Hoje vou remexer no fundo do baú para falar de um filme que, se é muito mais velho do que grande parte dos que estão me lendo agora, merece a maior atenção por se tratar de uma obra de uma singeleza única.
O filme em questão é Muito Além do Jardim (Being There), uma produção estadunidense de 1979, inspirada no romance O Vidiota, de Jerzy Kosinski, que também assina o roteiro em parceria com Robert C. Jones.
Contando com a direção de Hal Ashby e com elenco de primeira grandeza, a começar pelo nome do genial Peter Sellers (também participam Shirley MacLaine, Melvyn Douglas e Jack Warden), que interpreta o personagem principal chamado Chance Gardner, o filme conta a história de um hábil e dedicado jardineiro que, mesmo residindo na capital da maior potência do planeta, Washington, D.C., vive isolado do restante do mundo, o qual só tem contato através da tela de TV.
Fazendo um breve resumo da trama, depois que seu patrão morre e Chance é obrigado a abandonar a casa, deslumbrado com tantas coisas à sua volta, ele é atropelado acidentalmente pelo carro de uma figura influente da sociedade, que lhe socorre e abriga, conduzindo-o aos bastidores do poder.
A partir daí, a sorte de Chance começa a mudar.
O grande charme do filme é que ele brinca com paradoxos. Ao mesmo tempo em que Chance se caracteriza por uma ingenuidade que não condiz com os tempos modernos, a sua comprovada ignorância se camufla através de poucas falas e utilização de metáforas, que muitos interpretam como sinal de uma imensa sabedoria, fatores que o transformam em figura popular e admirada por todos à sua volta.
Crítica contundente ao poder manipulador da mídia, as mensagens que ficam são inúmeras, como, por exemplo, a transformação de qualquer indivíduo em celebridade instantânea - ainda que, contraditoriamente, Chance estivesse "protegido" desse mal.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
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