Os lisboetas são conhecidos por “alfacinhas” mas a região Oeste é que é a “horta de Lisboa”, assumindo-se como a principal abastecedora da capital. “Foi-se afastando da área metropolitana, começou em Loures, passou para Mafra e hoje é o Oeste, sobretudo Torres Vedras, Lourinhã e Peniche ao nível dos produtos hortícolas e Cadaval, Bombarral, Caldas da Rainha e Alcobaça no que diz respeito a pomares”, aponta António Gomes, presidente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO). A horticultura constitui uma das fileiras estratégicas da região Oeste, nomeadamente no que se refere aos produtos hortícolas frescos ao ar livre e em estufa. Ao ar livre e de Inverno a couve é o produto em maior quantidade – 100 mil toneladas – e mais exportado – 70 por cento é vendido para o mercado europeu. O alho francês tem crescido nos últimos anos. “Temos conseguido travar as importações, abastecer o mercado interno e até exportar 30 por cento da produção”, indica António Gomes.
Na Primavera o domínio é da batata e da abóbora. Metade da produção desta última é exportada. Em estufa, o principal é o tomate, que ocupa 500 hectares e produz 100 mil toneladas por ano, dos quais metade são colocados em Espanha. O sector hortícola desta região mostra dinamismo e capacidades que lhe permitem competir com os restantes parceiros europeus, através da oferta de produtos hortícolas de excelente qualidade.
Contudo, o desenvolvimento da agricultura é fortemente condicionado pela dimensão e parcelamento das explorações. “A excessiva fragmentação da terra de cultivo inviabiliza a mecanização e condiciona a modernização dos sistemas de produção”, refere Ana Paula Nunes, do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional. O dirigente da AIHO reconhece que “é uma agricultura de minifúndio e não conseguimos mecanizar, o que faz com que seja precisa mais mão-de-obra”. “A mão-de-obra portuguesa é muito escassa, embora agora se note um ligeiro aumento, e temos de recorrer a mão-de-obra de fora - 40 por cento são estrangeiros, sobretudo brasileiros e romenos. Trabalham 9 a 10 horas por dia e ganham em média por mês 600 a 700 euros”, refere António Gomes.
Para o dirigente, os principais problemas são “os custos de produção e a desorganização da produção”.
“As pessoas vivem muito por si. Cada um vai tentando fazer a sua vida e o mercado não se compadece com isso. As pessoas têm de se agrupar, para que não haja grande irregularidade nos preços e se venda abaixo do custo de produção. Há 20 anos o meu pai vendia em certos períodos a batata a 60 escudos (trinta cêntimos) o quilo, o que hoje é já um grande preço. Agora estamos a receber 10 cêntimos”, relata.
Mas António Gomes não desanima. “É uma actividade para ser feita por quem gosta e quem é apaixonado pela agricultura. A parte que mais gosto é quando ando a fazer uma sementeira. Imagino uma boa produção e um bom valor. É claro que no final às vezes não é assim”, manifesta, fazendo notar que “já temos a trabalhar uma classe de jovens – cerca de 35 por cento do total - técnicos formados na casa dos 30 anos”.
Leilões ajudam vendas
A região Oeste tem contornado as tradicionais dificuldades de escoamento dos produtos com a criação de leilões diários, que vieram revolucionar a vida dos produtores, pois, de uma forma mais fácil, conseguem ter uma garantia de venda a um preço rentável. Os operadores de mercado também têm vantagens, porque o produto nacional está concentrado e evita terem de andar à procura, inclusive no estrangeiro.
Na Carmo & Silvério S.A., em Torres Vedras, há diariamente um leilão de produtos hortícolas nacionais, destinado a armazenistas e distribuidores. Os produtos são leiloados em lotes. Ao preço por quilo são acrescidos cinco cêntimos ao comprador para custos do leilão. O vendedor entrega dez por cento da venda ao leiloeiro.
“O que o leilão faz é regularizar o preço do preço do mercado em função da procura e da oferta. Traz uma maior transparência na venda do produto, porque os agricultores sabem logo o preço a que conseguiram escoá-lo. Todos os dias, na conversa com os amigos no café, ficam a saber o valor de cada produto nos diversos leilões. É uma autêntica Bolsa de Legumes”, refere Paulo Maria, administrador da empresa.
“É tudo vendido. Podemos é vendê-lo a bom preço ou a baixo preço. Pode haver alturas em que ninguém compre o produto, então a Carmo & Silvério compra”, adianta.
A ideia foi trazida de Espanha e na região Oeste já existem quatro locais onde se realizam leilões diários, todos no concelho de Torres Vedras. Aparecem diariamente entre 15 a 30 compradores.
Francisco Gomes, in Oesteonline