Afeganistão, Iraque e Somália foram os países de onde surgiram em 2009 mais pedidos de asilo. No primeiro caso, uma intervenção militar estrangeira em 2001, a pretexto da guerra ao terrorismo, derrubou um regime obscurantista e prometeu a construção de um Estado democrático e viável. Passados nove anos, a violência é a regra e as esperanças de um futuro decente são mínimas para muito afegãos. No segundo caso, também uma intervenção militar em 2003 a pretexto da guerra ao terrorismo, verificou-se a substituição de uma ditadura por um caos que só agora começa a dar sinais de ser contrariado, pelo que se compreende o grande número de iraquianos que prefere viver fora do país. No terceiro caso, o drama é velho de 20 anos e está relacionado com o fracasso do Estado, o que gerou um território sem lei, que só merece a atenção da comunidade internacional porque pode tornar-se uma base para terroristas ou porque acolhe os piratas que põem em risco a navegação no Índico.
Estados Unidos, França, Canadá, Reino Unido e Alemanha lideram os países de acolhimento, o que não surpreende. São países ricos, membros do G8, e ainda por cima sociedades cada vez mais multiculturais, onde os deserdados do mundo se imaginam bem acolhidos. Mas não basta acolher gente perseguida para tranquilizar as consciências. Por cada pessoa que consegue asilo, existem outras que sofrem a mesma fome, guerra ou perseguição. Enquanto houver dois mundos, um democrático e outro arbitrário, um próspero e outro pobre, tudo em combinações várias, nenhuma consciência pode dormir tranquila.
DN online 3/4/2010