INTERNACIONAL
02-01-2008
Japão-Brasil: fluxo e refluxo imigratório
Lytton Guimarães
professor e coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos (Neasia) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB). É Ph.D, doutor e mestre pela Michigan State University.
Em 2008 comemora-se o centenário da imigração japonesa no Brasil. Por decisão dos dois governos, este será também o Ano do Intercâmbio Brasil-Japão, em que serão realizados vários eventos nos dois países. Mas não só a chegada de japoneses no Brasil deve ser lembrada neste ano. Atraídos por oportunidades de trabalho, milhares de nipo-brasileiros foram para o Japão a partir da década de 1980. Portanto, é oportuno examinar brevemente o fluxo e o refluxo imigratório entre os dois países e as suas contribuições.
Conflitos de interesse sobre a Coréia e a Manchúria provocaram a guerra sino-japonesa de 1894-95 e a guerra russo-japonesa em 1904-05. O Japão venceu as duas guerras e aumentou sua influência regional e internacional. Porém, o resultado foi conseguido com enormes sacrifícios, que conduziram o país a uma grave crise econômica. A alta taxa de crescimento demográfico piorava ainda mais as condições de vida. Diante desse quadro, o governo passou a estimular a emigração. O Brasil, com escassez de mão-de-obra, surgia como uma opção.
O primeiro grupo, de 165 famílias japonesas, desembarcou do navio Kasato Maru no porto de Santos no dia 8 de junho de 1908. Muitos desses eram camponeses e pequenos comerciantes, oriundos de regiões pobres do Japão, que vinham trabalhar nas fazendas de café. A partir de então, o Brasil tornou-se o principal destino desses imigrantes na América Latina.
Até o início da 2ª Guerra Mundial, mais de 190 mil japoneses vieram para o Brasil e fixaram-se principalmente nos estados de São Paulo e Paraná e na Amazônia. No começo, os imigrantes enfrentaram preconceito e muitas dificuldades: a língua, os costumes, o clima e a alimentação eram muito diferentes. Os primeiros imigrantes eram dekassegis - trabalhadores que planejavam ganhar dinheiro e, após alguns anos, retornar ao Japão. Entretanto, aqueles que tentavam regressar eram impedidos por seus empregadores. Nessas circunstâncias, muitos deles permaneceram, alcançaram sucesso e contribuíram para o desenvolvimento econômico e o enriquecimento cultural do País.
O movimento emigratório para o Brasil, interrompido durante a 2ª Guerra Mundial, teve novo fluxo entre 1952 e 1993. Durante esse período, vieram para cá mais de 52 mil japoneses. Portanto, fixaram-se no Brasil cerca de 250 mil japoneses nos dois períodos. A colônia nikkey multiplicou-se, e hoje possui mais de 1,5 milhões de nipo-brasileiros. É a maior comunidade de origem japonesa no exterior.
Muitos membros das cinco gerações de nipo-brasileiros tornaram-se famosos por suas relevantes contribuições em diversas áreas: na pintura, na arquitetura, no cinema e nos esportes. O empresariado de origem japonesa desempenha importante papel na economia e na sociedade. Profissionais de origem nipônica destacam-se nas mais variadas atividades: na área acadêmica, na pesquisa científica, na medicina, nas profissões liberais, na política, na diplomacia, na carreira militar e na área jurídica.
Graças à recuperação econômica do Japão e aos altos índices de crescimento da economia brasileira, os anos 1960 e 1970 foram de cooperação entre empresas brasileiras e japonesas. Grandes projetos foram desenvolvidos por joint-ventures. A presença no Brasil de uma grande comunidade nikkey contribuiu positivamente para o dinamismo e êxito desses projetos. Com sua rápida recuperação, a partir de meados de 1980, a economia japonesa apresentava escassez de mão-de-obra. Por outro lado, os anos de 1980 representaram uma década perdida para o Brasil, marcada por baixos índices de crescimento, altas taxas de inflação, moratória e escassez de investimentos.
Essa conjunção de fatores, coadjuvada por modificações das leis de imigração japonesas, incentivaram um fluxo migratório de nipo-brasileiros e suas famílias para o país oriental. Hoje vivem naquele país cerca de 300 mil dekassegis de origem brasileira, a maioria dos quais trabalha em funções que não são atraentes para os japoneses, recebem salários relativamente mais baixos e enfrentam preconceitos e condições muitas vezes precárias - experiência similar a de seus antepassados em terras brasileiras. Mesmo assim, conseguem remeter regularmente parte de seus rendimentos para o Brasil e desse modo contribuem para o desenvolvimento do País. Contribuem também para a difusão da cultura brasileira no Japão e para maior aproximação entre os dois povos.
http://www.secom.unb.br/artigos/at0108-01.htm
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