O mal do Brasil são os posseiros do Estado, Miriam Leitão
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O mal do Brasil são os posseiros do Estado, Miriam Leitão


Miriam Leitão é, sem dúvida, uma das vozes que batalham para dar racionalidade aos debates públicos sobre questões econômicas. Daí a importância do seu trabalho jornalístico, especialmente num país como o Brasil, cujo Estado segue eternamente dominado pela demagogia desenvolvimentista ou nacional-populista. Por essa razão, ela é um dos alvos dos petralhas que agem a soldo na internet ou em blogs e sites financiados por estatais do governo federal, os quais se dedicam à difamação dos que ousam fazer qualquer crítica ao PT - só para dar um exemplo, o Blog da Dilma já apelou até para o racismo ao atacar Joaquim Barbosa, publicando a foto dele ao lado da foto de um chimpanzé... 

Apesar disso, Miriam Leitão foi profundamente injusta e covarde ao publicar recentemente um artigo no qual acusa a suposta existência de uma "direita hidrófoba", representada por pessoas como Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, que se igualaria àquela gente "muito bem patrocinada pelos anúncios de estatais" na prática da difamação de adversários e do uso de argumentos emburrecedores. Mas não vou repetir as críticas feitas por Reinaldo Azevedo ao texto de Miriam, as quais são um primor de argumentação (ver aqui). 


Do texto dele, destaco apenas a propriedade com que assinala que Miriam Leitão, que nunca havia respondido aos ataques pessoais de que é vítima por parte da esquerda, só foi capaz de reagir por meio de um discurso no qual nivela gente que não pode ser nem sequer comparada! Afinal, digam o que quiserem de Reinaldo Azevedo e de Rodrigo Constantino, menos que eles apelam para difamações, ofensas e discurso burro no intuito de ganhar dinheiro atacando o PT. Se eles fossem como certos jornalistas que sempre apoiam o governo de turno, não importando se é uma ditadura militar, um governo tucano ou petista, a insinuação de que podem ter alguma coisa a ganhar com o que escrevem faria sentido, mas não é realmente o caso. Afinal, há uma inegável linha de coerência nos argumentos dos dois. 

Nesse sentido, o que tenho a acrescentar sobre o assunto é que, enquanto Miriam Leitão ataca covardemente os poucos intelectuais brasileiros que, embora muito diferentes um do outro, podem ser caracterizados como representantes de uma direita democrática, a maior parte da nossa direita, que sempre foi autoritária e estatista, segue dividindo com o PT as vantagens de capitanear um Estado gigantesco e ineficiente. Já escrevi alguns textos sobre isso neste blog, conforme indicado abaixo. Mas faço uso da deliciosa ironia de Guilherme Fiuza para mostrar um exemplo bem concreto dessa identidade de interesses e métodos:
Dilma Rousseff chorou ao instalar a Comissão da Verdade. Entre os companheiros que se emocionaram com ela estava José Sarney, presidente do Senado. Citando Galileu Galilei, a presidente disse que "a verdade é filha do tempo, não da autoridade". Sarney servia ao regime que Dilma quer investigar, mas isso não tem a menor importância. Ambos são sócios numa verdade que não é filha do tempo, nem da autoridade. A verdade de Dilma e Sarney é filha da mãe de todos os posseiros do Estado brasileiro.
É uma verdade tão generosa que pode admitir até censura. Não a dos anos de chumbo, que está fora de moda. Censura moderna, cirúrgica. A investigação da família Sarney por tráfico de influência vinha sendo exposta por "O Estado de S. Paulo". Com apoio irrestrito de Lula e Dilma, Sarney ficou firme no cargo e seu filho conseguiu submeter o jornal à censura prévia, que já vai completar três anos. Em nome da verdade.
Galileu entendia dos astros, mas não sabia nada de fisiologismo. Se soubesse, descobriria que a verdade é uma ação entre amigos.
Amordaçar a imprensa foi uma forma eficiente de proteger a ditadura, especialmente quando ela torturava. Dilma Rousseff deve saber disso. Portanto, censura nunca mais ? a não ser para defender alguém como Sarney, que como disse Lula, "não é uma pessoa qualquer". E não é mesmo. Acima do José Ninguém que apóia o governo popular com sua crença, seu voto e outras miudezas, José Sarney é um companheiro diferenciado: põe seus lotes privados na máquina pública a serviço de Dilma, se ela mantiver o seu alvará de sucção. Uma troca verdadeira (Cf.: Quem vai desenterrar a verdade do presente?).
O discurso segundo o qual devemos ver defeitos e qualidades tanto na esquerda como na direita soa como um chamado ao bom senso, mas não passa de uma ideia sem conteúdo que serve como estratégia para desqualificar um argumento sem discuti-lo. Afinal, qualquer texto que faça críticas fortes à direita ou à esquerda pode ser descartado ignorando-se a argumentação que ele contém e apelando-se para a ideia vazia de que a verdade tem de estar sempre no meio. Jornalistas não especializados em política ou economia, como Ruth de Aquino, costumam usar essa ideia apenas por falta de algo profundo para dizer sobre o assunto. Mas Miriam Leitão sabe do que fala; no caso dela, foi estratégia de desqualificação mesmo!

Então, se algum dia Fiuza criticar uma ideia qualquer de Miriam Leitão, como já fizeram Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, será incluído por ela no rol da "direita hidrófoba". Enquanto isso, Marilena Chaui pode esbanjar preconceito, como ao dizer "eu odeio a classe média", e acusar esse grupo social de ser "ignorante", "fascista" e "terrorista", entre outras barbaridades, sem que os jornalistas a chamem de "rottweiller da filosofia" ou de "esquerda hidrófoba" por causa disso. A não ser que Chaui resolva pegar no pé de Miriam Leitão, é claro...

Não estou entre aqueles segundo os quais não existe mais diferença entre esquerda e direita. Mas é preciso reconhecer que, no Brasil, esse embate se embaralha pelo fato de que a direita tupiniquim sempre foi autoritária, estatista, anti-liberal. O discurso de que a verdade está no meio, além de servir como estratégia retórica de desqualificação de argumentos, tem também o defeito de desviar a atenção do fato de que, no Brasil, o mal são os posseiros do Estado, os quais se espalham por partidos dos dois lados do espectro ideológico.

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