O carvão líquido seria duas vezes mais poluente que esse combustível
por Os editores
Os congressistas de ambos os partidos nos Estados Unidos, estão propondo emendas para o chamado projeto de lei da independência energética, que subsidiaria fortemente a indústria na produção do carvão líquido como substituto do petróleo estrangeiro. (O projeto de lei original tem como objetivo aumentar a eficácia dos combustíveis em carros e caminhões leves, incentivar a produção de biocombustíveis e fornecer fundos para o desenvolvimento tecnológico para captação das emissões do dióxido de carbono das usinas.)
O senador Jeff Bingaman, democrata do Novo México, era contrário a grandes subsídios para combustíveis derivados do carvão até meados de junho, quando decidiu oferecer até US$ 10 bilhões em empréstimos para usinas de carvão líquido. Ao mesmo tempo, o senador Barack Obama, do estado de Illinois (rico em carvão), mudou abruptamente sua defesa da produção de combustível derivado de carvão para se concentrar em outro projeto de lei para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o índice de carbono em combustíveis.
As mudanças de posição de Bingaman e de Obama salientam a tensão entre forças para reduzir a dependência do combustível estrangeiro e retardar o aquecimento global. O carvão líquido ? produzido quando o carvão é convertido em combustível de meios de transporte ? influenciaria timidamente nas mudanças climáticas, produziria gases de efeito estufa ? que levam ao aquecimento global ? duas vezes mais que a gasolina.
A tecnologia de conversão está bem estabelecida (os alemães a usaram durante a Segunda Guerra Mundial), e o carvão líquido pode ser usado em carros e caminhões a diesel, assim como em motores de jatos e navios. Os executivos da indústria do carvão afirmam que podem competir com a gasolina se os preços do óleo forem no mínimo de US$ 50 o barril. No entanto, o carvão líquido traz danos ambientais e econômicos. Em relação ao ambiente, as propriedades poluentes do carvão ? que começam com a mineração e permanecem após a queima ? e as grandes quantidades de energia necessárias para liquefazê-lo significam que o carvão líquido produz mais que o dobro das emissões da gasolina comum, e quase o dobro das produzidas pelo diesel comum. Como os especialistas afirmaram, dirigir um minicarro com carvão líquido polui tanto quanto guiar um carro grande com gasolina comum.
Uma tonelada de carvão produz somente dois barris de combustível. Além do CO2 emitido ao usá-lo, o processo de produção gera quase uma tonelada de CO2 para cada barril do combustível líquido. Ou seja, uma tonelada do carvão que entra é igual a duas toneladas de CO2 que saem. Os congressistas e os defensores da indústria das usinas de carvão líquido argumentam que as mesmas tecnologias que podem capturar as emissões das usinas de queima de carvão estarão disponíveis para o carvão líquido. Mas mesmo se o carbono liberado durante a produção, de algum modo, fosse capturado e seqüestrado ? uma tecnologia que ainda permanece não-provada em qualquer escala significativa ? alguns estudos indicam que o carvão líquido ainda liberaria 4% a 8% a mais de poluentes que a gasolina comum.
O carvão líquido também é uma escolha econômica ruim. Os congressistas dos estados produtores de carvão propõem que os contribuintes garantam bilhões de dólares em empréstimos para construção de fábricas, preços mínimos para o novo combustível e grandes compras pelo governo nos próximos 25 anos. Seu mantra é que os combustíveis derivados do carvão são mais americanos que a gasolina . Mas não existe nenhuma usina de carvão líquido no país. Pesquisas do Massachusetts Institute of Technology estimam um gasto de US$ 70 bilhões para a construção de usinas em número suficiente para substituir 10% do consumo americano de gasolina. Especialistas em energia preocupam-se com a possibilidade de a escala dos incentivos levar a uma repetição do esforço desastroso para firmar uma indústria de combustíveis sintéticos, 30 anos atrás.
O país gastaria bilhões em empréstimos, incentivos de impostos e garantias de preço em uma tecnologia que produz mais gases do efeito estufa que a gasolina. Isso é inaceitável em um momento em que cientistas do mundo inteiro advertem sobre a necessidade dos cortes na emissão de gases, pelo menos em 60%, para prevenir as conseqüências do aquecimento global. Em vez de gastar bilhões para subsidiar uma indústria de poluentes, deveríamos investir na eficiência e nas tecnologias da energia renovável que podem nos ajudar a conter o aquecimento global hoje.
Scientific American Brasil