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Davos ocupada
Os gritos do movimento Occupy Wall Street ecoam durante encontro do clube dos 1% mais ricos na Suíça e a busca de soluções para a crise internacional domina os debates
Mariana Queiroz Barboza

PROTESTO
O movimento ?Occupy? fez-se ouvir no Fórum Econômico Mundial


Neste ano, não vamos deixar que eles excluam a gente, os 99%?, afirmaram os ativistas do Occupy WEF (sigla em inglês para Fórum Econômico Mundial), braço do grupo que acampou em Wall Street e levou o movimento contra a desigualdade social a outros países no ano passado. Desta vez, o acampamento foi formado por iglus erguidos sobre mais de um metro de camada de neve em um estacionamento próximo à estação ferroviária de Davos, na Suíça, onde os principais líderes globais se reúnem anualmente para discutir os rumos da economia. Curiosamente, o tema escolhido para este ano, A Grande Transformação: Desenvolver Novos Modelos, mostra que alternativas são necessárias para impulsionar o desenvolvimento econômico. Em outras palavras, os poderosos querem saber como crescer com criação de empregos e distribuição de renda. Ou seja, os reclamos do movimento que surgiu em Wall Street ecoaram durante as reuniões em Davos. Para o presidente-executivo e fundador do evento, Klaus Schwab, ?o capitalismo, na sua atual forma, já não se encaixa no mundo que nos cerca?. Notório por seu pessimismo, o economista Nouriel Roubini resumiu o espírito do encontro de 2012, marcado pelas maiores nevascas em 42 anos: ?O que nos conecta no mundo hoje em dia é a insegurança econômica e financeira, o aumento da desigualdade, os desafios impostos pela pobreza e os efeitos do desemprego na crise.?

No mesmo tom, a chanceler alemã, Angela Merkel, abriu o fórum na tarde da quarta-feira 25 pedindo reformas estruturais e mais integração no bloco europeu. Classificando-se como realista, disse que as lições da crise de 2008 ainda não foram aprendidas e negou colocar mais dinheiro no fundo de resgate permanente da zona do euro, o que, segundo ela, sobrecarregaria a Alemanha. ?O que nós não queremos é prometer algo que não possamos cumprir.? Apesar de o pessimismo prevalecer na maioria dos discursos, certo alento pôde ser verificado durante os debates sobre os países emergentes. Estes devem apresentar o maior crescimento do ano: 5,4%, segundo o Fundo Monetário Internacional. Já a China, que, pela primeira vez em 30 anos, não enviou autoridades do alto escalão por causa das festividades do Ano-Novo chinês, foi alvo de incertezas quanto à desaceleração de sua economia, mas lembrada como via alternativa por seu ?capitalismo de Estado?. ?Temos agora dois tipos de capitalismo competindo um com o outro. Há o ?laissez-faire? (liberalismo) e o capitalismo de Estado, que tem criado mais empregos do que o Ocidente?, disse David Rubenstein, do fundo de investimentos Carlyle. O problema, segundo ele, é que esse modelo não criaria empregos com remuneração e benefícios iguais aos que os ocidentais estão acostumados.

As economias latinas também foram destaque, fruto do que os empresários classificaram como ?resultados de décadas de austeridade e reformas?, que possibilitaram a restruturação da dívida, a solidez do sistema financeiro, o desenvolvimento do mercado doméstico e a atração de novos investimentos para a região. Guillermo Ortiz, ex-presidente do Banco do México, falou em ?década da América Latina?. ?Nunca estivemos tão preparados para seguir adiante?, afirmou. Embora tenha invertido os papéis nos últimos anos e abandonado a imagem de sinônimo de instabilidade, o continente não deixou de ser lembrado por seus problemas com corrupção e má distribuição de renda. ?O crescimento da desigualdade é um dos maiores riscos à prosperidade e segurança?, disse o economista-chefe da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Pier Carlo Padoan. ?O principal desafio dos governos hoje é implementar reformas que tragam o caminho do crescimento de volta, coloque o povo para trabalhar e reduza esse imenso abismo entre ricos e pobres.?

A capacidade de geração de empregos também foi bastante discutida no contexto da crise do capitalismo. O descontentamento com a falta de postos de trabalho está espelhada nos protestos dos jovens, especialmente afetados pela situação econômica desfavorável nos países desenvolvidos. Foi lembrado, durante os debates, que o desemprego serviu de motivação, entre outras, para as recentes tensões no norte da África.

Por conta disso, o executivo-chefe do banco americano Citigroup, Vikram Pandit, ressaltou o planejamento de, nos próximos dez anos, a América Latina criar 40 milhões de novos empregos e os Estados Unidos 20 milhões. Nessa linha, a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) lançou no Fórum Econômico Mundial um relatório intitulado ?Rumo
a uma economia de etanol de próxima geração?. O documento estima as perspectivas socioeconômicas da implantação de biocombustíveis avançados em oito das maiores regiões agrícolas no mundo. São elas: Argentina, Austrália, Brasil, China, Estados Unidos, Índia, México e União Europeia. A avaliação é que os biocombustíveis avançados possam criar até 2,9 milhões de empregos na China, 1,4 milhão nos Estados Unidos e cerca de um milhão de novos postos de trabalho no Brasil.


Revista ISTOÉ




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