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Peixes amenizam mudanças climáticas
Predador marinho permite economia de bilhões de dólares ao reter gases de efeito estufa no oceano

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Baseando-se em pesquisas anteriores com populações de peixes das profundezas, pesquisadores estimam que esses animais capturam e armazenam um milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono das águas de superfície da Irlanda e do Reino Unido todos os anos.

Elizabeth Harball e ClimateWire

Da próxima vez que você for jantar peixe, considere que sua refeição provavelmente te mais valor financeiro como dispositivo de captura e armazenagem de carbono.

Ao atribuir valores em dinheiro ao carbono armazenado em ecossistemas oceânicos, dois relatórios científicos recentes estão tentando fazer países reconsiderar o verdadeiro valor de suas atividades de pesca.

O primeiro deles, uma nova avaliação apoiada pela Comissão Oceânica Global, estima de maneira aproximada que peixes e outras formas de vida aquática em alto mar absorvem dióxido de carbono suficiente para poupar entre US$74 e US$222 bilhões em danos climáticos anuais.

Um segundo estudo publicado recentemente descobriu que, todos os anos, peixes das profundezas do mar no litoral do Reino Unido e da Irlanda capturam e armazenam uma quantidade de emissões de gás carbõnico com valor estimado entre ?8 e ?14 milhões no mercado europeu de carbono, ou cerca de US$20 milhões. 

Cientistas responsáveis pelos dois relatórios alertaram que atividades de pesca e mineração põem em risco a capacidade oceânica de fornecer um recurso massivo e totalmente natural para armazenar carbono.

?Peixes são muitoimportantes para o ciclo global de carbono, mas eles são muito negligenciados?, declara Clive Trueman, da University of Southampton, principal autor do estudo sobre peixes das profundezas.

?Eu realmente acho que para usar nossos oceanos de maneira razoável, precisamos observar todos os serviços que eles fornecem e então identificar os que mais contribuem para o bem-estar humano, e tentar encorajá-los?, adiciona Rashid Sumaila, professor e diretor da unidade de pesquisa econômica de pescarias da University of British Columbia, coautor do relatório da Comissão Oceânica Global.

Sequestro nas salgadas profundezas

O primeiro estudo, conduzido pela University of Southampton no Reino Unido e no Instituto Marinho da Irlanda, traz pistas sobre como ? e em que profundidade ? peixes das profundezas contribuem para a capacidade oceânica de sequestro de carbono.

O fitoplâncton, constituído de minúsculos organismos que compõem a base da cadeia alimentar do ecosistema oceânico, absorve bilhões de toneladas de dióxido de carbono todos os anos. Mas Trueman explica que, como o fitoplâncton vive perto da superfície oceânica, grande parte dos gases de efeito estufa retorna para a atmosfera se eles não forem consumidos por outros organismos marinhos.

Todas as noites,populações imensas de peixes vão até a superfície para se alimentar de fitoplâncton, retornando para as profundezas mais frias do oceano durante o dia. Mas essas espécies não se aventuram fundo o bastante para manter o carbono nas profundezas oceânicas por longos períodos. É aí que entram espécies de peixes assustadores e difíceis de estudar que vivem milhares de metros abaixo do nível do mar.

Ao analisar amostras musculares de peixes das profundezas coletadas na encosta continental Reino Unido-Irlanda, Trueman e seus coautores descobriram evidências de que eles nadam até a superfície e consomem as espécies devoradoras de fitoplâncton que estão em migração com mais frequência do que se pensava.

?Esses peixes predadores estão basicamente capturando animais em migração e armazenando esse carbono ao matá-los e mantê-los nas profundezas?, explica Trueman. ?É só após o carbono fixado pelo fitoplâncton chegar a 100 ou 200 metros de profundidade que ele fica retido e impedido de retornar à atmosfera?.

Com base em pesquisas anteriores de populações de peixes das profundezas, os pesquisadores estimaram que esses peixes capturam e armazenam um milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono das águas superficiais da Irlanda e do Reino Unido todos os anos.

?Nós realmente não sabemos muito sobre eles, e mesmo assim eles fazem algo muito útil para nós?, apontou Trueman.

Serviços valem mais que peixes?

O relatório da Comissão Oceânica Global calcula que organismos oceânicos que vivem em alto mar ? águas fora das zonas econômicas de nações específicas ?absorvem 1,5 bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono da atmosfera todos os anos.

Sumaila e seus coautores usaram as estimativas para o custo social do carbono realizadas pelo Grupo de Trabalho Interagências do Governo Federal dos Estados Unidos para chegar ao valor médio de US$148 bilhões.

Com esse número, o relatório alega que pode fazer sentido proibir completamente a pesca em águas internacionais. O valor total de peixes capturados em alto mar todos os anos chega a US$16 bilhões.

O alto mar compõe cerca de 60% dos oceanos do planeta. Mesmo assim, o relatório afirma que essas vastas águas são adminsitradas por uma complexa e ineficaz rede de órgãos internacionais. Cardumes de peixes em águas internacionais são superexplorados e provavelmente prejudicam pescarias litorâneas, adiciona o documento.

Como resultado, nações que participaram da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, em 2012,encarregaram as Nações Unidas de desenvolver um melhor plano de administração para o alto mar. O relatório da Comissão Oceânica Global, que será formalmente lançado no fim do mês, deve influenciar esse processo.

Sumaila aponta que o valor de US$148 bilhões é apenas uma aproximação, e que a estimativa vai de US$74 a US$222 bilhões, uma diferença bastante vasta.

?Nossas estimativas de captura e armazenamento de carbono em alto mar são preliminares e estão necessariamente sujeitas a um grande nível de incerteza?, informa o relatório, principalmente porque os mecanismos por trás da transferência de carbono no oceano ainda não são completamente compreendidos.

Mas Sumaila adiciona: ?a incerteza é grande, mas as consequências também podem ser muito grandes?.

Republicado de Climatewire com permissão de Environment & Energy Publishing, LLC. www.eenews.net, 202-628-6500
Scientific American Brasil




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