Sempre que a velha pergunta de Almeida Garrett ou outra de idêntico sentido surge num debate, logo os epígonos do capitalismo se insurgem. Não percebem que ninguém quer acabar com os ricos, que o que é necessário é acabar com os pobres e tudo os que os condena a essa condição infra-humana.
«Já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à penúria absoluta - para produzir um rico?»
Recordei esta pergunta feita por Garret no seu livro «Viagens na minha terra» quando li há dias que o World Wealth Report 2009 publicou um estudo dizendo que no último ano o número de portugueses com fortunas superiores a um milhão de dólares (mais de 800 mil euros) aumentou em mais de 600, sendo agora o número de milionários portugueses superior a onze mil!
Nestes tempos em que à sombra da crise crescem os milionários vale a pena deitar também um olhar para o que se passa à escala mundial.
Segundo a Universidade das Nações Unidas, 2% dos mais ricos do mundo (isto é, 37 milhões de pessoas) possuem mais de 50% da riqueza mundial, enquanto os bens de metade da popu¬lação mundial, mais de 4 mil e 300 milhões de pessoas, não ultrapassam no seu con¬junto 1% da riqueza global.
Entre os 13 milhões de milionários recenseados (metade dos quais nos Estados Unidos, Japão e Alemanha) 1% possuía 40% dos acti¬vos globais e 10% dentre eles detinham 80% do património mundial!
Também em Portugal entre os milionários há super milionários que concentram em 3 fortunas mais de 4,5 mil milhões de euros! Mas assinalava também o World Wealth Report: o consumo interno sofreu em Portugal uma quebra (pudera!) de mais de 10%. É que em contraponto com estes 11 mil milionários há agora em Portugal, dizem as estatísticas oficiais, mais de 2 milhões de pobres…
A concentração da riqueza não se verifica apenas à escala planetária, regista-se também em cada país capitalista, como os Estados Unidos ou a Inglaterra, que na União Europeia disputa com Portugal o primeiro lugar no fosso entre pobres e ricos.
É o funcionamento «normal» do sistema capitalista que reproduz estas situações e as agrava compulsivamente se não tem quem lhe faça frente.
Por isso somos contra o sistema mundial do capitalismo.
* Membro do Comité Central do Partido Comunista Português
Fonte: Diário da Liberdade