Sim, a universidade justifica a violência!
Geografia

Sim, a universidade justifica a violência!


Respondo agora a um comentário sobre o texto Legitimação do vandalismo nas universidades. O autor nega o problema da doutrinação ideológica no ensino dizendo o que segue:
Calma, professor!
Do jeito que o senhor fala as pessoas vão realmente acreditar que as nossas universidades são um antro de stalinistas preparados para fazer a revolução. Eu fico me perguntando como o senhor ainda não foi empalado e teve sua cabeça devorada pelos canibais esquerdistas que abundam as universidades públicas. Tome cuidado!
Até meia dúzia de vagabundos que vão vandalizar num protesto pacífico são motivo para se atacar a esquerda, e, numa explicação rasa sobre o problema educacional no Brasil, joga-se toda a responsabilidade nos professores esquerdistas.
Essa doutrinação que o senhor tanto fala não é verdade nem na universidade em que o senhor dá aula. Ou por acaso os professores esquerdistas estão a espancá-lo antes das aulas? Os seus colegas de departamento o impedem de fazer críticas ao marxismo em aula? O seu programa é oriundo de uma cartilha do PSTU ou do PSOL? Por acaso já foi impedido de lecionar mediante a ação terrorista de alunos militantes do PCB?
As faculdades e institutos de ciências humanas e sociais, assim como as organizações estudantis, são, sim, na sua maior parte, antros de stalinistas prontos para uma revolução - no caso dos professores, mais animados para apoiá-la do que para sujar as mãos fazendo... Evidência bem concreta disso está no fato de que, em 2007, 115 professores da USP ? apenas 2,2% dos cerca de 5.200 docentes dessa universidade ? foram signatários de um abaixo-assinado em favor da causa de uma cambada que tinha invadido a Reitoria, sendo que 101 desses professores pertenciam à FFLCH-USP!


Assim, é a maioria de docentes e alunos que não pertence à esquerda radical que acaba garantindo um ambiente de liberdade para aqueles poucos professores das ciências humanas e sociais que reagem aos dogmas da teoria social crítica. Mas ainda há outros motivos para explicar essa liberdade. Um deles está no fato de que, como a esquerda já tem a hegemonia nos departamentos de ciências humanas e sociais, bem como no ensino médio e fundamental, prefere canalizar suas energias para o combate nos espaços em que ela ainda tenta ser hegemônica, como é o caso, sobretudo, da imprensa. Não incomoda muito se um ou outro professor ensina coisas diferentes em suas disciplinas, pois o conteúdo predominante é o da teoria social crítica. O mesmo ocorre na política estudantil, em que os ativistas, sendo majoritariamente de esquerda, preferem lutar contra o ?neoliberalismo? nas ruas do que passar a limpo as denúncias de corrupção que enlameiam a imagem da UNE ou do que perseguir professores que pensam de modo diferente. Por fim, se eu tenho liberdade para definir o conteúdo a ser ensinado nas minhas aulas, é por estar respaldado por uma institucionalidade que garante essa mesma liberdade a todos os professores, de sorte que interferir nesse meu direito implicaria questionar o de todos os outros professores, e isso não seria vantajoso para ninguém.

Quem disse que não há perseguições?!
Apesar disso tudo, têm acontecido, sim, casos aberrantes de censura, perseguição e até de agressão verbal e física contra professores que contestam os dogmas da teoria crítica e do politicamente correto. Vejamos: 
  • Em 2011, a procuradora de justiça Roberta Fragoso Kaufmann foi à UnB ? talvez a mais esquerdista das nossas universidades ? fazer uma palestra contra a política de cotas, mas foi impedida de falar por vaias e xingamentos. A polícia teve de ser chamada para que ela pudesse ir embora sem perigo de sofrer agressões. No carro dela, picharam ?loira filha da puta? (sic!!!), numa prova explícita de que os racialistas são racistas.
  • Nesse mesmo ano, em que a diretoria da FFLCH-USP foi invadida por estudantes, o professor Marcelo Barra, do curso de Letras dessa faculdade, foi agredido fisicamente, dentro da sala de aula, por um ativista estudantil!
  • Em 2012, durante a longa greve das universidades federais, os grevistas da UnB formaram uma Comissão de Ética que, pasme-se!, planejou invadir a aula do prof. Marcelo Hermes, que leciona Bioquímica Clínica, às 10 horas do dia 29 de maio. Ele teve de ser escoltado por dois policiais para poder lecionar. E qual a razão de tudo isso? Por ele ser contrário à greve e por manifestar suas opiniões políticas contrárias às da esquerda, conforme se lê aqui.  
  • Neste ano de 2013, o prof. Glauco B. Magalhães Filho, da Faculdade de Direito da UFC, teve um texto de sua autoria retirado do site da faculdade devido às pressões de um tal Coletivo Conteste (ver aqui). Eu não concordo com a opinião emitida por esse professor a respeito da união civil entre pessoas do mesmo sexo, mas o fato é que a argumentação jurídica dele era procedente e, nesse particular, o texto dele me pareceu perfeitamente correto. Portanto, esse professor foi censurado simplesmente por expressar suas análises jurídicas e opiniões!
Em suma, se eu nunca tive problemas com censura e agressões, é somente por trabalhar numa instituição, a UFPR, que não está entre as mais radicalizadas. Meus colegas de Departamento, a propósito, são bastante sensatos e tolerantes com as diferenças de pensamento, mesmo os mais esquerdistas. Mas, se não tenho do que reclamar em matéria de ambiente de trabalho, nem por isso deixo de me informar sobre as barbaridades que vêm acontecendo em outras instituições onde o pensamento de esquerda é mais radicalizado, especialmente a UnB e a FFLCH-USP.

Por tudo isso, é falso dizer que estou culpando os professores pelo vandalismo com base numa "análise rasa". Primeiro, porque deixei bem claro que a doutrinação ideológica nas escolas é um dos fatores explicativos, não o único. Segundo, porque é incontestável o apoio ideológico da maioria dos professores à violência insurrecional, conforme se vê na pesquisa realizada pelo instituto CNT/Sensus, pela análise de livros didáticos, pelo apoio dos sindicatos de professores ao MST, por testemunhos publicados no site Escola Sem Partido e também pela leitura dos trabalhos de pesquisa acadêmica publicados. Com efeito, há muitas evidências disso neste blog e no site mencionado, mas, para quem quiser saber mais, recomendo a leitura do meu último livro, Por uma crítica da geografia crítica, que acabou de ser publicado pela Editora da UEPG.

Em outro post eu respondo à parte final do comentário citado, em que o autor procura livrar a cara da esquerda radical das arruaças ocorridas no início das marchas convocadas pelo MPL.

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