Um Bill Gates é melhor do que um Milton Santos
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Um Bill Gates é melhor do que um Milton Santos


"Todo poder humano é uma mistura de paciência e de tempo. As criaturas poderosas querem ? e velam [...]. Daí vem, talvez, a prodigiosa curiosidade que despertam os avarentos habilmente postos em cena. Cada indivíduo está ligado por um fio àquelas personagens que ofendem a todos os sentimentos humanos, resumindo-os todos. Onde está o homem sem desejo, e que desejo social se resolverá sem dinheiro?".
Honoré de Balzac, Eugene Grandet.

Milton Santos era daqueles intelectuais esquerdistas que manifestavam desprezo pelo consumismo, pela burguesia, pelas pessoas que batalham visando só pagar as contas ou acumular dinheiro, além de basear seus trabalhos acadêmicos no pressuposto de que competitividade e solidariedade são opostos. Durante uma aula que tive com ele na pós-graduação, a turma foi brindada com o seguinte comentário do professor: "o intelectual não precisa de dinheiro" (breve pausa expressiva) "porque o intelectual tem prestígio!". 


Francamente, aquela foi a frase mais mesquinha que já ouvi em toda a minha vida! Afinal, essa fala revelou que o leitmotiv do árduo trabalho intelectual de Milton Santos, do esforço que ele empreendeu para publicar cerca de cinquenta livros enquanto estava vivo, foi o desejo de conquistar o maior prestígio acadêmico possível. E não há dúvida de que ele foi bem-sucedido nisso. "Quem procura acha", diz o ditado.

Aquela manifestação de desprezo pelo dinheiro estava em perfeita coerência com os valores que estruturam as reflexões teóricas e a visão de natureza humana própria de socialistas como Milton Santos, Maria da Conceição Tavares, Marilena Chaui, além de tantos outros. E, ao mesmo tempo, revelava a profunda hipocrisia da crítica pretensamente humanista que os teóricos do socialismo lançam contra a economia de mercado. Pois a grande verdade é que as pessoas que dizem desprezar o dinheiro e que renegam o egoísmo daqueles que batalham para enriquecer costumam apenas substituir o esforço para ganhar dinheiro, que é um meio para a realização de qualquer desejo social, pelo esforço para realizar desejos sociais ligados à satisfação da própria vaidade mediante o reconhecimento dos pares e do público em geral.

Não é à toa que Milton Santos se sentia orgulhoso dos muitos títulos de doutor honoris causa que recebeu - ele teve sorte de não ter vivido para ver esse título ser rebaixado a peça de propaganda partidária pelas universidades que o concederam a Lula.

E, ainda por cima, esses intelectuais se enxergam e se apresentam como pessoas que, por defenderem ideologias supostamente a serviço do bem comum e de nobres ideais, merecem ser sustentadas pela sociedade. É bem esse o caso dos nossos acadêmicos, que fazem parte da elite salarial do Brasil, têm estabilidade no emprego e liberdade de cátedra.  

Comparando-se um Milton Santos com um Bill Gates, prefiro mil vezes o segundo tipo de pessoa. Quem trabalha para ficar rico deseja a segurança, a liberdade, o conforto e os prazeres que o dinheiro indiscutivelmente traz. Trabalha também para obter reconhecimento por seu esforço, competência, capacidade de inovação, e por qualquer outro talento que se atribua como imprescindível para o sucesso. E, se acaso o empreendedor bem-sucedido quiser sentir a satisfação de se ver como uma pessoa "do bem", capaz de fazer coisas que contam para melhorar o mundo, ou se quiser garantir um lugar no paraíso, ou ainda, se quiser aplacar um sentimento de culpa por ter tanto dinheiro num mundo com tanta gente pobre, basta ele fazer caridade com parte de sua fortuna.

Bill Gates não precisaria fazer caridade, pois o maior benefício social que uma empresa privada acarreta é gerar lucros. Mas talvez ele não concorde com essa ideia, ou ache esse benefício insuficiente, visto que já doou bem mais de US$ 17 bilhões de dólares a pesquisas científicas, especialmente na área da saúde, entre outros tipos de doações filantrópicas. Mas saber quais são suas motivações só tem importância para ele próprio, pois os benefícios para os outros são indiscutíveis. Já o prestígio acadêmico acumulado por Milton Santos beneficiou a quem, além dele mesmo? Prestígio não é mercadoria, logo, é intransferível. Só dá prazer a quem o possui.

Mas os intelectuais socialistas fazem bem à humanidade quando criticam o capitalismo e defendem a realização de alguma utopia social? Avaliação altamente discutível, para dizer o mínimo, sobretudo quando se trata de funcionários públicos que, como Milton Santos, Emir Sader, Armen Mamigonian, Paulo Freire, e tantos outros, justificam ditaduras assassinas ou até ações terroristas. Mas, ainda que as ideias que esses autores defendem sejam vistas como justas em si mesmas, não há como negar: eles são bem pagos para defender as ideias que quiserem, e têm um padrão de vida muito melhor do que o da maioria da população por conta disso. E não vou nem estimar as enormes quantias de dinheiro que os autores "críticos" ganham quando publicam livros didáticos com conteúdo anticapitalista, os quais são distribuídos a milhões de alunos de nossas escolas públicas, a exemplo de José W. Vesentini e de Marilena Chaui.

Encerro fazendo minhas as palavras de Luiz Felipe Pondé, num texto cujo título chama todos os homens pelo nome: Patético.
Uma forma fácil de você fingir que é legal é passar por alguém "superior" ao dinheiro. Eu, que sou um miserável mortal, confesso: adoro dinheiro. E confio mais em quem confessa que faria (quase tudo) por dinheiro. Desconfio de quem diz não dar valor ao dinheiro. Normalmente se trata de uma falsa santidade.
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