Geografia
O que é pior... 7 x1 no futebol, ou 29 x 1 na ONU?
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, deve estar achando o máximo ter sido repentinamente elevado, pela rançosa e entreguista direita latino-americana ? como o Sr. Andrés Oppenheimer ? à condição de ?superstar?, depois de ter chamado o Brasil de ?anão diplomático? e de ter nos lembrado, com a autoridade moral de um lagarto, que ?desproporcional é perder de 7 x 1?, referindo-se à Copa do Mundo, e não, matar e ferir mais de 3.000 pessoas e desalojar quase 200.000, para ?vingar? um número de vítimas civis que não chegam a cinco.
Com acesso a drones e a sofisticados satélites de vigilância norte-americanos, e a compra de espiões em território ?controlado? pelo Hamas ? traidores e mercenários existem em todos os lugares ? Israel poderia, se quisesse, capturar ou eliminar, com facilidade, em poucos meses, os responsáveis pelo lançamento de foguetes contra seu território, assim como alega contar com eficaz escudo que o protege da maioria deles.
O governo de Telaviv ? e o Mossad ? não o faz porque não quer. Prefere transformar sua resposta em expedições punitivas não contra os responsáveis pelos projéteis, mas contra todo o povo palestino, matando e mutilando ? como fizeram os nazistas com os próprios judeus na Segunda Guerra Mundial- milhares de pessoas, apenas pelo fato de serem palestinos.
Essa atitude, no entanto, não impediria que surgissem novos militantes dispostos a encarar a morte, para continuar afirmando ? pelo único meio que bélico lhes restou ? que a resistência palestina continua viva.
Do meu ponto de vista, nesse contexto de cruel surrealismo e interminável violência do confronto, para chamar a atenção do mundo, os palestinos, principalmente os que não estão ligados a grupos de inspiração islâmica, deveriam não comprar mais pólvora, mas tecido.
Milhares e milhares de metros de pano listrado, como aqueles que eram fabricados por ordem do Konzentrationslager Inspetorate, e das SS, na Alemanha Nazista, para vestir entre outros, os prisioneiros judeus dos campos de extermínio.
Os milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza poderiam ? como fez Ghandi na Índia ? adotar a não violência, raspar as suas cabeças, as de suas mulheres e filhos, como raspadas foram as cabeças dos milhões de judeus que pereceram na Segunda Guerra Mundial, tatuar em seus braços, com números e caracteres hebraicos, a sua condição de prisioneiros do Estado de Israel, costurar, no peito de seus uniformes, o triângulo vermelho e as três faixas da bandeira palestina, para ser bombardeados ou morrer envoltos na mesma indumentária das milhões de vítimas que pereceram em lugares como Auschwitz, Treblinka e Birkenau.
Quem sabe, assim, eles poderiam assumir sua real condição de prisioneiros, que vivem cercados dentro de campos e de guetos, por tropas de um governo que não é o seu, e que, em última instância, controla totalmente o seu destino.
Quem sabe, despindo-se de suas vestimentas árabes, das barbas e bigodes de seus homens, dos véus e longos cabelos de suas mulheres, despersonalizando-se, como os nazistas faziam com seus prisioneiros, anulando os últimos resquícios de sua individualidade, os palestinos não poderiam se aproximar mais dos judeus, mostrando-lhes, aos que estão do outro lado do muro e aos povos do resto do mundo ? com imagens semelhantes às do holocausto ? que pertencem à mesma humanidade, que são, da mesma forma, tão vulneráveis à doença, aos cassetetes, às balas, ao desespero, à tristeza e à fome, quanto aqueles que agora os estão bombardeando.
As razões da repentina e grosseira resposta israelense contra o Brasil ? que ressaltou, desde o início, o direito de Israel a defender-se ? devem ser buscadas não no ?nanismo? diplomático brasileiro, mas no do próprio governo sionista.
É óbvio, como disse Yigal Palmor, que no esporte bretão 7 a 1 é um número desproporcional e acachapante.
Já no seu campo de trabalho ? a diplomacia ?como mostrou o resultado da votação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que aprovou, há três dias, a investigação das ações israelenses em Gaza, os ?anões? diplomáticos ? entre eles o Brasil, que também votou contra a posição israelense ? ganharam por 29 a 1, com maioria de países do BRICS e latino-americanos. Só houve um voto a favor de Telaviv, justamente o dos EUA.
Concluindo, se Palmor ? que parece falar em nome do governo israelense, já que até agora sequer foi admoestado ? quiser exemplo matemático ainda mais contundente, bastaria lembrar-lhe que, no covarde ?esporte? de matar seres humanos indefesos ? entre eles velhos, mulheres e crianças ? disputado pelo Hamas e a direita sionista israelense, seu governo está ganhando de goleada, desde o início da crise, pelo brutal ? e desproporcional placar ? de quase 300 vítimas palestinas para cada civil israelense.
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