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Anúncio do fim do terror do ETA pode minimizar, mas não impedir derrota socialista na Espanha


Priscila Guilayn, correspondente ([email protected])

MADRI - O fim do grupo separatista basco ETA não ressuscitará o Partido Socialista, mesmo que em sua campanha recorra às 734 detenções realizadas durante os dois mandatos de José Luis Rodríguez Zapatero. Ou que recorde aos espanhóis que, neste tempo, somente 12 pessoas (das 839 vítimas do grupo terrorista) foram assassinadas. Para boa parte dos analistas, o anúncio de que o ETA "cessa definitivamente sua atividade armada" não mudará o panorama político. A oposição - o conservador Partido Popular - continua favorecida por outro problema que, atualmente, preocupa muito mais que o terrorismo: a crise econômica e sua alarmante taxa de 21% de desemprego.
- O impacto eleitoral vai ser mínimo - garante o professor de Sociologia Juan Díez Nicolás, há mais de 40 anos atuando como especialista em pesquisas de opinião e análises políticas.
Mas a decisão do ETA é uma leve injeção de ânimo nas bases do combalido Partido Socialista. O fim da luta armada logo após uma etapa de quase seis anos de Alfredo Pérez Rubalcaba, o candidato socialista, no comando da luta antiterrorista como ministro de Interior pode servir como um incentivo aos eleitores do PSOE que ficariam em casa no dia 20 de novembro. A previsão, no entanto, é que não haja nenhuma avalanche de votos socialistas.

- O Partido Popular vai ganhar, sem nenhuma dúvida, e há muitas chances de que ganhe com maioria absoluta. Mas uma coisa é ter 195 cadeiras na Câmara e outra coisa, 180. E o mesmo acontece com o PSOE: é diferente que consiga 130 deputados em vez de 115. Ou seja, o PP provavelmente terá maioria absoluta, mas não com tanta vantagem - explica Díez Nicolás, falando sobre o Parlamento espanhol, formado por 350 deputados.

Espanhóis querem a entrega das armas para crer no ETA
A escolha do dia 20 de outubro - exatamente um mês antes das eleições gerais - não foi gratuita, já que o ETA manteve o comunicado mesmo sabendo que a morte do ditador líbio Muamar Kadafi, apagaria, pelo menos internacionalmente, seu anúncio.
- Seu objetivo, claramente, era que o comunicado influísse na campanha eleitoral - afirma Díaz Nicolás.
Depois de ilegalizada durante oito anos com o partido Batasuna, a esquerda nacionalista separatista conseguiu participar das eleições municipais, em maio deste ano, com a coalizão Bildu. Sucesso eleitoral, arrebatou mais de 20% dos votos, provocando surpresa. No dia 20 de novembro, o bloco participa das eleições gerais com o nome de Amaiur.
De olho em um bom desempenho nas urnas - e numa representação parlamentar de mais peso - a facção tentará capitalizar votos mostrando-se como um ator importante na pressão para que o ETA anunciasse, enfim, a renúncia à violência. Desde que, em dezembro de 2006, o grupo rompeu sem aviso prévio uma de suas tréguas, matando duas pessoas com um atentado no aeroporto de Barajas, em Madri, a esquerda nacionalista separatista vem pressionando pelo fim da via militar. Na sexta-feira, seus líderes apareceram publicamente pela primeira vez depois do comunicado do ETA:
- O fechamento do ciclo armado do ETA não significa o fechamento do conflito político - advertiu a porta-voz Mariví Ugarteburu. - O conflito político permanece e continua necessitando de uma solução política. A partir de agora, ninguém poderá citar a luta armada como uma desculpa para impedir o direito de autodeterminação dos bascos.
O fato é que no dia seguinte ao anúncio do ETA, o clima era de uma alegria pela metade, uma espécie de satisfação cautelosa - ou como definiu a porta-voz do governo basco, Idoia Mendia, "um champanhe sem borbulhas". A imagem que a Espanha queria é a dos membros do ETA sem capuz, fazendo uma declaração de dissolução, com armas e explosivos sobre a mesa e uma lista de todos os armazéns onde estocam seu arsenal. Esperava, também, um pedido de perdão às vítimas.
- O ETA deveria fazer o que se chama um programa de redução progressiva de hostilidades. Os gestos têm que vir deles. A entrega das armas é fundamental para provar que o processo é irreversível e que o ETA não voltará a romper sua palavra - explica o sociólogo Rafael Marcos Aranda, da Universidade Rey Juan Carlos, especialista em gerenciamento de conflitos e negociações políticas. - E embora fosse o esperado, acho que a imagem do ETA com o rosto descoberto não veremos nunca.
Jornal O Globo




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