Lydia Gil
Denver (EUA), 14 mai (EFE)- A arqueóloga e antropóloga Jennifer Matthews, da Universidade Trinity de San Antonio, Estados Unidos, aborda em seu último trabalho a história do chiclete, cujas origens se remontam a mais de 11 mil anos na península de Iucatã.
Os primeiros capítulos de "Chicle: The Chewing Gum of the Americas" ("Chiclete: A goma de mascar das Américas"), editado pela Universidade do Arizona, se centram na região de México, Guatemala e Belize, de onde se origina a árvore sapoti, da qual o chicle é extraído.
Matthews explica que a maioria destas árvores é encontrada no estado mexicano de Quintana Roo, o que atribui à propagação ainda ativa de cultivos dos Maias.
"Quando se corta a crosta da árvore sapoti, ou você é atacado por insetos, ou a árvore produz uma substância leitosa que forma uma camada protetora sobre a área do corte", afirmou.
Essa seiva, que não tem cheiro, é o que se conhece como chicle, palavra que, em muitas partes da região ibero-americana, até hoje é usada como sinônimo de chiclete.
A especialista se baseia nas crônicas de frei Bernardino de Sahagún para ilustrar alguns dos costumes pré-colombianos de mascar a goma que hoje é frequentemente associada a regras sociais modernas.
"Na sociedade asteca só mulheres e crianças pequenas tinham permissão para mascar chicle em público", contou a autora.
Matthews explica que as imposições sociais se deviam em parte a que o som do chicle, que Sahagún comparava com o de castanholas, era uma das coisas que identificava as prostitutas astecas.
"O simples fato de mascar chicle em público identificava uma mulher casada ou viúva como prostituta e um homem como homossexual", explicou.
Apesar destas conotações negativas, segundo a especialista, a goma tinha outros usos antigamente, alguns deles rituais, como a produção de incenso, e também artesanais, no uso como adesivo e camada protetora.
O chiclete moderno, explica Matthews, data de 1870 e surgiu do encontro casual do presidente mexicano Antonio López de Santa Anna e do industrial americano Thomas Adams, que procurava no chicle um substituto à borracha, considerada muito cara.
O projeto não rendeu frutos e, segundo Matthews, Adams estava pronto a abandoná-lo quando, por acaso, viu uma menina comprar borracha de parafina para mascar em uma farmácia.
Adams lembrou então que essa era uma atividade popular entre os povos indígenas do México e mudou o rumo do projeto.
Em 1859, Thomas e os filhos começaram a trabalhar no que se transformaria no primeiro chiclete moderno à base de chicle.
A nova goma se tornou muito popular, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial. Como a indústria desse produto não conseguiu suprir a demanda, as companhias americanas optaram por fabricar o artigo com materiais sintéticos.
O livro de Matthews narra a história do chicle, das características botânicas do produto e o desenvolvimento de uma indústria lucrativa que, em seu apogeu, chegou a ser símbolo da juventude americana.
Nas passagens mais amenas, o livro explora os vínculos do chicle com a cultura popular americana e, ao outro lado da fronteira, a imagem do mascador da goma na cultura popular de Iucatã.