17/04/2009
Nouriel Roubini
A China, segunda maior economia do planeta, de acordo com o critério de Poder de Paridade de Compra, contribuiu com 10% da produção global em 2007 e 2008. É, portanto, um elemento-chave para a recuperação mundial. É claro que o país sofreu uma forte desaceleração no segundo semestre de 2008, com base em vários indicadores: Produto Interno Bruto (PIB) próximo a zero no quarto trimestre ante o trimestre anterior, queda nas vendas de veículos e imóveis, fracos indicadores industriais e retração das exportações e importações.
Há sinais crescentes, contudo, de uma recuperação em março, depois do mergulho do quarto trimestre de 2008, a sugerir que a retomada persistirá até o fim deste ano. Não é ainda motivo de comemoração. O site RGE Monitor ainda vê riscos para o crescimento chinês, que provavelmente será menor do que a meta governamental de 8% e talvez abaixo dos 6,5% previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial. Um número entre 5% e 6% parece mais provável. Uma estimativa mais otimista dependeria de uma forte arrancada global, especialmente dos Estados Unidos, fato que só deverá ocorrer em 2010. Parece prematuro acreditar em recuperação econômica, particularmente na reação da demanda das economias do G-3 (EUA, União Europeia e Japão), que absorve a maior parte das exportações do país.
Há outros riscos neste cenário. Primeiro, a política de estímulo da China pode provar ser insuficiente e novos pacotes devem ser adiados. Em segundo lugar, se uma recuperação levar à superoferta de dinheiro fácil, por meio de políticas fiscais e afrouxamento do crédito, isso pode gerar inadimplência, queda dos lucros ou crescimento dos prejuízos.
Dado o colapso da demanda externa, as exportações agora estão em queda livre, uma vez que as políticas que eventualmente resultariam em mais consumo não foram totalmente implementadas. O trabalho de aquecer a demanda interna está nas mãos de uma política fiscal proativa e de um maior afrouxamento nas políticas creditícia e monetária.
Apesar de o investimento governamental ter crescido acentuadamente em fevereiro, os gastos do capital privado têm a tendência de se manter fracos em 2009, em razão do declínio dos lucros. Além disso, embora os indicadores de consumo privado, como vendas no varejo, estejam relativamente robustos, crescem a um ritmo menor do que em 2008. A extensão do desemprego e a retração da renda, assim como a redução da confiança do consumidor, podem prolongar o ritmo fraco de vendas, sobretudo em áreas urbanas, a despeito dos incentivos governamentais.
A China deu respostas contundentes à crise, que incluíram o afrouxamento monetário, o incentivo aos empréstimos bancários e uma agressiva política de investimentos governamentais, para tentar compensar a retração dos gastos privados. Ainda assim há chances de o país crescer apenas 5% ou 6% em 2009, metade dos porcentuais registrados há cinco anos, e claramente abaixo do seu potencial. O crescimento pífio para os padrões asiáticos resultará em uma aterrissagem forçada, seguida por perdas de postos de trabalho e fechamentos de empresas. Além disso, a demanda por commodities será muito menor.
O país também está alocando recursos para fazer frente a metas de longo prazo, inclusive com uma crescente participação de combustíveis renováveis na matriz energética. No entanto, a meta implícita para o déficit fiscal de 3% do PIB, estabelecida pelo Ministério das Finanças, limitará os investimentos necessários para a retomada econômica em 2010. O lado positivo é que o nível de poupança doméstico, a dívida sob controle e o fato de a China ainda atrair investimentos estrangeiros diretos posicionam o país em situação mais confortável do que a dos demais países emergentes.
A moeda local, o yuan, voltou a ser atrelada informalmente ao dólar, o que permite a acumulação de reservas e a compra de ativos americanos, mesmo em um ano difícil como 2009. Mas haverá uma inevitável retração da entrada de recursos, muito abaixo do registrado em 2008.
É grande a distância entre os fragilizados EUA, a economia global e a meta de crescimento chinês de 8% neste ano. Dadas as perspectivas ruins para a produção americana, o país deve continuar a crescer aquém do seu potencial em 2010.
Há ainda outro complicador. Mesmo quando os EUA se recuperarem, isso se dará menos em razão do consumo e das importações e mais na melhora das exportações brutas. Caminha para uma mudança o mundo em que os EUA eram o consumidor de primeira instância, gastando mais do que a renda e contabilizando fortes déficits em conta corrente, e em que a China era o produtor de primeira instância, com grandes superávits em conta corrente.
Revista Carta Capital
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