Geografia
Marcelo Lopes de Souza é como qualquer militante primitivo de esquerda
Na palestra Da ?arqueologia? à ?genealogia?: balanço e perspectivas dos vínculos entre a geografia e o pensamento libertário, Marcelo Lopes de Souza (2009) passou mais de uma hora a repetir chavões da geografia crítica (embora diga que não pertence a tal linha de pensamento). Sempre preocupado em se mostrar um intelectual sofisticado e politicamente progressista, definiu o tal "pensamento libertário" como uma tradição intelectual que se propõem a fazer a crítica tanto do capitalismo quanto do socialismo burocrático, abrangendo autores como Foucault e Castoriadis, entre muitos outros.
Na sessão de perguntas que se seguiu à palestra, Souza afirmou, entre muitas outras coisas, que o intelectual deve ter espírito crítico, o que significa estar pronto para criticar mesmo os setores politicamente progressistas da sociedade. Para ilustrar essa ideia, ele afirmou que é preciso averiguar se não há problemas de racismo ou machismo no MST e em outros "movimentos sociais"...
Parecia até piada! Afinal, quando se avalia essa fala à luz da política brasileira e internacional, fica cristalino que o elogio de Souza ao espírito crítico não passa de uma hipocrisia que disfarça um dogmatismo e um maniqueísmo incompatíveis com a natureza do trabalho científico.
Realmente, é possível que haja preconceitos de raça e de gênero entre militantes dos ditos "movimentos sociais" (já há muitos estudos sobre relações de gênero nos assentamentos de reforma agrária, por exemplo), uma vez que os integrantes das organizações assim denominadas são pessoas como quaisquer outras. Contudo, existe uma grande abundância de fatos a evidenciar que o preconceito é o menor dos problemas relacionados aos discursos e práticas desses "movimentos". Vejamos a avaliação que José de Souza Martins (2005) fez com base no recente escândalo do "mensalão":
Contra o eventual pedido de impedimento do presidente Luiz Inácio, o atual presidente do PT anuncia que os movimentos sociais serão convocados para defender-lhe o mandato. Justamente aí está um dos aspectos mais problemáticos da história do Partido dos Trabalhadores: a cooptação dos movimentos sociais, como se constituíssem o departamento de agitação social do partido, chamados às ruas por decisão administrativa. [...] A convocação dos movimentos sociais, para supostamente defender o presidente, muda a agenda desses movimentos, que estavam planejando manifestação contra a corrupção. Esse é um sinal de que os movimentos sociais já não existem a não ser como associações de interesses partidários.
Bem ao contrário do que sugerem as críticas de Marcelo Lopes de Souza ao Estado, baseadas em teorias "libertárias" de inspiração anarquista, os ditos "movimentos sociais" vivem de tungar o Estado e, por isso mesmo, são facilmente cooptáveis por partidos como o PT, que age de forma patrimonialista, fisiológica e corporativista.
Incapaz de encarar os fatos que destroem seus pressupostos teóricos e ideológicos, Souza fala como se ter espírito crítico fosse apenas avaliar as organizações de esquerda com o mesmo crivo politicamente correto que elas utilizam para atacar e, não raro, caluniar seus adversários. Assim, ao dizer que é preciso investigar se há preconceito nos "movimentos sociais", ele acaba desviando a atenção dos verdadeiros vícios e perversidades das organizações políticas assim denominadas. Souza tenta afetar sofisticação teórica e espírito crítico, mas a experiência histórica recente revela que ele é tão maniqueísta, dogmático e unilateral quanto os militantes esquerdistas mais simplórios.
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MARTINS, J. S. Entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, 14 ago. 2005.
SOUZA, M. L. Da "arqueologia" à "genealogia": balanço e perspectivas dos vínculos entre a geografia e o pensamento libertário. Palestra proferida durante a V Semana Acadêmica de Geografia. Curitiba: UFPR, 19 out. 2009.
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