruas e casas deram lugar ao Sambódromo, projetado por Oscar Niemeyer, e a Avenida Presidente Vargas soterrou sem piedade a bucólica e malandra Praça Onze, palco dos antigos desfiles de ranchos e escolas de samba. No entanto, ao seguir na direção da Cidade Nova à Lapa, caminhando sem pressa pela Rua do Riachuelo, antiga Estrada Mata-Cavalos, percebo que certas ruelas calçadas com paralelepípedos e velhos casarões do final do século 19 ainda resistem às mudanças do tempo. Vozes africanas atravessam a janela e me alcançam do lado de fora.

Num velho sobrado na Rua Aníbal Benévolo, bem próximo ao Sambódromo, vivem hoje oito famílias da etnia bakongo, um povo originário do norte de Angola e do centro do Congo. Eles fundaram na própria casa um templo de Igreja Kimbangista, religião criada no Congo, em 1921, por Papá Simon Kimbangu. [...]

Talvez sem se dar conta das tradições cariocas de outrora, milhares de imigrantes angolanos vêm, nos últimos dez anos, ocupando as mesmas casas do centro velho da cidade para recriar, à sua maneira, uma nova Pequena África. Nos anos 1970, com a independência do país, houve o primeiro boom migratório para o Brasil. Ao longo dos anos, com a intensificação da guerra civil em Angola ? conflito que há 40 anos corrói a ex-colônia de Portugal -, a imigração intensificou-se. Traumatizados pelos combates incessantes, pela falta de perspectiva e pelas dificuldades econômicas, os africanos chegavam dispersos, separados de sua família, em busca de um novo futuro. [...]

Nos últimos tempos o fluxo de jovens tem aumentado por causa dos acordos de cooperação educacional entre os dois países. Há grande quantidade de estudantes africanos nas universidades públicas brasileiras. A vida de Big Mani, por exemplo, melhorou: ele agora estuda arquitetura no Brasil. Já seu amigo rapper Kacucula, da etnia ambundu, não teve a mesma sorte: sobrevive hoje dedetizando baratas de dia nas casas da Lapa e, à noite, ?incendiando? as festas de hip hop, onde costuma entoar rimas duras contra o sistema. ? Minha mãe vendeu um terreno em Luanda para eu vir ao Brasil. Ela fazia questão de vestir muito bem a mim e meus irmãos, pois achava que, quando chegasse nossa hora, teríamos que morrer com dignidade?, recorda.?

National Geographic Brasil, fev. 2003, p.117-118




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