O Black Bloc no Brasil e no Mundo
Geografia

O Black Bloc no Brasil e no Mundo


O que é Black Bloc

Black bloc (do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de esquerda política, de corte anarquista, empreendida por grupos de afinidade que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar a lei e a ordem. Black bloc é basicamente uma estrutura efêmera, informal, não hierárquica e descentralizada. Unidos, seus adeptos adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades privadas que representem a opressão gerada pelo capital.

Caracterização do grupo

As roupas e máscaras pretas - que dão nome à tática e visam garantir o anonimato dos indivíduos participantes, a igualdade entre eles e caracterizando-os, em conjunto, como um único e imenso "bloco".


Como atuam

Os black blocs, à diferença de outros grupos anticapitalistas, realizam ataques diretos à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo - as corporações multinacionais e os governos que as apoiam. Um exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Cronologia de atuações no mundo

Inicialmente as grandes redes de comunicação de massa difundiram o entendimento de que black bloc seria uma organização internacional. Mais recentemente, ficou claro que black bloc não é uma organização ou grupo mas uma tática utilizada por vários indivíduos anticapitalistas, que não mantêm muitas conexões entre si. Na mesma manifestação, podem formar-se diversos blocos negros, com diferentes objetivos e ações. Esses blocos podem até mesmo entrar em confronto entre si, a exemplo do que ocorreu nas protestos contra o G8, em Gênova (2001) e Montebello (Quebec), em 2007, durante a Cúpula de Líderes da América do Norte (também conhecida como Three Amigos Summit ou "Cúpula dos Três Amigos", a saber: Estados Unidos, México e Canadá), quando alguns policiais se infiltraram no black bloc. A polícia negou que os agentes tivessem atuado como provocadores, mas um dos policiais infiltrados foi filmado com uma grande pedra na mão.

Como se compõem os grupos

O black bloc geralmente é formado por anarquistas e integrantes de movimentos afins (anticapitalismo e antiglobalização), que se juntam para determinada ação de protesto. O objetivo pode variar em cada caso, mas, em termos gerais, trata-se de expressar solidariedade diante da ação repressiva/opressiva do Estado e de veicular uma crítica, segundo a perspectiva anarquista, acerca do objeto do protesto no momento.

Alguns também consideram um equívoco considerar o bloc como violento. Para John Zerzan (teórico anarquista considerado como uma espécie de ideólogo dos movimentos de multidão) no documentário Surplus, não se pode falar em violência contra objetos: não se violenta uma mesa, cadeira ou vidraça. Segundo Zerzan, a violência só pode ser exercida contra outros seres vivos, coisa que não acontece com o black bloc. "Veteranos" do bloco confirmam essa visão: "Não somos violentos, jamais atacamos pessoas (...) Não é violência destruir os símbolos do capitalismo selvagem, da exploração, da globalização". Esses símbolos seriam lojas, caixas automáticos, carros de luxo. Os blocs nunca andam armados. Objetos simples, muitas vezes encontrados pelo caminho (pedras, extintores de incêndio, placas de trânsito, vergalhões de aço encontrados em canteiros de obras), são transformados em armas improvisadas. O importante, para o sucesso da tática, é ser imprevisível, incontrolável e visível apenas no breve momento da ação, graças à inconfundível máscara e às roupas pretas.

A história do Black Bloc

O black bloc surgiu na Alemanha, na década de 1980, como uma tática utilizada por autonomistas e anarquistas para defenderem os squats (ocupações) e as universidades contra a ação da polícia e os ataques de grupos nazistas e fascistas. A expressão Schwarzer Block nasce nessa época. Era utilizada pela polícia alemã para identificar os Autonomen (similares aos Autonomi italianos, que se situavam na área da esquerda extraparlamentar, mas com uma substancial diferença quanto ao uso de táticas violentas) que, durante as manifestações e passeatas antinucleares e em favor da Rote Armee Fraktion, geralmente usavam roupas e máscaras negras para que o conjunto dos manifestantes formasse uma massa compacta e bem identificável, seja para parecerem numericamente superiores, seja para atraírem a solidariedade e a ajuda de outros grupos ideologicamente afins, durante as manifestações. As máscaras e os gorros ou capacetes têm a função de proteger os adeptos e ao mesmo tempo impedir a identificação dos participantes, por parte da polícia.

A mesma denominação foi posteriormente utilizada em inglês - Black Bloc - nos Estados Unidos, durante as manifestações contra o Pentágono (1988) e durante os protestos contra a Primeira Guerra do Golfo (1991). Outras aparições significativas dos black bloc ocorreram em Seattle (30 de novembro a 4 de dezembro de 1999) durante as manifestações contra a conferência de ministros dos países membros da OMC, em Praga (26 a 28 de setembro de 1999), quando a cidade foi ocupada durante a reunião dos países membros do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. O black bloc também apareceu em Gotemburgo (14 e 15 de junho de 2001) nas manifestações contra o Conselho Europeu. Em Gênova (20 de julho de 2001), durante a cúpula do G8, as manifestações destruíram partes da capital da Ligúria. Na época, houve suspeitas de que provocadores estivessem infiltrados no black bloc, atuando em cumplicidade com a polícia. Mais tarde, ficou claro que havia policiais infiltrados no "bloco". Além disso, os black bloc foram criticados por outros ativistas, por provocarem uma violenta reação da polícia, o que, além de inviabilizar as manifestações pacíficas de diferentes organizações, resultou na morte do jovem Carlo Giuliani, por um policial.
Em 20 de abril de 2001, durante a Cúpula das Américas, o black bloc derrubou parte da cerca metálica de 3,8 quilômetros (chamada o muro da vergonha pelos manifestantes) que protegia o local da reunião.
Em 2009, a City, o centro financeiro de Londres, foi transformada em praça de guerra durante os protestos contra a reunião do G-20. A tropa de choque tentou dispersar os manifestantes, e um homem acabou morto. Em todas as ocasiões, o padrão das ações do black bloc basicamente se repete. Na Rio de Janeiro e na São Paulo, em 2013, não foi diferente: enfrentaram a polícia com paus e pedras, quebraram vitrines de lojas e bancos (que consideram símbolos do capitalismo), fizeram barricadas incendiando lixeiras, destruíram veículos (principalmente carros da polícia).
Em alguns casos, porém, a reação policial às ações do black bloc pode ser muito mais violenta. Em Gênova (2001), depois de atirar e passar duas vezes por cima do corpo de Carlo Giuliani com um carro, a polícia realizou, na noite de 20 para 21 de julho, um ataque ao complexo de escolas A. Diaz. No local, funcionavam a coordenação do Genoa Social Forum ("Fórum Social de Gênova") e a sala de imprensa da Indymedia, além de um dormitório improvisado. O motivo da invasão teria sido a suspeita de que lá haveria adeptos black bloc. Na sequência, os policiais passaram a espancar indistintamente todas as pessoas se encontravam no prédio. Ao final, 61 pessoas foram feridas e levadas a hospitais, três das quais em estado grave e uma (o jornalista britânico Mark Covell) em estado de coma; 93 foram presas e, dentro das instalações da polícia, continuaram a maus-tratos. Relatos publicados pela imprensa da época descreveram o episódio como um massacre. Posteriormente, 125 policiais foram indiciados pelas agressões. A invasão da escola foi tema do filme Diaz - Don't Clean Up This Blood (em português, Diaz - Não limpe esse sangue), de Daniele Vicari.

O Surgimento do Black Bloc no Brasil

Durante o mês de junho as manifestações massivas contra o aumento das tarifas fizeram emergir novas dinâmicas no cenário político brasileiro, uma renovação da organização social que questiona os limites legais do estado e situação atual das coisas. A inovação e o choque desse outono de 2013 aconteceram porque a desobediência civil - tática histórica de movimentos contestatórios - teve uma aceitação popular jamais vista no Brasil desde a proclamação da república (sempre é bom lembrar que a proclamação da república foi uma quebra da institucionalidade).
Surgiram alternativas de luta, cada qual com suas táticas. A ação direta não violenta das multidões veio em Porto Alegre no levante contra o aumento das tarifas, reforçado pelo Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo. Foram bloqueios de vias, abertura de catracas, escrachos (denúncia públicas de pessoas acusadas de violações de direitos, como ex-agentes da ditadura) e ocupações de prédios públicos.
São ações questionadoras da ordem que, em muitas ocasiões, despertam resposta violenta da polícia e tentativas de criminalização por parte da grande mídia. Ao mesmo tempo, essas ações se colocam diretamente contra o Estado e os efeitos da exclusão econômica, partindo sem intermediários para a disputa do modelo de sociedade.

Black Bloc. Paralelo a essa estratégia - e independente do MPL e congêneres - se manifestou nesse período a tática do Black Bloc, em grande parte como resposta à violência policial. O Black Bloc é composto por pequenos grupos de afinidade, muitas vezes feitos na hora, que atuam de forma independente dentro das manifestações. Mas, ao contrário do MPL, o Black Bloc não é uma organização ou coletivo e sim uma ideia, uma tática de autodefesa contra a violência policial, além de forma de protesto estética baseada na depredação dos símbolos do estado e do capitalismo. A dinâmica Black Bloc lembra mais uma rede descentralizada como o Anonymous do que um movimento orgânico e coeso.
Utilizada primeiramente pelos movimentos autonomistas da Itália e da Alemanha, é muito presente na Europa e EUA, e mais recentemente nos países árabes, mas nunca havia encontrado condições para se desenvolver em solo brasileiro.
O primeiro sinal de propaganda Black Bloc no país ocorreu no início dos anos 2000, durante o surgimento do movimento anticapitalista global (antiglobalização), mas foi descartado pelos ativistas autônomos da época por avaliarem a ação direta não violenta, manifestada principalmente nos protestos contra a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), estrategicamente melhor para o cenário brasileiro. Anos depois essa opção pela ação direta não violenta combinada com trabalho de base, organização horizontal e uso intensivo da internet influenciou a criação do MPL e outros movimentos autônomos, como a Bicicletada, o Centro de Mídia Independente e o Rizoma de Rádios Livres.
No entanto, a ideia do Black Bloc nunca morreu, manifestando-se em escala menor e de forma bem isolada em manifestações anteriores. Nada muito significativo ou mesmo duradouro, sendo impulsionado por elementos anônimos que não deram continuidade à sua atuação. Mas a ideia estava lá, sempre lá, e na primeira oportunidade se manifestava em algum canto do País, geralmente como recurso para a autodefesa.
Violência policial e autodefesa. Em junho o cenário de manifestações criou um ambiente favorável para o florescimento do Black Bloc brasileiro na sua forma de autodefesa. Em diversas capitais as mobilizações extrapolaram a capacidade organizativa dos grupos e movimentos que as desencadearam, criando movimentos multicêntricos onde cabem diversas estratégias, táticas e narrativas mobilizadoras. Como na maioria das cidades esse crescimento veio pela solidariedade popular pós-repressão, é coerente afirmar que a violência policial foi o fermento da indignação que levou a população às ruas no auge das jornadas de junho; e serviu como justificativa moral, segundo seus defensores, para a disseminação descentralizada da tática Black Bloc.
Reações de autodefesa começaram a surgir no meio da massa de manifestantes, de forma cada vez mais organizada. No Rio de Janeiro, devido à intensidade da repressão e às condições geográficas e sociais da cidade, que aproximam bairro e favela, jovem de classe média e jovem da periferia, a intensidade da repressão policial e da resposta dos manifestantes foi maior.
Apoio aos irmãos cariocas. Recentemente, na sexta-feira 26 de julho, houve um ato na avenida Paulista denominado "Ato em apoio aos irmãos cariocas versão sem pelegos". Esse ato pode ser considerado um ponto de virada na narrativa do Black Bloc brasileiro. Pela primeira vez a ideia e a tática se manifestaram em sua plenitude na forma da manifestação direcionada para a destruição de propriedades privadas e públicas. Cerca de 300 pessoas percorreram o trajeto do Masp até a 23 de Maio destruindo bancos, bases policiais e veículos da mídia hegemônica. A polícia acompanhou a movimentação de longe, alegando esperar o reforço da Força Tática para iniciar a dispersão do ato.
Na terça-feira 30, o ato chamado pelo Facebook, reuniu manifestantes contrários ao governador paulista, Geraldo Alckmin, e ao governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Alguns manifestantes picharam paredes, quebraram o vidro de uma concessionária e de agências bancárias na região. A Força Tática e a tropa de Choque da Polícia Militar seguiram atrás dos manifestantes.
A retomada da polícia já havia sido prometida na página da Secretaria de Segurança Pública na internet, com o órgão dizendo que a PM agiria ?com a energia necessária para evitar atos criminosos,? após agências bancárias e bases policiais terem sido danificadas na avenida Paulista na última sexta-feira. Com a ação de 220 oficiais, segundo a própria corporação, foram detidos 20 manifestantes. Destes, cinco ainda continuam presos por suspeita de formação de quadrilha, resistência à prisão, desacato e dano ao patrimônio público.
Os protestos recentes e especificamente as manifestações Black Bloc têm sido usados como pretexto para pautar soluções repressoras. A mídia tem feito o trabalho de recortar as imagens de depredação e confronto sem o mínimo de contextualização, imprimindo a narrativa que melhor lhe convém, e muitas vezes criminalizando pessoas não envolvidas nos confrontos. Do outro lado, iniciativas midialivristas e os demais veículos de esquerda têm trazido outros pontos de vista sobre a questão, forçando uma pequena mudança na linha editorial dos meios hegemônicos como demonstrou o caso do ativista carioca Bruno, incriminado injustamente de ter atirado molotovs na polícia.
Vale nos questionarmos como o Black Bloc vai impactar na disputa de imaginário da sociedade e como o estado e os demais movimentos vão lidar com essa novidade política. Com a expansão dessa tática será possível realizar novas ações diretas não violentas de multidão, convocadas pela internet, sem essas terminarem, necessariamente, em confronto físico?
Como diferenciar o Black Bloc do agente provocador infiltrado, que está na manifestação apenas para criar fatos que justifiquem a repressão? A suspeita sobre os P2 levanta outra questão: até que ponto a violência por parte dos manifestantes serve aos interesses de determinado governo?
Cada caso é um caso, e só nos resta avaliar cada conjuntura com lucidez, a fim de que não sejamos levados a tomar opinião direcionados por interesses ocultos. Formação política, clareza dos objetivos e capacidade de análise de conjuntura serão dos fatores determinantes para o futuro da ação direta urbana no Brasil, seja ela violenta ou não violenta.


Como o Black Bloc matou as manifestações
Texto de Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/como-o-black-bloc-matou-as-manifestacoes

Com desrespeito às instituições, intolerância e práticas violentas, mascarados expulsaram o cidadão comum dos protestos. Agora, tentam justificar a morte de um cinegrafista citando ?outras mortes da PM?. Agem, assim, como quem tolera a ação de justiceiros

Joao Marcello Erthal


Bomba atinge a cabeça de cinegrafista da TV Bandeirantes que gravava cenas do protesto no Rio de Janeiro (Agência O Globo)
Os mascarados consideram que todo homem fardado deve levar bomba. Uma delas acertou Santiago Andrade
Em um vídeo de apoio às manifestações, publicado em outubro do ano passado, a atriz Camila Pitanga lançava a pergunta: ?Vai precisar ter morte? Porrada já está rolando?, alertava, seguida de uma sequência de depoimento de famosos. O testemunho de Camila, assim como todas as críticas ?à violência? nas manifestações, tratava a truculência como uma exclusividade das forças policiais, e culpava ?a mídia? por acobertar esses abusos. Brasil afora, houve e há excessos da PM em situações muito além dos protestos ? e é ?a mídia? quem os apresenta. A morte pela qual ansiavam os mascarados veio na última quinta-feira, e, mais uma vez, graças às câmeras de fotógrafos e cinegrafistas ?da mídia?, soube-se que os assassinos eram mascarados ? um desastre para quem torcia por um assassinato com assinatura da polícia.
A página do grupo Black Bloc no Facebook foi invadida por uma onda comentários chamando os mascarados de ?assassinos?. Os administradores e apoiadores da ?tática? rejeitam o rótulo, ignoram o fato de Andrade ter sido morto por dois dos seus e chamam os críticos de alienados. Dizem que são gente que ?não quer mudar? e que não enxerga ?a luta por mudança?. Na tarde desta terça-feira, Elisa Quadros, a agora famosa ?Sininho?, foi hostilizada por passageiros de um ônibus. O motorista do coletivo recusou-se a parar para que a cineasta embarcasse.
Os radicais mascarados repetem, assim, a cegueira e o desprezo pela divergência de opiniões que levam à rua e às redes sociais desde junho. O Black Bloc apropriou-se de tal forma dos atos públicos que afastou das manifestações o cidadão comum, verdadeira força de um movimento popular. Atraiu uma antipatia que prejudica, hoje, as causas merecedoras da indignação dos cidadãos ? entre elas, obviamente, a má qualidade dos transportes, da saúde, da polícia e da política. Do "milhão", as passeatas recuaram para os milhares e, finalmente, as centenas, como nas últimas duas ocasiões.
Em junho, o país conheceu, quase simultaneamente aos black blocs, a "mídia ninja", um grupo que, com uso de celulares, câmeras e computadores, transmitia em tempo real os protestos, os confrontos e o que quisessem ? mas só o que quisessem. Ninja é sigla de ?narrativas independentes, jornalismo e ação?. Ironicamente, não havia narrativa: o que se via era uma transmissão direcionada, com uma locução que, independentemente do que era mostrado, reafirmava bordões do radicalismo e culpava a polícia por todo tumulto. Não importa se um policial ardia nas chamas de um coquetel molotov. O culpado era um PM, um infiltrado.
Os black blocs receberam apoio de instituições. Na mais grotesca manifestação de apoio, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe), em meio a uma greve altamente contaminada por interesses políticos, adotou os mascarados como sua força de defesa "contra o abuso policial". O mesmo sindicato considerou "pacífica" uma manifestação que teve um baleado e 190 detidos. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que tem em seu gabinete um assessor que comanda uma ONG que se dedica a prestar assistência jurídica a manifestantes detidos - e não importa o que tenham feito, de vandalismo a ataques ao patrimônio público e privado - está agora às voltas para explicar sua relação com os mascarados. Ele próprio já reconheceu: as manifestações estão "fora de controle".
Antes de Santiago Andrade, a tal narrativa ? que, caso fosse realmente nova e interessante, poderia envolver a população ? foi assassinada pelos black blocs. O roteiro dos protestos passou a ser o mesmo, sempre: um movimento chamado de ?pacífico? que, em um determinado momento, abria fileiras para um bando de mascarados armados com bombas, coquetéis molotov, pedras e paus. Vinham, é óbvio, as bombas de efeito moral da PM, e tinha-se a imagem de guerrilha urbana. Em segundos, ninguém se lembrava mais da causa do protesto, e o que se tinha é a mesma ?narrativa?: pancadaria, vidros quebrados, lojas saqueadas e clara intenção golpista.
?Não vai ter copa?, ?Fora Cabral?, ?PM assassina?, ?Cadê Amarildo??. Em cada uma das causas há, indiscutivelmente, razões reais para a indignação. Os projetos olímpicos são caros e precisam de fiscalização. O governador Sérgio Cabral bateu recorde de impopularidade e, no meio dos protestos, VEJA revelou seu hábito de se deslocar a lazer nas aeronaves do governo do Estado. A PM de fato precisa se aprimorar e expurgar os maus policiais e os vícios de corrupção. O pedreiro Amarildo de Souza foi vítima de uma série de práticas abjetas da PM, numa favela ocupada pela ?nova polícia? do secretário José Mariano Beltrame, na era das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Nenhum dos caminhos dos protestos, no entanto, escolheu uma rota que passe pelas instituições competentes, pelos instrumentos do jogo democrático. Os mascarados querem suspender a Copa "no grito". Querem depor Sérgio Cabral, num golpe. Consideram que todo homem fardado deve levar bomba. Uma delas acertou Santiago Andrade.
É possível ? e provável ? que o morteiro não tivesse o cinegrafista como alvo. Mas outros cinegrafistas, fotógrafos e repórteres foram hostilizados em muitos momentos ao longo das manifestações. Equipes de VEJA foram xingadas e sofreram intimidação; e, na segunda-feira, pouco depois de ser diagnosticada a morte cerebral de Andrade, uma equipe da TV Globo foi hostilizada em uma manifestação no Centro.
Não há, em nenhuma página, discurso ou mesmo na ?nota de condolências? da página ?Black Bloc RJ?, uma referência ao que matou o cinegrafista. Para os mascarados, parece ter sido obra do destino. Eles ? e, por incrível que pareça, também o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio ? falam da tragédia como um erro ?das empresas de comunicação?, ou culpam o Estado. Também rebatem a revolta de quem viu Andrade ser atingido pelo morteiro, indo ao chão desacordado, com uma lembrança de ?tudo que a PM já fez?.
Nesta forma de justificar o injustificável está oculto mais um perigo do que pretendem os mascarados. Quando lembram ?outras mortes? para atenuar o que fizeram com Santiago Andrade, os black blocs agem como quem tolerou a ação de justiceiros e a cena de um garoto de 15 anos amarrado pelo pescoço a um poste, com uma tranca de bicicleta ? preso porque ?é bandido?.

Veja também um resumo sobre as manifestações de 2013 no Brasil.

http://geografia--dev-ensinareaprender.blogspot.com.br/2013/10/manifestacoes-populares-2013-e-passado.html

Jonathan Kreutzfeld

Fonte:

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-black-bloc-e-a-resposta-a-violencia-policial-1690.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Black_bloc

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/como-o-black-bloc-matou-as-manifestacoes

https://www.facebook.com/pages/Black-Bloc-Brasil

Canais, Vídeos e Sites relacionados:

http://www.anonymousbrasil.com/

http://www.youtube.com/watch?v=3tG9Y2E-v8k

http://www.anovaordemmundial.com/

http://www.youtube.com/watch?v=NfcNKs4W6dU

http://www.contracorrupcao.org/

https://www.facebook.com/pages/N%C3%A3o-Vai-Ter-Copa/610831915618306


... estranho





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