Por que não exportamos mais manufaturados?
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Por que não exportamos mais manufaturados?


O Brasil é bom ou ruim na hora de exportar? Eis um tema polêmico. Sim, o País brilhou ao aumentar as exportações de 2011 em 26,8% ante as de 2010, alcançando inéditos US$ 256 bilhões em receita.
por Carla Jimenez

O Brasil é bom ou ruim na hora de exportar? Eis um tema polêmico. Sim, o País brilhou ao aumentar as exportações de 2011 em 26,8% ante as de 2010, alcançando inéditos US$ 256 bilhões em receita. São números alentadores para um ano sui generis como foi 2011. No entanto, sempre resta a incômoda sensação de que poderíamos ter sido muito melhores se a participação dos manufaturados na pauta de exportações superasse os 38%, medidos pela régua da Organização Mundial do Comércio (OMC). A discussão é sinuosa. Não é demérito ampliar as exportações de bens básicos, ainda mais quando os grandes compradores elevam a altura de seus muros de protecionismo.



Não há demérito em ampliar a exportação de bens básicos, ainda mais quando avançar é
romper muralhas protecionistas, como a dos EUA à carne suína brasileira.


Tivemos dois exemplos na semana passada. Na terça-feira 10, os americanos aceitaram comprar carne suína in natura brasileira. A abertura veio na esteira do acordo sobre o contencioso do algodão que os dois países travaram até 2010. O Brasil questionava os subsídios do governo americano aos seus produtores de algodão, e venceu a pendenga na OMC. Brasil e EUA concordaram que as barreiras sanitárias contra a carne brasileira seriam revistas. Coincidência ou não, na quarta-feira 11, os mesmos americanos questionaram o uso de um pesticida na produção de laranja, o que poderia interromper o fluxo de exportações brasileiras de suco.

Prova que o comércio exterior é um campeonato muito difícil de ser disputado, mas cujas regras o Brasil já domina. Agora, quando a pauta de manufaturados entra em campo, o País perde de goleada. Tomamos bolas nas costas uma dezena de vezes nos principais ciclos econômicos globais. Nos anos 1980 as nações ricas corriam para se posicionar como fornecedores de tecnologia e investiam em inovação. Mas o Brasil vivia da mão para a boca, se esforçando para iniciar a redemocratização, salvar-se da inflação e da dívida externa. A colheita do que cada país semeou no passado é muito clara hoje.

Nos Estados Unidos, berço da Apple, Intel e Microsoft, 73% das exportações são de manufaturados: tablets, chips, etc. Já o Brasil, continua firme em commodities. Quando exporta bens de maior valor agregado, são carros, sapatos e maquinários, mercados onde há muito mais competidores. Mudar esse quadro leva tempo. Embora o País tenha aprendido a pensar diversas questões no longo prazo, permanecemos no padrão da mão para a boca nas exportações de manufaturados. O programa de política industrial Brasil Maior, lançado no ano passado, por exemplo, dedica uma parte aos exportadores, mas com iniciativas tímidas, como a devolução de créditos fiscais para empresas que exportam.

Os Estados Unidos não só têm incentivos para a venda como para o investimento das empresas exportadoras, assim como um forte banco de fomento, o Eximbank, para financiar o comércio. O foco no assunto é estratégico, a ponto de o governo americano lançar, neste mês, o estudo A Competitividade e a Capacidade Inovadora dos Estados Unidos, que mapeia forças e deficiências do país e deve pautar políticas de longo prazo para reforçar o papel dos americanos no comércio mundial. O Brasil até chegou a ensaiar um Eximbank brasileiro, mas faltou bala na agulha para bancar o projeto. O País trabalha, agora, para substituir importações, buscando atrair cadeias de fornecedores estrangeiras de diversos segmentos, como equipamentos para área de saúde e eletroeletrônicos, mas ainda sem um norte de longo alcance.


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