Rede de conceitos do Século XXI (2)
Geografia

Rede de conceitos do Século XXI (2)



Rede de conceitos do Século XX1 (2)

Verbetes do Dicionário do século XXI
Jacques Attali

MAR - Ameaçado de morte pelas descargas dos transportes marítimos, as imersões voluntárias de dejetos nucleares ou os efeitos da poluição urbana, ele é e continuará sendo mais que nunca necessário para a sobrevivência da humanidade.
Deverá absorver uma parte importante do "efeito estufa" para retardar o aquecimento planetário, regular o clima e evitar que a elevação de seu nível inunde camadas freáticas e terras emergidas onde vivem centenas de milhões de pessoas.
Deverá alimentar uma parte considerável da humanidade. Para isto, será necessário regulamentar rigorosamente a pesca, proteger as espécies ameaçadas de desaparecimento e desenvolver a aquacultura. Também será preciso proteger e aproveitar as centenas de milhões de espécies marinhas, animais e vegetais, ainda desconhecidas. Serão utilizadas para criar e fabricar remédios contra o câncer, antiviróticos, estimulantes cardíacos, remédios contra a dor etc.
Servirá para deslocar icebergs e fornecer, mediante dessalinização, uma grande quantidade de água potável absolutamente vital.
Deverá fornecer materiais que podem revelar-se raros em questão de um século, como o titânio e o cádmio.
Transportará grandes quantidades de mercadorias que de outra forma não poderiam ser deslocadas, a bordo de navios de grande porte movidos a propulsão nuclear.
Mais necessário que nunca à sobrevivência da humanidade, será preciso rever os tratados que o protegem e reforçá-los, conferindo a uma instituição internacional poder de controle em pleno mar, declarado propriedade comum da humanidade, e criar uma Polícia Internacional dos Mares, incumbida de neles impor o respeito dos direitos das gerações futuras.

PEIXE - Vai-se tornar um produto raro e de luxo, até que a genética revolucione a aquacultura e o equilíbrio do mar.
É hoje a principal fonte de proteínas animais de um bilhão de homens, basicamente na Ásia, onde mais da metade da pesca é realizada, atendendo a mais da metade do consumo mundial.
Entre 1950 e o fim do século XX, a pesca multiplicou-se por cinco, chegando a 100 milhões de toneladas. Para manter o consumo em seu nível atual - 17,9 kg por habitante e por ano -, seria necessário pescar 16 milhões de toneladas a mais em 2010.
Isto não será possível: em 90% das espécies consumidas (bacalhau da Terra Nova, arenque do Báltico, salmão do Pacífico), a pesca já é quatro vezes superior ao nível máximo para a reprodução da fauna. Além disso, 70% das reservas mundiais estão esgotadas ou prestes a isto. Das 17 grandes áreas de pesca do mundo, nove estão em declínio. Enfim, o despejo no mar de milhões de toneladas de compostos azotados e fosforados favorece o crescimento de algas e absorve o oxigênio necessário aos peixes.
A oferta, portanto, vai baixar. Os conflitos pelo controle das zonas de pesca vão proliferar: entre o Japão, a China e a Rússia, a Espanha, a Grécia e a Itália, a União Européia, Marrocos e Senegal. A pesca ilegal se desenvolverá na Malásia, no Vietnã, na Indonésia.
Para evitar a aceleração do desastre, seria necessário gerir muito mais racionalmente as reservas, suspender a pesca de todas as espécies ameaçadas, impor limites aos pescadores e licenças às pesqueiras.
A produção por habitante só poderá, portanto, diminuir - de 17,9 kg hoje para 9,5 kg em 2020 - no exato momento em que a elevação do nível de vida levar ao aumento da demanda. Caminhamos para uma defasagem cada vez maior entre a oferta e a demanda logo, para uma alta duradoura dos preços do peixe.
Esta situação só poderá ser modificada se a aquacultura conseguir chegar a representar metade do total de peixes pescados em 2020, o que ninguém pode garantir.

SECA - Sufocará o Magreb e a Espanha, tornará cultiváveis vastas extensões da Escandinávia, da Sibéria e do Canadá. Conseqüência da transformação do clima, ela agravará a falta d'água no Oriente Médio e na África central. Mais adiante, tornará o mundo irrespirável e ameaçará de asfixia a humanidade.
Será combatida mediante a redução da poluição do ar, para atenuar o "efeito estufa". Os homens se adaptarão a ela diminuindo a demanda de água das plantas, graças à biogenética. Será uma das conseqüências mais amplas dos erros da era industrial nos dois próximos séculos. Ela provocará pânicos, retornos a manifestações de fé cega, anúncios de fim do mundo.
Ainda reversível, não continuará a sê-lo por muito tempo.


Jacques Attali é economista.




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