Nos últimos dois dias, ao tratarem dos mais recentes acontecimentos das nem sempre harmoniosas relações comerciais entre Brasil e Argentina, os principais jornais brasileiros deram amplo destaque à mesma notícia em suas capas. A manchete em questão até podia variar nas palavras, mas não em seu teor. De maneira geral, todas elas diziam mais ou menos o seguinte: ?Brasil impõe barreira à importação de carros, mas nega retaliação à Argentina?.
O motivo dessa pendenga entre vizinhos deve-se ao fato de o governo argentino ter imposto restrições ao ingresso dos mais diferentes produtos brasileiros em seu território, contrariando acordos previamente estabelecidos entre os dois países, como o que reza que a adoção de medidas que afetem as exportações brasileiras devem ser informadas com antecedência (a OMC estabelece que essas licenças devam ser concedidas em um prazo máximo de 60 dias). São cerca de 600 produtos brasileiros listados para que sejam exigidas licenças de importação não automáticas, o que representa que necessitam de aprovação direta da presidência.
A alusão aos dois históricos confrontos entre o brasileiro Maguila e o argentino Falconi serve bem para ilustrar essas disputas envolvendo os dois países
Sentindo-se prejudicados e alegando que o país do tango e das milongas faz uso de tal artifício como forma de proteger os produtores locais, exportadores nacionais solicitaram que o governo brasileiro intervenha e adote uma postura mais efetiva contra as barreiras colocadas pela Argentina, não sendo descartada a entrada de uma representação contra os argentinos na Organização Mundial do Comércio.
O interessante é que o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) se pronunciou dizendo que essas medidas são meramente de caráter comercial, não possuindo nenhum conteúdo político que manifeste algum tipo de desavença diplomática entre os dois países. Para fortalecer tal posicionamento, o próprio ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirma que a decisão brasileira deve ser classificada como um monitoramento, e não retaliação.
Mais um aspecto que merece ser lembrado é que o Brasil apresenta um superávit comercial quando se trata de negócios com nossos hermanos. Apesar de também afetar outros importantes fornecedores de automóveis para o nosso país, como o México e a Coreia do Sul, no final das contas, a Argentina é que sairia mais prejudicada nessa história. A indústria brasileira é, significativamente, mais forte e diversificada do que a dos nossos vizinhos e existe uma forte dependência aí caracterizada, principalmente porque 39% de suas exportações para o Brasil correspondem exatamente ao setor automotivo.
É claro que a Argentina quer reduzir o déficit no comércio bilateral, do mesmo modo que é mais do que evidente que o Brasil, sem querer perder o trono de potência regional, está dando uma resposta direta aos argentinos, mas sem dar bandeira para não sofrer sanções por descumprir as leis internacionais que recriminam que atitudes discriminatórias sejam praticadas nas relações comerciais entre os países.
Depois de China e Estados Unidos e à frente da Alemanha, a Argentina é o nosso terceiro mais importante parceiro em volume de negócios. Se com os dois primeiros nós levamos desvantagens nas trocas comerciais, não seria para o país platino que o Brasil iria querer ficar em posição desfavorável e correr o risco de perder a liderança do Mercosul.
Depois de ter sido nocauteado no primeiro confronto entre os dois pugilistas, na revanche, Maguila leva o argentino à lona
Continua no próximo capítulo.
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